Milton Lourenço: Covid-19: cenário pós-pandemia

A reação a esse período de dificuldades depende em larga medida do esforço que nós, brasileiros, possamos fazer nesse sentido

Por: Milton Lourenço  -  18/04/20  -  23:19

Como todo mundo deve estar farto de saber, houve uma enxurrada de informações transmitida por jornais, emissoras de rádio e televisão e redes sociais sobre o desenvolvimento do processo de contaminação provocado pelo coronavírus (covid-19), que atingiu a população do planeta. Ao mesmo tempo, os governos tiveram de empreender ações de combate a essa pandemia, que tem reflexos na vida de todos os habitantes do mundo, já que houve necessidade de se fechar estabelecimentos industriais e comerciais, com o intuito de preservar as pessoas do contágio.


Foram medidas drásticas, mas necessárias, pois, a princípio reduziram a quantidade de pacientes. Mas, hoje, infelizmente, o que se constata é que as alas dos hospitais recém-destinadas aos doentes infectados pela covid-19 já estão com a sua capacidade de atendimento quase esgotada. Para piorar, é de se lamentar que a saída do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta tenha se dado mais por suas virtudes do que por seus defeitos, até porque sua competência técnica nunca foi colocada em xeque. 


O que parece claro é que sua demissão decorreu da ação do presidente Jair Bolsonaro, que, aparentemente, quis esvaziar a possível candidatura de um concorrente na eleição de 2022. Já o sucessor de Mandetta, Nelson Teich, embora seja médico de reconhecida capacidade, não parece dispor de penetração política para angariar o respaldo necessário ao desempenho de suas funções. 


Não bastasse esse cenário desolador, não há como imaginar o que ocorrerá quando o número de doentes estiver controlado, o que já seria uma grande vitória. Imediatamente após obtermos o controle dessa pandemia, será necessário dar início aos negócios na intensidade do tempo anterior à crise, de forma a neutralizar os seus efeitos, ainda que as previsões dos órgãos internacionais não sejam favoráveis. 


Claro que temos de levar em consideração essas previsões, como a possível queda de 5,3% de nosso Produto Interno Bruto (PIB) em 2020, indicada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), mas precisamos também olhar com otimismo para o Relatório Focus do Banco Central do Brasil, que tem uma previsão menos catastrófica, na casa de 2%.


Dentro desse panorama, não há como o comércio exterior brasileiro deixar de sofrer tais impactos, que, obviamente, também atingem seus parceiros comerciais. De fato, as projeções do FMI para esses países não são animadoras, pois preveem quedas superiores à prevista para o Brasil: Itália, 9,15%; Espanha, 8%; França, 7,2%; Alemanha, 7%; México, 6,6%; Reino Unido, 6,5%; e EUA, 5,9%. Mesmo para os países que ainda mantém previsões positivas de crescimento, como China e Índia, esses percentuais são baixos – 1,2% e 1,9% –, pois essas nações vinham operando com índices de dois dígitos, 


A magnitude da crise talvez seja apenas comparável à da Grande Recessão de 1929. Mas, seja como for, é em momentos-limites como o que vivemos que aparecem as grandes oportunidades. O que se espera é que o Brasil aproveite o período pós-crise para encetar uma nova trajetória, pois dispõe de agricultura fortíssima e de parque industrial com alta capacidade de produção, além de mão de obra capacitada e numericamente compatível com as exigências de um boom de produção. 


Por certo, o empresariado vai precisar contar com uma taxa de câmbio favorável, o que é possível, já que, com a crise, o real se desvalorizou. Ao mesmo tempo, espera-se que os governos da União, dos Estados e dos municípios façam um esforço conjunto para devolver aos agentes econômicos a sua força produtiva, oferecendo ajuda financeira, pois só assim será possível gerar riquezas e pagar tributos. Em outras palavras: a reação a esse período de dificuldades depende em larga medida do esforço que nós, brasileiros, possamos fazer nesse sentido. Mãos à obra. 


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