Milton Lourenço: Uma nova política externa

Nesta edição da coluna, o empresário e agente de carga logística aborda a importância de aumentar o comércio com parceiros que não dependam de benefícios do BNDES

Por: Milton Lourenço  -  15/06/19  -  14:39

O quadro recessivo em que se encontra a Argentina deveria servir de alerta para o governo brasileiro, embora a crise no país vizinho seja bem mais acentuada. No Brasil, pelo menos não há descontrole de preços nem deficit de conta corrente. Mas não se pode prever até quando esse quadro permanecerá estável, se a economia não passar por um ajuste fiscal, que não pode se resumir na reforma da Previdência, que é necessária, mas que isoladamente não será suficiente para movimentar todos os setores. Mais: se o Produto Interno Bruto (PIB), neste segundo trimestre, vier a ser, mais uma vez, negativo, tecnicamente o País entrará em estado de recessão.


Como se sabe, a indústria brasileira há muito tempo depende, em grande parte, das compras que a Argentina faz. E a atual previsão de recessão de 2,2% projetada para a Argentina em 2019, estimada por técnicos do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), já começa a reduzir a expectativa de crescimento da indústria brasileira.


Segundo dados do Ibre-FGV, as compras de produtos industrializados pela Argentina, entre janeiro e abril de 2018, haviam crescido 8% na comparação com o mesmo período do ano anterior, mas, após a chegada da crise a partir de maio, houve uma queda brusca de 30%. Só no primeiro trimestre de 2019, a queda nos embarques do Brasil para a Argentina foi de 48% em comparação com o mesmo período de 2018.


Para reverter essa tendência, é preciso que se defina o quanto antes uma política que inclua a derrubada de barreiras tarifárias ao comércio e aos investimentos entre o Brasil e os países sul-americanos, bem como um amplo acordo com o México, o que não significa esvaziar o Mercosul, que, bem ou mal, tem absorvido 9% de nossas exportações e sido fundamental para que a situação não tenha chegado a níveis ainda mais alarmantes.


Por enquanto, o que se viu, de maneira importante, foi a decisão do governo brasileiro de se reaproximar dos EUA, de Israel e de outros centros tecnológicos, numa tentativa de levar o Brasil a absorver inovação e competitividade, o que significa importar mais máquinas e insumos de qualidade, abandonando em contrapartida a política Sul-Sul, que privilegiava as relações com nações menos desenvolvidas e que acabou por causar muitos prejuízos ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).


Com o apoio dos EUA, o Brasil agora espera poder fazer parte, em breve, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne 36 economias entre as mais pujantes do planeta. Mas, até agora, o governo Trump manteve o seu bloqueio à adesão de novos membros. Mas, independentemente dessa reaproximação, é de se notar que os EUA já absorvem 12% das nossas exportações.


O governo anuncia também a abertura de frentes bilaterais com países de potencial, como Polônia, a economia que mais cresce na União Europeia, Emirados Árabes Unidos, Alemanha, Arábia Saudita, Hungria, Itália, Marrocos, Nigéria, Nova Zelândia e Suíça. O que se espera é que essa preocupação inclua uma diplomacia mais ativa com vistas a equacionar os problemas que até agora impediram a assinatura de um acordo entre o Mercosul e a União Europeia, que absorve 16% de nossas vendas.


O governo não pode deixar ainda de procurar aprofundar o relacionamento com a China, que absorve 23% das exportações, especialmente de soja, petróleo, minérios e carne, o que deixa clara a possibilidade de se aumentar o acesso dos produtos brasileiros, especialmente daqueles ligados ao agronegócio, já que os manufaturados poucas chances têm de entrar no mercado asiático. Em outras palavras: o importante é aumentar o comércio com parceiros que não dependam de benefícios do BNDES.


Tudo sobre:
Logo A Tribuna
Newsletter