Pesquisadores da Unifesp descobrem recife de corais mais austral do Atlântico

Localizado a 32 km da costa de Itanhaém, na Ilha da Queimada Grande, recife tem cerca de 5 mil anos ricos de histórias naturais

Por: Fernanda Balbino & Da Redação &  -  24/02/19  -  22:46
Recife se encontra na parte submersa da Ilha da Queimada Grande, a 32 km da costa de Itanhaém
Recife se encontra na parte submersa da Ilha da Queimada Grande, a 32 km da costa de Itanhaém   Foto: Reprodução/Facebook

A descoberta casual de um tesouro de cerca de 5 mil anos abriu um leque de oportunidades para pesquisadores do Laboratório de Ecologia e Conservação Marítima (LabecMar), do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em Santos. Trata-se do recife de corais mais austral do Oceano Atlântico, localizado a 32 quilômetros da costa de Itanhaém, na parte submersa da Ilha da Queimada Grande.


O local é bastante conhecido pela presença de uma única espécie de serpente, conhecida como jararaca-ilhoa, que só existe ali e tem um veneno bastante potente. Porém, em um mergulho realizado por pesquisadores do LabecMar, uma nova e rica realidade foi descoberta.


“Em 2015, a gente tinha um projeto de monitoramento e, num daqueles mergulhos, saímos da água com a impressão de ter visto uma estrutura e questionando que ela era diferente do costão rochoso da ilha propriamente dito. Uma das questões que levantaram essa bola é que a gente encontrou ali nódulos de algas calcárias, que são rodolitos. E era algo que eu já vinha pesquisando há um bom tempo. A gente não acreditava no que existia na literatura científica, que rodolitos ocorriam no Estado de São Paulo até então”, disse o pesquisador Guilherme Pereira Filho.


A partir daí, os professores iniciaram estudos para identificar o tipo de fundo daquela região. Com isso, perceberam que as algas calcárias estavam crescendo sobre fragmentos de coral. “Ele está localizado na face mais abrigada da ilha, virada para o continente e se estende por toda essa face da ilha”, explicou o pesquisador.


Antes, o recife mais ao Sul do Brasil que se tinha notícia ficava a cerca de mil quilômetros ao Sul do Banco dos Abrolhos, no Sul da Bahia e Norte do Espírito Santo. Portanto, até a descoberta do recife da Ilha da Queimada Grande não se conhecia ou não se tinha estrutura recifal descrita para nenhum outro lugar da região Sudeste.


Raridade


E, segundo os pesquisadores, uma das causas para que isto aconteça é a temperatura da água. Aqui na região, ela varia entre 18 e 25 graus, com picos ainda mais frios em determinados períodos do ano. Já nos recifes localizados no Nordeste, a temperatura é mais alta.


“Em termos de estrutura recifal, que é a construção do fundo, a diferença basicamente é o número de espécies. No Nordeste se tem um número muito maior de espécies corais que formam os recifes, enquanto na Ilha da Queimada Grande a estrutura é formada por uma única espécie, que é a Madracis decactis. Mesmo que ocorra outra espécie, ela não faz parte da construção em si”, destacou o pesquisador do LabecMar.


Estudos prosseguem


Após a descoberta do recife da Ilha da Queimada Grande, os pesquisadores do Laboratório de Ecologia e Conservação Marítima (LabecMar) pretendem descobrir as características que propiciaram, há cerca de 5 mil anos, o desenvolvimento da estrutura rara.


“O motivo pelo qual ele ocorre ali é o que queremos responder, o que a gente está tentando com outro conjunto de dados, mas a gente não sabe ainda. O que imaginamos é que existiam condições oceanográficas muito distintas das condições atuais em um outro momento, em que esse recife cresceu mais rapidamente. Quais eram essas condições é o que a gente tem tentado responder daqui para frente”, disse o pesquisador Guilherme Pereira Filho.


Para isso, os pesquisadores do LabecMar têm atuado em parceria com outras instituições, em colaboração. Professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, da Universidade Federal do ABC, da Unicamp, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo.


Segundo o pesquisador Fabio Motta, do LabecMar, a área marinha do entorno da Ilha da Queimada Grande ainda não havia sido alvo de estudos mais detalhados. No local, são comum atividades de pesca amadora e comercial e o mergulho contemplativo.


Nessa crosta do recife vivem de pequenos invertebrados até tartarugas marinhas e peixes de diversas espécies e tamanhos, incluindo eventuais raias. Portanto, há, ali, um mosaico de ambientes, que incluem um costão rochoso, fundo de areia e recife de coral, que proporciona riqueza de vida na Ilha da Queimada Grande.


“Um fato curioso é que normalmente as tartarugas verdes são as mais abundantes no litoral de São Paulo, mas, na Queimada Grande, é frequente a avistagem de tartarugas de pente, espécies que preferem ambientes de recifes de coral”, disse Motta.


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