Frederico Bussinger: Muitas batalhas à frente

Em todos os casos, a logística é nevrálgica, como também tem se mostrado na batalha da saúde

Por: Frederico Bussinger  -  03/04/20  -  21:11
Há grandes e novos desafios para o setor à frente
Há grandes e novos desafios para o setor à frente   Foto: Carlos Nogueira/ AT

“Para todo problema complexo existe sempre uma solução simples, elegante, plausível e completamente errada” (H. L. Mencken)


1.000.000 de casos confirmados! Essa dramática marca foi ontem alcançada: cresceu 52% em uma semana, e 11,2 vezes em março. Mais de 50 mil mortes, mas saudemos os 209 mil recuperados: 4 por 1! O Brasil deve ultrapassar 10 mil hoje: 159% e 5.000 vezes, respectivamente. Nas regiões da maioria desses casos, as chuvas foram escassas. Maestro Jobim: quem “fechou o verão” foi a Covid-19. E começamos um abril sombrio clamando e augurando “promessa de vida no (nosso) coração”!


A temporada foi também inundada por uma infopandemia: misto de orientações necessárias com fake news e notícias distorcidas. Ao que tudo indica, porém, o encarniçado Fla X Flu nesse front perde fôlego, tendo prevalecido a tese do isolamento social, também encampada pela maioria da população. A exceção, claro, de enormes contingentes das 39 atividades essenciais (Dec. nº 10.282/20) que nos atendem; internados e em quarentena.


Passada a perplexidade do pós-Carnaval, parece dominante a percepção de que o impacto da Covid-19 transcenderá a saúde (direito constitucional: art.196): alcançará e mudará diversas dimensões da nossa vida pessoal, familiar, profissional, social, política, econômica, tema dos dois primeiros artigos dessa série.


Destaque-se o transporte, tanto mobilidade (pessoas) como logística (carga, serviços e informação), foco da coluna. Alguns são impactos apenas emergenciais, como no transporte urbano e a aviação, até como resultado e “comprovação” da quarentena: demandas de ônibus, trens e metrôs reduziram-se à metade, ou menos, nas metrópoles brasileiras; voos em Guarulhos de cerca de 870 para 137 (16%), e passageiros de 146 mil para 18 mil (12%) em um mês; Congonhas não operará voos comerciais em abril.


Outros, porém, podem durar, como os serviços de delivery (restaurantes, farmácias, etc) que “estão bombando”. Da mesma forma que as vendas pela internet que se diversificaram. Ah! Quanto tempo será gasto para se repactuar os contratos descumpridos, tanto públicos como privados?


Em resposta, há medidas também emergenciais, como a renda mínima de R$ 600 (MP-936/20: “Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda”); orçamento específico e paralelo (“Orçamento de Guerra”); e flexibilização do teto de gastos, da execução orçamentária e do calendário escolar. Tudo sob marcos de “Estado de Calamidade” (Dec. Leg. nº 6/20; e Lei nº 13.979/20). Mas há outras que tendem a perdurar, como a flexibilização de leis trabalhistas e alteração de regimes de contratação.


O desafio imediato é a manutenção dos fluxos das cadeias de suprimento. Para tanto, é vital a garantia da saúde e, pode intrigar, da mobilidade e logística para seus próprios prestadores, como dos serviços essenciais. Mormente dos portos, que sustentam as exportações brasileiras, e do transporte rodoviário, responsável por mais de 2/3 da nossa matriz de transportes: prover-lhes alimentação, combustíveis, manutenção, local de descanso, assistência médico-hospitalar é condição sine-qua-non.


Em síntese, apesar de notícias de que “tem aumentado o número de pessoas na rua”, a batalha do curtíssimo prazo (saúde e auxílio emergencial aos desassistidos) parece ter definido seu rumo. 


Outras batalhas, em particular a do abastecimento da população e da anti-recessão econômica, porém, estão apenas começando. E, em ambos os casos, a logística é nevrálgica; como também tem se mostrado na batalha da saúde.


Há grandes e novos desafios para o setor à frente!


Logo A Tribuna
Newsletter