Milton Lourenço: O futuro pós-pandemia

Com a colaboração de todos, com certeza, iremos superar essa crise

Por: Milton Lourenço  -  11/05/20  -  21:13

“A esperança equilibrista” em que nós, brasileiros, vivemos há tantos anos nunca parece ter fim e, num momento como este de profunda tristeza pela morte do poeta Aldir Blanc (1946-2020), precisa ser restabelecida nestes dias de tão baixa estima popular. Para aprofundar esse poço de amargura em que o Brasil parece estar enfiado, outro artista de grande expressão, Flávio Migliaccio (1934-2020), também nos deixa, por vontade própria, por absoluta falta de esperança neste País.


Mas, apesar de todos esses percalços, temos que dar andamento à vida, pois, se não podemos nos esquecer dos mortos, muito menos podemos fazê-lo com relação aos vivos e sobreviventes dessa pandemia de coronavírus (covid-19). Enfim, é responsabilidade de todos e, em especial dos empregadores, que se esforcem ao máximo para manter os seus colaboradores e, com isso, sustentar um momento tão difícil como o atual. 


É claro que todos os setores ligados ao Porto têm sentido os impactos dessa nova realidade, pois os prejuízos chegaram a todos os modais. Embora ainda seja prematuro fazer projeções quanto ao volume total de perdas e suas consequências para as empresas e para o País, sabe-se que a fase pós-pandemia poderá se assemelhar ao período pós-Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando o Estado, em todos os países, teve de entrar pesadamente na economia, de que melhor exemplo foi o Plano Marshall, o programa norte-americano de reconstrução dos países europeus aliados.


Por muitos anos, os portos foram a principal entrada de doenças contagiosas e Santos, em razão de sua importância comercial e histórica, teve momentos de dificuldades com a gripe espanhola (1918-1920) e outras enfermidades de grande abrangência e relevância. Mesmo hoje, como verificamos, os navios ainda trazem seus tripulantes e passageiros infectados com a covid-19, para que passem por tratamento nos hospitais locais.


Não há o que reclamar, pois essas são as circunstâncias e as características da Cidade para bem e para o mal. Mas o que precisamos fazer é desenvolver uma ação, sempre a mais científica e inteligente possível, sem demagogia, para abrandar ao máximo os efeitos deletérios à saúde pública na Cidade, protegendo todos, mas com uma visão muito especial em relação aos seus habitantes.


Dentro dessa proteção, a condição econômica, de emprego e renda, é fundamental. Por isso, todo apoio e proteção devem ser canalizados, juntamente com a preocupação com a saúde pública, à preservação ao emprego. Nesse sentido, os empresários e todos as forças econômicas da Cidade devem se engajar nesse esforço de manter ao máximo os seus colaboradores, não como favor ou caridade, mas como saída viável para que essa crise não deixe um rastro de destruição ainda maior. Afinal, a destruição econômica da Cidade, já tão exaurida durante tantos anos, seria o maior dos erros. 


Nesse sentido, é de suma importância que as autoridades públicas reconheçam a importância do trabalho dos portuários e de todos aqueles profissionais que vivem do dia a dia no Porto, como os agentes fiscais, os despachantes e seus ajudantes, os caminhoneiros e tantos outros, porque são eles que garantem a entrada dos insumos e equipamentos necessários ao combate a essa misteriosa pandemia. 


Obviamente, entre todos esses profissionais, que superam a marca de 30 mil pessoas, há o medo da contaminação porque, a exemplo dos profissionais de saúde, estão diretamente em contato com a possibilidade de contrair a virose. Por isso, é necessário garantir que todos os procedimentos de higiene sejam rigorosamente cumpridos tanto a bordo das embarcações como nas áreas interna e externa do Porto, em restrita obediência às diretrizes internacionais. Com a colaboração de todos, com certeza, iremos superar essa crise.


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