Milton Lourenço: Para sair do fundo do poço

A atual recessão, provocada pela pandemia de coronavírus (covid-19), é a pior dos últimos 40 anos, de acordo com estudos da Codace, ligado ao instituto Ibre da FGV

Por: Milton Lourenço  -  11/07/20  -  22:02

Estudo elaborado pelo Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), órgão ligado ao Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostra que a atual recessão, provocada pela pandemia de coronavírus (covid-19), é a pior dos últimos 40 anos, considerando-se que não há dados sobre a retração que marcou a chamada Grande Depressão de 1929, que é apontada como o período recessivo mais grave do século XX. Criado em 2004 com o objetivo de analisar os ciclos econômicos do País, o Codace, em seus estudos, leva em conta dados de produção, renda, emprego, vendas e outros fatores coletados desde 1980.


Segundo o estudo, a produção industrial de transformação no primeiro trimestre deste ano, em relação ao consumo de 2019, caiu 31,3%, as vendas do comércio varejista baixaram 27,1% e o setor de serviços sofreu uma retração de 17,3%. Mais: nesse período, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro caiu 1,5%, mas as projeções para o segundo semestre prevêem uma queda em torno de 10%. 


Hoje, poucos economistas se atrevem a projetar qualquer índice para o terceiro trimestre, já que não se sabe se ainda haverá uma segunda e terceira ondas de contágio da covid-19. E tampouco se tem ideia da eficácia das vacinas que os laboratórios vêm procurando produzir para combater a pandemia.


Mesmo assim, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), fundação vinculada ao Ministério da Economia, prevê queda nas exportações entre 11% e 20% até o final do ano, estimando que as vendas caiam para um patamar inferior a US$ 200 bilhões. É de se lembrar que, em 2019, período em que se registrava sinais de recuperação da recessão iniciada em meados de 2014, as vendas para outros países chegaram a US$ 225 bilhões. 


Já a Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima uma queda de 8,25% no volume das exportações, o que equivale a US$ 18,9 bilhões. Para as importações, a previsão do Ipea é de uma queda ao redor de 20% em 2020 em comparação com 2019. Obviamente, tanto a demanda de exportações como a de importações deverão se dar de modo gradual em todo o planeta, no período pós-pandemia.


Apesar desse panorama incerto e dessas previsões um tanto catastróficas, o que se pode dizer, pelo menos especificamente na área de serviços de comércio exterior, é que, por enquanto, o setor tem mantido o ritmo das operações de importação e exportação, mesmo com a intensificação do trabalho home office. Em outros segmentos, como os setores farmacêutico e de equipamentos hospitalares, por questões óbvias, tem ocorrido uma notável expansão. Mas também as exportações de commodities agrícolas, proteínas animais e minério de ferro têm registrado evolução significativa, em especial pelas compras efetuadas pela China.


Diante disso, seria recomendável que o governo federal estabelecesse uma nova diretriz para a política de comércio exterior, ampliando a participação do setor no PIB, hoje ainda muito reduzida, se compararmos o Brasil, por exemplo, com nações como o México, que tem uma economia muito mais internacionalizada. Para tanto, o País teria de aproveitar o fato de o dólar hoje estar mais valorizado em relação ao real, o que, certamente, beneficia e estimula a exportação, permitindo que sejam oferecidos ao mercado externo produtos com maior poder de competição. 


Com respaldo do governo federal e o restabelecimento de uma política de divulgação dos produtos nacionais no exterior por meio de participação em feiras e congressos, o empresariado pode voltar a investir com maior ímpeto na produção, buscando a ampliação cada vez mais bem estruturada de nossas vendas externas, como fator de equilíbrio e desenvolvimento para a economia nacional.


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