Nove anos depois, família de Camilla clama por justiça

A bartender foi morta a bordo de navio de cruzeiros. Principal suspeito é o ex-namorado, que está desaparecido

Por: Fernanda Balbino & Da Redação &  -  29/07/19  -  00:49
Após morte de Camilla, sua mãe, Rosangela, trava luta sem fim
Após morte de Camilla, sua mãe, Rosangela, trava luta sem fim   Foto: Arquivo/ AT

Quase dez anos após o assassinato da bartender Camilla Peixoto Bandeira, a bordo do navio MSC Musica, onde trabalhava, a família da vítima ainda aguarda a detenção do ex-tripulante Bruno Souza Bicalho Vale Ricardo, ex-namorado da jovem e o principal suspeito do crime. Ele é um dos mais procurados do Brasil pela Interpol. 


A morte aconteceu em 10 de janeiro de 2010, quando o navio seguia para o Porto de Santos. No início das investigações e durante quatro meses, a Polícia Federal (PF) trabalhou com duas hipóteses para o caso: suicídio ou homicídio. 


Na época, Bruno tentou convencer a PF de que ela havia se suicidado com um lençol amarrado no pescoço. O garçom manteve o mesmo discurso nos cinco depoimentos prestados às autoridades, inclusive durante a segunda reconstituição do crime, realizada a bordo, na qual estava presente. 


Porém, por conta de declarações discrepantes, as investigações tomaram outro rumo. A ausência de Bruno do bar onde trabalhava minutos antes da morte de Camilla, o fato de a moça ter decidido desembarcar no mesmo dia em que morreu e um histórico de brigas e agressões relatados por amigos levaram a PF a indiciar Bruno em 2011. 


Pareceres técnicos indicando que o corpo de Camilla nunca esteve pendurado e os ferimentos no pescoço da jovem também foram indícios contra o ex-tripulante. Ainda foram colhidas declarações de oficiais e da enfermeira do MSC Musica, que foram os primeiros a ter acesso à cabine do casal logo depois do crime. 


“Todos os indícios apontaram para ele como responsável pela morte da Camilla e, até hoje, quase dez anos depois, ele está por aí. Não temos informação sobre o seu paradeiro e nem quando ele vai pagar pelo que fez”, afirma Rosangela Bandeira, a mãe da bartender assassinada. 


Rosângela ainda trava uma batalha trabalhista com a armadora. “Tivemos várias vitórias, mas, um dia antes do aniversário da minha filha, sofremos uma derrota após recurso da MSC. Seguimos na luta”, diz Rosangela.


Camilla morreu há 9 anos a bordo de cruzeiro. Ex-namorado é principal suspeito e está foragido
Camilla morreu há 9 anos a bordo de cruzeiro. Ex-namorado é principal suspeito e está foragido   Foto: Divulgação

Pistas


Não há informações sobre o paradeiro de Bruno Souza Bicalho Vale Ricardo. Uma testemunha relatou tê-lo visto em Machu Picchu, no Peru, onde estaria atuando como guia turístico. “Faz todo sentido porque ele fez Turismo, mas não tivemos retorno das autoridades peruanas e ele já pode estar longe de lá. Também desconfiamos que ele possa estar no Leste Europeu”, afirma Rosangela.


Procurado, o Ministério Público Federal (MPF) informou que o réu está foragido e é um dos mais procurados do País. O órgão ainda informou que “outras medidas têm sido adotadas para que o acusado seja localizado e, assim, o julgamento tenha continuidade”.


No entanto, não foram reveladas quais são as ações: “O caso tem recebido atenção prioritária no MPF em Santos”.


Procurada, a MSC Cruzeiros preferiu não se posicionar sobre as declarações da mãe de Camilla.


Mãe cria ONG para ajudar tripulantes


“Há quem diga que eu vivo em uma sepultura. Mas o que me move, o que me motiva todos os dias é tentar ajudar pessoas que são vítimas desse submundo dos cruzeiros”. A afirmação é de Rosangela Bandeira, mãe da tripulante Camilla Peixoto Bandeira, morta a bordo do MSC Musica. Ela criou a Organização de Vítimas de Cruzeiros (OVC) e luta por direitos ou apenas dignidade para os trabalhadores do alto-mar. 


Rosangela diz que perdeu as contas de quantas denúncias de tripulantes e ex-tripulantes já recebeu. Jornadas exaustivas de trabalho, relatos de desrespeito e até desaparecimentos ou crimes. A lista é longa, mas não há punições.


“É uma luta desigual. As empresas são muito poderosas e brigar com elas é muito difícil. Não há um ano sem uma ocorrência em navios de cruzeiro no Brasil. Em toda temporada, acontece alguma coisa”, destaca a fundadora da OVC.


Há anos, Rosangela e o filho, José Bandeira, trabalham para a aprovação de um projeto de lei que garanta melhores condições de trabalho aos tripulantes. Eles já participaram de diversas audiências em ministérios e em comissões de direitos humanos em diversos estados do País. 


“Os tripulantes não são como os aeronautas, que são mais unidos. Não são aquaviários e não têm quem os represente, além de estarem espalhados pelo País. Eu sofro junto com cada caso”, destaca a mãe de Camilla. 


Entre os casos citados por Rosangela estão o de uma tripulante que pediu socorro para desembarcar fora do País e, também, o da brasileira que morreu na Itália e teve o corpo retido por oito meses até a entrega a seus familiares. 


“O trabalhador não tem valor algum, a preocupação com a vida humana é vexatória, desumana. Eles atuam com desprezo e artimanhas. A impressão que eu tenho é que só se dá bem quem é errado ou corrupto”, afirma a criadora da organização. 


Denúncias de tripulantes de navios de cruzeiros, passageiros ou familiares podem ser feitas através do site da entidade criada por Rosangela: ovc-brasil.blogspot.com.


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