Rodrigo Zanethi: A hora do continente africano?

Okonjo-Iweala, nova diretora-geral da Organização Mundial do Comércio, é considerada uma habilidosa negociadora

Por: Rodrigo Zanethi  -  23/03/21  -  18:00
Rodrigo Zanethi: A hora do continente africano?
Rodrigo Zanethi: A hora do continente africano?   Foto: Ilustração: Padron

Contrariando, em parte, as minhas expectativas, já que acreditava que seria uma mulher e do continente africano (apostei na candidata do Quênia, Amina C. Mohamed), a OMC tem um novo diretor-geral, a dra. Okonjo-Iweala, ex-ministra das Finanças da Nigéria (por duas vezes), além de ter acumulado, por um curto período, o Ministério das Relações Exteriores daquele país. Além destes cargos, ela atuou no Banco Mundial e, recentemente, como representante da União Africana na busca de recursos financeiros para o combate à COVID-19 na África. É considerada uma habilidosa negociadora e, por suas posições, leva a crer que acredita no poder do comércio para tirar os países em desenvolvimento da pobreza e ajudá-los a alcançar um crescimento econômico forte, além de um desenvolvimento sustentável.


Em meu modesto entendimento, esta escolha, além dos atributos pessoais, demonstra que a OMC busca que o comércio internacional lance um novo olhar a um velho mercado, esquecido e pouco difundido, qual seja: o continente africano. E, para tanto, o continente africano apresenta ao mundo o seu acordo de livre comércio, conhecido pela sigla em inglês AfCFTA que, em tradução, é o Acordo de Livre Comércio Continental Africano, em vigor desde maio de 2019. Este acordo envolve 52 países, atingindo basicamente mais de um quarto da população mundial e um PIB de cerca de US$ 2,5 trilhões, sendo que, quando definitivamente implementada, será a maior área de livre comércio do mundo em número de membros.


O objetivo do acordo é o de estimular o desenvolvimento econômico e social dos países membros e a criação de uma cultura de acesso a mercados não só entre os membros do grupo, abrindo a seus produtores a facilidade de angariar consumidores no exterior. Hoje, o comércio exterior africano, responsável por apenas 3% do mercado global, é voltado à exportação de petróleo, minérios e carvão, sendo que a troca interna, isto é, dentro do próprio continente, é pequena, não alcança 20% do comércio entre eles. Na Europa, por exemplo, aproxima-se de 70%.


Entendo que este acordo, agora com a presença forte de uma africana na OMC, deve fazer com que os países africanos exportem bens industrializados e serviços – o mais importante é a possibilidade de integração destes países na cadeia global de produção, através do fornecimento de matérias-primas para a produção de bens de consumo. Aliado a tudo isso, obviamente ante o aumento do comércio, haverá novos investimentos para a região que ainda necessita e muito. E todos esses dados se tornam importantes pois o comércio internacional é um importante catalisador para a erradicação de pobreza, vide os casos de sucesso na Ásia, onde essa interconexão global levou ao nascimento e ao crescimento da China. Assim, o acordo pode impulsionar o comércio internacional na África.


Ressalte-se ainda que, ante a terra virgem comercial africana avistada, importantes instrumentos, como o Acordo de Facilitação do Comércio da OMC, possuem um campo de inserção gigante, diante da necessidade de harmonização e simplificação das normas de comércio – o que leva a OCDE entender que a sua implementação aumentaria o número de produtos exportados da África Subsaariana em 16%, ampliando ao mesmo tempo o número de destinos de exportações em 28%.


Em relação ao ambiente marítimo e portuário, a África apresenta um potencial gigante de crescimento. Grandes empresas do setor já investem em portos no território africano e a movimentação de contêineres cresce nos portos egípcios, marroquinos e sul-africanos. Assim, com o fim da pandemia, o comércio internacional tem obrigatoriamente que crescer e novos mercados são interessantes e a África pode surgir como este futuro éden do comércio internacional.


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