Frederico Bussinger: Logística para um novo superciclo de commodities

Cresce o número de analistas que entendem estarmos adentrando a um novo superciclo de commodities, como ocorrido no início deste século

Por: Frederico Bussinger  -  27/02/21  -  19:00
Atualizado em 27/02/21 - 19:08

"A carga vaiaonde a demanda está” -parodiando Milton Nascimento: “Nos bailes da vida".


A economia mundial encolheu em 2020: Espanha retraiu 11%; Inglaterra, 9,9%; França, 8,3%; Alemanha, 5%. A Europa ficou 6,8% mais pobre; o Japão, 4,8%; e os USA, 3,5%. Dos países da OCDE, Coreia do Sul teve o menor percentual (1,3%) e a China o único positivo, 2,2%. Para o Brasil, estima-se queda de 5 %.


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Era, pois, de se esperar um fluxo de comércio internacional declinante, particularmente de commodities, matérias-primas imprescindíveis para quase tudo que é produzido e consumido. Mas entre os principais exportadores não foi o observado, Brasil à frente. Ao contrário, recordes sucessivos em quase todos os portos do País: os dados até OUT/20 indicaram crescimento agregado de 3,64%.


Como explicar esse aparente paradoxo? É possível que a competência dos gestores das autoridades-administradoras tenha contribuído. Mas o certo é que: i) exportou-se mais porque havia o que ser exportado - é curial!; ii) porque produziu-se mais; iii) porque havia margem na capacidade portuária e logística disponível; e, tudo, iv) estimulado pela elevação acelerada do preço das commodities, em dólar: ao longo da pandemia, p.ex., minério de ferro, 90%; aço, 118%; petróleo, 55%; milho, 60%; e soja, 54%.


Há controvérsias! Mas cresce o número de analistas que entendem estarmos adentrando a um novo superciclo de commodities, como ocorrido no início deste século: haveria novos investimentos (fortemente demandantes de commodities) decorrentes da combinação de oferta contida, demanda reprimida ao longo da pandemia, mudanças de padrão de consumo e produção e gigantesca liquidez no mercado financeiro mundial. Poder-se-ia acrescentar a ampliação de estoques estratégicos que alguns países estariam fazendo, preocupados com as tensões geopolíticas internacionais.


Daí uma pergunta inevitável: estaria a logística brasileira preparada para esse novo superciclo de commodities, caso ele efetivamente ocorra?


Filas de caminhões e carretas, de até 8 km, em Miritituba (PA), talvez ajudem a explicar o aumento de 70% no frete rodoviário da soja de Sorriso-MT. E ambas as notícias não são bons presságios.


Tampouco os 45% de aumento do frete marítimo da soja entre Santos-China, ou dos contêineres, que saltou de U$ 2 para US$ 10.000/TEU, na raiz das preocupações da CNI, que identifica na concentração a principal causa.


Há preocupações na China, maior cliente de minério, com o cumprimento das entregas, seja por limitações portuárias, seja ferroviárias. Essas também com implicações domésticas: como a EFC disponibilizará “janela” de 20-25 Mt/ano para cargas outras, de terceiros; o desenvolvimento da FNS, VLI, FICO e FIOL, para as quais a EFC é hoje a única ligação ferroviária aos portos do Arco Norte, que podem estar comprometidos.


O imbróglio das malhas ferroviárias, entre a Serra e o Complexo Portuário da Baixada Santista, caso não equacionado com celeridade, pode também limitar os planos de expansão das concessões ferroviárias e do próprio Complexo Portuário; ambos no caminho crítico logístico das commodities.


A logística brasileira tem se mostrada resiliente, capaz de encarar desafios e gerar soluções sempre que se apresentam. Portanto, ainda que não esteja preparada, seu histórico indica que soluções serão encontradas. A questão, pois, precisaria ser reformulada: com que logística esse eventual superciclo de commodities seria recebido? O que precisaria ser feito para o Brasil tirar dele o maior proveito para sua economia, seu desenvolvimento e para sua população?


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