Milton Lourenço: Porto de Santos, um oásis em meio à crise

A situação é difícil, mas é preciso enfrentá-la

Por: Milton Lourenço  -  08/06/20  -  20:05

O Porto de Santos foi, é e continuará sendo de vital importância para a economia e o desenvolvimento do Estado de São Paulo e, consequentemente, do Brasil, considerando-se que por ele passam 27% do comércio exterior do País. Com localização geográfica privilegiada, apesar de seu calado pouco profundo, deficiência que é compensada pela proximidade com a região que responde por 67% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, o porto santista cresce mesmo na adversidade, como mostram os números da movimentação de cargas em abril, mês em que a crise provocada pela pandemia de coronavírus (covid-19) estava em seu início.


De acordo com dados da Gerência de Tarifas e Estatísticas da Santos Port Authority (SPA), a movimentação de cargas em abril foi a maior da História, com 13,4 milhões de toneladas movimentadas, número que superou em 5% o recorde anterior de 12,8 milhões de toneladas, registrado em outubro de 2019. Os números mostram ainda que houve um aumento de 26,8% em comparação com o mesmo mês de 2019. E que o porto movimentou até abril deste ano 45 milhões de toneladas, o que significa um aumento de 9,8% em comparação com o mesmo período do ano passado. Obviamente, a tendência, segundo a SPA, é que os fluxos de cargas do porto venham a registrar, nos próximos meses, os efeitos da pandemia.


De qualquer modo, está claro que, passando-se essa fase, o porto deverá retomar os números dos primeiros meses deste ano, pois, embora as distâncias entre a produção e o cais santista pareçam logisticamente inadequadas à operação, a realidade é que outros fatores devem ser levados em consideração. É o caso da excelente infraestrutura disponível nos modais de transportes rodoviário e ferroviário, além, é claro, da oferta de linhas marítimas regulares e de alcance mundial, que tornam a opção pelo terminal mais do que uma questão de preferência, mas de custos e atendimento de prazos.


São esses os motivos que, até para surpresa de alguns empresários, levam o Porto de Santos a ser visto, nestes dias difíceis, como uma “miragem” no atual deserto a que vários negócios estão atualmente relegados. 


Mas, infelizmente, se do porto chegam notícias alvissareiras, não se pode ter o mesmo otimismo com outro importante setor da economia, o do petróleo, que há poucos anos trouxe grande euforia para a Baixada Santista. Como se sabe, houve na região a instalação, pela Petrobras, de importante estrutura operacional, que hoje, após os desmandos ocorridos naquela empresa, parece condenada à ociosidade. 


As consequências desse descalabro estão à vista de todos, com a transferência de sete plataformas de exploração e produção de petróleo e gás natural para o Rio de Janeiro. Tudo isso deverá provocar um forte baque na economia da região, pois cerca de mil trabalhadores terão de se mudar para o Rio de Janeiro. Além disso, o edifício administrativo da Petrobras, construído na região do Valongo na década passada, já foi esvaziado, com a consequente eliminação de mais de mil postos de trabalho. Sem contar que a Petrobras já desativou voos do aeroporto de Itanhaém para o de Jacarepaguá. 


Obviamente, parece claro que toda a Baixada Santista sofrerá as consequências dessa pandemia. Afinal, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê uma retração global de 3%, a maior desde a crise de 1929, o que significa que o Brasil não poderá contar com o setor externo, também severamente afetado. 


Para piorar, o País vive um clima de instabilidade política, com trocas constantes de ministros e provas inequívocas de incompetência administrativa por parte da cúpula ministerial, além de desavenças entre o Executivo e o Legislativo e entre o presidente da República e governadores. Quer dizer, a situação é difícil, mas é preciso enfrentá-la.


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