Giovanna Machado: O agronegócio e um antigo paradoxo: a logística brasileira

É evidente que estamos extremamente atrasados quando a questão é infraestrutura logística. Depende não só do setor privado, mas também da iniciativa do Governo

Por: Giovanna Machado  -  24/11/20  -  21:55
Giovanna Machado: O agronegócio e um antigo paradoxo: a logística brasileira
Giovanna Machado: O agronegócio e um antigo paradoxo: a logística brasileira   Foto: Ilustração: Padron

Seja no transporte rodoviário, ferroviário ou marítimo, o agronegócio se faz presente. Mas como é a eficiência do setor logístico no Brasil, ante um dos setores mais importantes da nossa economia?


O agronegócio sempre teve um papel essencial na história do nosso país. Mesmo em tempos de graves crises políticas e econômicas, vem confirmando seu papel propulsor da economia. É um setor econômico de avanços, com enormes perspectivas para o futuro. O Brasil é o terceiro maior exportador agrícola do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da Europa. A alta demanda do mercado internacional, a produção elevada e o empreendedorismo dos produtores brasileiros merecem destaque, mas de nada adianta esse conjunto ser perficiente, se a etapa de transporte não for eficiente.


De acordo com a Confederação Nacional dos Transportes (CNT), a maior parte das cargas transportadas no Brasil está relacionada ao agronegócio. Isso tem aspectos muito positivos, contudo, os aspectos negativos pesam – e muito – na balança. Um dos grandes problemas enfrentados na logística brasileira é a dependência excessiva do modal rodoviário. Hoje, mais de 60% da produção nacional são transportadas por estradas.


Se fizermos uma análise entre o Brasil e o maior exportador agrícola mundial – Estados Unidos –, veremos que, enquanto em nosso país, 74% da produção de soja são transportadas por rodovias, nos Estados Unidos a proporção é de apenas 1%, devido aos investimentos em hidrovias e ferrovias desde o século 19.


Considere a dimensão do Brasil, sua quantidade de habitantes. Não é à toa que somos o 5° maior país do mundo, com 8,51 milhões quilômetros quadrados. Acontece que apenas 12% da nossa malha rodoviária contam com pavimentação. Buracos, lama, congestionamento não são causadores de ineficiência para o setor, mas desencadeiam elevados custos logísticos. Entretanto, o problema não se limita apenas às estradas.


Na chegada aos portos, a estrutura disponível para acondicionamento, manuseio e transporte dos produtos também é insuficiente. O resultado? Entregas onde os atrasos são frequentes e o frete possui alto valor. Nesse ínterim, as ferrovias e os modais hidroviários não são utilizados como poderiam ser. 


Grande parte das exportações de commodities passa pelo Porto de Santos. Em 2019, as exportações no Porto atingiram aproximadamente 94,5 milhões de toneladas, com forte influência dos embarques de produtos agrícolas.


Embora o sistema portuário tenha se desenvolvido nos últimos anos, ainda assim apresenta falhas. Se por um lado temos a força e a grandeza do agronegócio impulsionando a economia do país, do outro lado, temos a impossibilidade de atender de forma satisfatória às necessidades do setor.


É evidente que estamos extremamente atrasados quando a questão é infraestrutura logística. Depende não só do setor privado, mas também da iniciativa do Governo. Para sanar os gargalos, sejam eles de investimentos, físicos ou institucionais, é necessário que o Governo Federal olhe com mais atenção para os modais de transporte. 


Podemos observar cada vez mais o envolvimento da categoria privada no que diz respeito a investimentos nos portos públicos e também aos investimentos aplicados na criação de novos portos privados. Isto é, o desenvolvimento de infraestrutura e da logística precisa ser viabilizado para acompanhar o ritmo crescente do setor agrícola. O agronegócio precisa de soluções mais rápidas e eficazes.


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