Mulheres ainda enfrentam desafios para atuar no Porto de Santos, dizem trabalhadoras

Em áreas operacionais, preconceito é menor, segundo funcionárias de terminais do cais santista

Por: Fernanda Balbino & Da Redação &  -  08/03/20  -  15:40
Para Sintia Sousa, mulheres precisam incentivar outras mulheres a buscar vaga no Porto
Para Sintia Sousa, mulheres precisam incentivar outras mulheres a buscar vaga no Porto   Foto: Divulgação/Tiplam

Trabalhar, cuidar da casa e dos filhos faz parte do cotidiano de milhões de mulheres brasileiras. Mas, as que atuam em funções predominantemente masculinas, como no setor portuário, precisam de algo a mais. Provar que são capazes e impor opiniões são rotina para garantir o sucesso profissional.


“Eu acho que o maior desafio é a mulher ter sempre que se afirmar, se impor. É uma coisa que eu posso dizer de três décadas e elas, mais novas no mercado, continuam vivendo isso”, destacou a superintendente chefe de gabinete da Autoridade Portuária de Santos, a antiga Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), Jacqueline Wendpap.


A executiva é mãe de três filhas e perdeu as contas de quantas vezes precisou se virar para conseguir desempenhar todas as funções. Em uma das passagens, ela relembra que não tinha com quem deixar as crianças e precisava comparecer à uma audiência, já que atuava como advogada de um sindicato portuário. O jeito foi levá-las ao julgamento. 


“Deixei duas sentadinhas, assistindo à minha sustentação, e uma no carrinho. No meio, a bebê começou a chorar. Ficou aquele climão no tribunal. Eu pedi licença, uma pausa. Ela estava com a fralda suja. Eu troquei a fralda e voltei... Essa é a superação da mulher”, conta. 


A operadora multimodal do Terminal Integrador Portuário Luiz Antonio Mesquita (Tiplam), Taís Souza, que trabalha de turno, também se desdobra para cuidar da família, principalmente dos dois filhos. Mas nada disso é problema quando se ama o que faz.


“Os maiores desafios são os nãos que a gente ainda encontra pelo caminho. Mas as mulheres não podem se contentar e devem buscar o sim porque ele chega e é bem merecido”, afirma. 


A mesma opinião tem a operadora de RTG da DPW Santos, Fabiana Nascimento Almeida, que precisou insistir por uma vaga de trabalho no Porto de Santos. Ela aponta que não enfrenta preconceitos dos colegas de trabalho.


Mas garante que muito disso se deve à sua postura profissional. “A gente tem que ter uma força na voz ao se impor. Se eu estou nesse cargo, é porque eu entendo o que eu falo”, enfatiza.


Algumas pessoas ainda ficam surpresas quando encontram a supervisora de Manutenção de Vagões do Tiplam, Sintia Sousa, nas linhas férreas do Porto de Santos. “Eles não esperam um mulher nessa função”.


Há mais de dez anos na empresa, ela coordena uma equipe de 41 pessoas, que conta apenas com duas mulheres. “Alguns padrões culturais foram alterados. Há um longo caminho a ser percorrido, mas sou otimista. Não existe mulher que não pode exercer alguma atividade. Independentemente do sexo, elas são capazes de tudo”. 


É preciso incentivar outras mulheres


Mulheres precisam incentivar outras mulheres. Mostrar que todas são capazes e que o Porto de Santos as espera. As trabalhadoras que atuam no cais santista são unânimes nesta opinião. E apontam dicas para quem quer entrar nesse mercado.


Sintia procura incentivar outras mulheres, a começar pelas suas subordinadas. Ela procura levá-las a campo e empoderá-las diariamente.“Recebo mensagens de mulheres que se inspiram com a minha história. É isso que dá forças para fazer o meu trabalho e estar presente no campo”, destacou a supervisora da VLI.


Para Fabiana, a chave do sucesso é qualificação. Ela ainda não se contentou com o cargo. Ela aguarda a abertura de uma vaga de operadora de portêineres no terminal. Os equipamentos fazem o carregamento de contêineres nas embarcações.


E, ao mesmo tempo, ajuda outras mulheres e galgarem novos postos na empresa. “Estimulo colegas de trabalho, incentivo todas as virem. Ensino, para que elas se promovam para a minha função. Eu gostaria muito de ter outras junto comigo”, destaca.


Mesmo com todas as barreiras impostas pela sociedade, é preciso acreditar. É o que garante Taís. “Todas são capazes. Aquelas que não se sentem capazes precisam buscar uma qualificação e se empoderar. Se qualifiquem, sejam determinadas e venham para o Porto”, destacou a operadora. 


Já a superintendente chefe de gabinete da Autoridade Portuária de Santos aponta as características feminina, como cuidado e zelo, que reduzem as chances de acidentes. “A mulher precisa acreditar que ela pode”. 


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