Mar vira refúgio durante a pandemia

Atividades náuticas são alternativa aos que buscam relaxar longe de aglomerações e evitar o contágio pela covid-19 na região

Por: Matheus Müller & Da Redação &  -  24/01/21  -  21:11
O Iate Clube de Santos informou ter se surpreendido com o crescimento de 20% na venda de embarcações
O Iate Clube de Santos informou ter se surpreendido com o crescimento de 20% na venda de embarcações   Foto: Rogério Soares

O mar tem servido de refúgio para muitos que buscam relaxar longe de aglomerações e evitar os riscos de contágio por covid-19. Este é o motivo para o crescimento na procura por atividades náuticas durante a pandemia. Mesmo com a falta de números para exemplificar o momento, a Capitania dos Portos, a Prefeitura de Guarujá, marinas e empresas de locação de embarcações afirmam: o aumento é relevante.


Quem observa de perto esse cenário é o empresário e capitão amador Herman Junior, fundador do portal INavigate, que atua com informações meteorológicas, dicas e orientações sobre navegação, além de agregar 40 grupos de WhatsApp com a marca Mayday, para troca de experiências, pedidos de socorro e alertas.


“Até pouco antes da pandemia, o cara que tem o veleiro ou uma lancha num final de semana ia para o mar, no outro para o interior, para o shopping ou para uma festa dos amigos. Hoje não, estão saindo muito mais para o mar, e as pessoas que não têm embarcação procuram (alugar) para poder sair”, afirmou.


Para os próximos anos, ele prevê um crescimento de até 500% na locação de lanchas e veleiros e de 70% para a venda.


O Iate Clube de Santos (ICS) informou, em nota, ter se surpreendido com o crescimento na venda de embarcações novas e seminovas – aponta um aumento de 20%, com base nos dados das empresas que vendem e alugam lanchas no local.


“Esse fenômeno se acentuou quando as pessoas perceberam que a pandemia não teria solução rapidamente. Acredito que o setor náutico tem hoje um comportamento similar ao mercado imobiliário, que está aquecido na compra e aluguel de casas de praias e no interior. As pessoas estão procurando passar a pandemia da melhor maneira possível”, diz o Iate Clube.


Com o maior movimento de embarcações, a entidade revela que o aumento na venda de combustível é a primeira consequência, assim como os serviços correlatados. “São boas notícias para uma rede de fornecedores e prestadores de serviços instalados em torno do clube”.


Cultura náutica


Herman explica que o INavigatee grupos Mayday têm como objetivo, também, difundir a atividade náutica que, segundo ele, não é explorada em Santos, apesar das muitas opções de passeio e áreas de lazer na região. “Santos não tem cultura náutica e não entendemos por quê”.


O capitão armador aponta que o impacto da pandemia nas atividades náuticas surpreende. Herman afirma que não tem como mensurar o crescimento, mas revela que os pedidos para a emissão da carteira de arrais (habilitação da Marinha, que dá o direito de pilotar embarcações) criaram uma fila de espera. “Em novembro, liguei para um amigo despachante (náutico) e ele disse que só tem vaga para fazer arrais em março”.


Restrições são empecilho, dizem marinas


Dois são os fatores que motivam o crescimento da atividade náutica, segundo empresas de locação de lanchas procuradas pela Reportagem: a pandemia e a temporada de verão. Ao mesmo tempo em que a demanda está alta, as restrições a 40% da capacidade das embarcações se tornam um empecilho.


Pablo Rey Charles, dono da Sea Boat Aluguel de Lanchas, revela que uma embarcação para 10 pessoas sai com quatro clientes e o marinheiro, por exemplo, o que reduz o rateio entre os interessados e, naturalmente, eleva os custos. Apesar disso, ele conta que não tem o que reclamar. “Aumentou bastante a locação, na área náutica em geral desde o começo da pandemia”.


Thalia Raquel Maltempi é dona de uma embarcação e trabalha em uma marina. Assim como Pablo, ela revela que o interess e é bom, mas poderia ser ainda melhor, se não fossem as restrições de capacidade.


Ela revela que a cidade de Guarujá tem realizado diversas fiscalizações, o que tem motivado os donos de lanchas as levarem para outras marinas, em cidades vizinhas, como para Bertioga.


Guarujá tem aumento de movimentação


A Prefeitura de Guarujá também confirmou o aumento na atividade náutica, assim como das vistorias. O município informa que o decreto 13.435 regulamenta a locação e prática do lazer náutico na Cidade.


“Desde 2018, a Prefeitura tem um convênio com a Marinha para fiscalização náutica. No acordo, as competências passaram a ser compartilhadas, cabendo aos agentes municipais a fiscalização, ainda na faixa arenosa, da documentação das embarcações e dos condutores”.


Em dezembro do ano passado foram realizadas 1.134 vistorias às embarcações, destas 38 tiveram que retornar. Já neste ano, até o último dia 10, foram 864 vistorias e 40 retornos. Para esta temporada, o município conta com uma embarcação que faz o patrulhamento em uma área de 200 metros antes da arrebentação.


“No mar, você sente maior liberdade”


O advogado tributário,Thiago Aló, conseguiurecentemente a carteirade arrais - pouco antesde a demanda teraumentado -, e alugouuma lancha no últimosábado de 2020. “Achoque a pandemia eesse período trancadoem casa ajudou (nesseinteresse). No mar, vocêsente maior liberdade”.


Ele conta que alguns membros da família são ligados ao mundo náutico, porém, antes, não havia despertado o interesse, que dessa vez, segundo ele, surgiu naturalmente. “Conhecio (capitão armador)Herman e outras pessoas que vão muito para o mare tive essa vontade”.


Agora que teve a primeira experiência sobo comando de umaembarcação, o advogado garantiu que a intenção é repetir a dose. Aló também acredita queo setor tem muito a evoluir. “Acho que tende a crescer (a atividade náutica),especialmente nessaquestão de poder alugarem vez de comprar, deter a experiência semser dono”, diz.


Aindade acordo com ele, algoque pode melhorar éa divulgação dessesserviços. “Não conheçointermediadores nessenegócio, como corretores de imóveis. (Mas) acredito que seja uma tendência, pois Santos é uma cidade em que a população tem um poder aquisitivo bom”.


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