Mulher conquista independência financeira e autoconfiança como Operador de Equipamento no Porto

Daniela dependeu do marido por mais de 20 anos e resolveu se separar após descobrir uma traição

Por: Isabela dos Santos & De A Tribuna On-line &  -  02/10/19  -  14:28
A motorista afirma que as pessoas ficam surpresas quando menciona seu ofício
A motorista afirma que as pessoas ficam surpresas quando menciona seu ofício   Foto: Daniela Feijó/Arquivo pessoal

Daniela Feijó tem 40 anos e trabalha como motorista no terminal portuário da DP World Santos desde outubro de 2017, no cargo batizado de Operador de Equipamento tipo 1. Sua função é armazenar contêineres e realizar a pesagem das unidades. Ela foi a primeira mulher a ingressar em sua equipe que conta com cerca de 25 homens.


A realização profissional estava longe de ser pensada, porque por pouco mais de 20 anos se dedicou totalmente à família. Não possuía nenhum curso no currículo, muito menos concluiu os estudos, pois aos 16 anos engravidou do primeiro filho. Desde então dependia financeiramente do marido que atua como motorista de ônibus, e era responsável por cuidar da casa. O desejo de trabalhar aflorou quando descobriu um episódio de traição e pensou na separação. 


"Fiquei desesperada. Pensava: meu Deus do céu, vou ser uma mulher separada sem ter nada no currículo. Então comecei a fazer cursos mesmo estando casada, porque sabia que uma hora iria pedir a separação. Ele não gostava de me ver estudando, dizia que eu não precisava, ficou com medo. Mas eu continuei! Não queria passar necessidade nem ficar presa no relacionamento”, afirma. 


Por pouco mais de 20 anos, Daniela se dedicou completamente à família, sem ter um currículo profissional
Por pouco mais de 20 anos, Daniela se dedicou completamente à família, sem ter um currículo profissional   Foto: Daniela Feijó/Arquivo pessoal

Durante dois anos, ela fez curso de bombeiro civil, vigilante e de serviço de emergência. “Eu percebi, até tomando meu ex-marido como exemplo, que homem ganha mais em relação às mulheres. Então fui para áreas com predominância masculina”, explica. 


Nesse período, ela também resolveu investir na direção, como já possuía a Carteira Nacional de Habilitação, tirou a carteira D e logo depois conseguiu a E. Quando descobriu outra traição do marido, resolveu se separar mesmo desempregada. Para pagar as despesas, fez bicos como bombeira e em outubro de 2017 a Embraport a chamou. 


“Falei que meu sonho estava se realizando. Fui fazer o teste e no momento que pisei no acelerador da carreta senti medo, mas pensei: ‘Não posso dar o gosto para meu ex-marido dizer que eu não consegui. E até hoje trabalho lá. Digo que foi um milagre! Sempre fui de cuidar da casa, dos filhos e como o marido ganhava bem, não precisava trabalhar até porque ele não deixava”, afirma. 


A virada do jogo - Em contraponto às situações mencionadas quando era dona de casa, Daniela fala de um episódio que se orgulha, no qual se sentiu independente e autoconfiante. “Quando me casei, na minha profissão constava dona de casa. Mas no momento de assinar o divórcio falei para mudar para motorista. Estava toda orgulhosa”, relembra.  A paixão pela carreta era antiga. “Eu não sei por que achava as carretas fascinantes. Já gostava de dirigir carro, mas ficava observando esses veículos maiores”.


Daniela foi a primeira mulher a ingressar em sua equipe
Daniela foi a primeira mulher a ingressar em sua equipe   Foto: Daniela Feijó/Arquivo pessoal

Daniela foi a primeira mulher a ingressar em sua equipe. Atualmente, conta com mais três companheiras e diz que se sente acolhida. Ela afirma que as pessoas ficam surpresas quando fala da sua profissão. “É um barato! Quando digo que sou motorista, todo mundo pensa que é de aplicativo, acham que dirijo carro mesmo, ninguém imagina que é uma carreta. Quando eu revelo, eles fazem  cara de espanto, mas logo em seguida a maioria fala: caramba tu é corajosa, hein?". 


Dessa longa trajetória, ela diz se sentir feliz e independente. "Eu vi que não devo ter medo. Agora eu sou uma mulher independente, pago minhas contas, resolvo os problemas sozinha. Antes era tudo o ex-marido. Olha, estou bem melhor, viu?", brinca. 


Atualmente ela mora com o pai e consegue se manter com o próprio salário, e, com o dinheiro, ainda ajuda a família quando pode. Com toda a vivência, a motorista compartilha com outras pessoas."Eu comecei a incentivar outras mulheres também. Conto minha história e falo pra não abaixar a cabeça para homem nenhum. Para minha filha também. Não quero que ela pense em ficar com o marido porque depende financeiramente dele. Agora ela pode contar com a minha ajuda”, finaliza.


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