Rodrigo Zanethi: O Brexit e seus reflexos no Brasil

Governo brasileiro deve estar atento pois, certamente, os EUA estarão e já estão

Por: Rodrigo Zanethi  -  05/02/20  -  20:26
O Brexit e seus reflexos no Brasil
O Brexit e seus reflexos no Brasil   Foto: (Ilustração: Monica Sobral)

Após mais de três anos do plebiscito, discussões, quedas de primeiro-ministro na Inglaterra, artimanhas no Parlamento inglês etc., o Reino Unido inicia seu divórcio definitivo com a União Europeia, começando a tomar corpo o Brexit (Britain Exit). O premiê inglês Boris Johnson classificou a saída não como um fim, mas sim como um “momento de renovação e mudança nacional”. 


Apesar das controvérsias internas (a Escócia, integrante do Reino Unido e vencida no plebiscito, aprovou nova votação para uma possível saída do Reino Unido, além de determinar que a bandeira europeia continue a tremular em seus parlamentos), um período de 11 meses inicia-se onde as partes (Reino Unido e União Europeia) discutirão temas importantes para o fim do relacionamento – dentre eles, a questão do comércio entre o Reino Unido e a União Europeia, a tributação na importação e a livre circulação de mercadorias, sendo que, pelo acordo firmado, terão têm até 1º de julho deste ano para finalizar o acordo, sob pena do “divórcio” ser adiado. 


Para o nosso comércio exterior, acredito que o tema mais importante seria entender qual a política externa comercial que será adotada pelo Reino Unido. À primeira vista, o Brexit carrega em si a aura do protecionismo, o que não pode ser menosprezado pelo nosso governo.


A indústria no Reino Unido é forte e buscará ainda mais se fortalecer, lembrando que os manufaturados é o principal produto exportado pelo Reino Unido para o resto do mundo. Desta forma, acredito que será imposto uma grande proteção à indústria local, principalmente pelo fato de perder a livre circulação de mercadoria dentro do território europeu, sendo que enfrentará uma concorrência maior de outros países europeus. 


Já no setor agrícola e pecuário, o Reino Unido, hoje, é forte e altamente mecanizado, produzindo cerca de 60% do seu consumo interno com apenas 6% da força de trabalho. Contudo, esta força derivava, em grande parte, de subsídio da Política Agrícola Comum da União Europeia, que assegurava o regular abastecimento de alimentos, garantindo aos produtores agrícolas um rendimento de acordo com sua produção – o que, com a saída do bloco, poderá causar um impacto interessante ao Brasil, podendo, neste setor agrícola, onde somos fortes e competitivos, o Brasil buscar uma maior participação neste mercado. 


Entretanto, o governo brasileiro deve estar atento pois, certamente, os EUA estarão e já estão. Como parceiro histórico político do Reino Unido e, também, principal parceiro comercial (a maioria das exportações do Reino Unido vai para os EUA e, na importação, só perde da Alemanha), os EUA obterão facilidades comerciais que nenhum outro país terá, sendo certo que, em breve, um acordo bilateral será anunciado. E obviamente, os EUA buscarão mercado para os seus produtos agrícolas. 


O Reino Unido, pode-se dizer, não é um dos nossos principais parceiros comerciais. Em 2019, exportamos uma diversificada gama de produtos ao Reino Unido, destacando os artigos derivados da pecuária, incluindo os suínos em grande quantidade, e minérios em geral, salientando que o produto mais exportado foi o ouro em barras. Por outra banda, importamos, basicamente, produtos industrializados, sendo que, em termos de valores, chama a atenção a importação de automóveis (Valor FOB - US$ 77.162.825), segundo dados da Receita Federal do Brasil. 


Em minha modesta opinião, entendo haver um campo fértil para um maior intercâmbio entre o Brasil e o Reino Unido, principalmente, como exposto, no campo do comércio exterior – sendo válida, sim, a discussão para a assinatura de um acordo bilateral, amplo e bom para o País, como anunciado pelo Min. Paulo Guedes, em Davos. 


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