Marinheiro morre de Covid-19 após desembarcar em Macapá

Segundo tripulantes do cargueiro, o marítimo apresentou sintomas da doença vários dias antes do falecimento e não foi removido pela empresa para atendimento em terra

Por: Fernanda Balbino  -  26/03/21  -  21:06
Atualizado em 26/03/21 - 21:16
Marinheiro era tripulante do navio desde 2019
Marinheiro era tripulante do navio desde 2019   Foto: Divulgação

Um marinheiro de máquinas do navio Log-In Polaris morreu de Covid-19 logo após desembarcar em Macapá (AP). Segundo tripulantes do cargueiro, o marítimo apresentou sintomas da doença vários dias antes do falecimento e não foi removido pela empresa para atendimento em terra. Outros profissionais também apresentaram suspeita de contaminação.


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João Clementino Costa Junior era tripulante da Log-in desde 2019. De acordo com relatos de marítimos que estavam na mesma embarcação, os sintomas de covid surgiram muito antes do falecimento.


Na ocasião, o Polaris, que atua apenas na cabotagem, o transporte de cargas na costa de um mesmo país, estava no porto de Itajaí (SC), onde João Clementino embarcou, já com sintomas. Porém, a bordo, o quadro se agravou e, mesmo passando por diversos complexos portuários, o tripulante não foi desembarcado para atendimento médico adequado.


Segundo marítimos ouvidos pela Reportagem, a embarcação passou por portos como Santos, Suape (PE) e Pecém (CE), já que seguia rumo a Manaus (AM). “Em Macapá, onde entra no delta do rio, ele teve que descer porque já estava praticamente morto. Chegou no hospital apenas para morrer”, afirmou um tripulante que pediu para não ser identificado.


Segundo o profissional, o comandante da embarcação sabia do quadro de saúde de João Clementino e havia pedido o desembarque do tripulante doente em Santos, mas a armadora não autorizou. “A empresa hesitou porque pararia o navio e causaria prejuízo. Uma vida foi perdida, uma vida não salva porque a empresa teria prejuízo”.


Ele ainda aponta que isto já aconteceu também em outras embarcações da companhia. “Realmente, a empresa nos coloca para fazer exame, nos deixa de quarentena em hotel de luxo. Mas isso não é suficiente para evitar contaminações porque a embarcação recebe visitas, para em portos. Só empenho para evitar a contaminação não é suficiente”, afirmou o tripulante, apontando a necessidade de desembarque imediato dos profissionais doentes.


Armadora


Em nota, a Log-In Logística Intermodal informa que lamenta profundamente a morte do marinheiro, que aconteceu na última sexta-feira (19). “A companhia afirma que assim que tomou conhecimento dos sintomas do marítimo agiu imediatamente com atendimento de saúde a bordo, comunicado à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e rápido desembarque do tripulante para receber atendimento hospitalar”.


A armadora destaca ainda que, desde o início da pandemia, vem adotando um plano de ação no contingenciamento da covid-19, cumprindo todos os protocolos sanitários da Anvisa, que vão desde o pré-embarque até o desembarque de sua tripulação. E que essas medidas são atualizadas rotineiramente, conforme o cenário da pandemia.


“A Log-In reitera seu profundo pesar pela morte de João Clementino e informa que está prestando toda a assistência necessária aos familiares do colaborador neste momento de tristeza e dor”, informou a empresa, em nota.


Procurada, a Anvisa não respondeu aos questionamentos da Reportagem até o fechamento desta edição.


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