Frederico Bussinger: CPI!

Nesta edição da coluna, o consultor, engenheiro e economista fala sobre corrupção, privilégio e ineficiência

Por: Frederico Bussinger  -  11/05/19  -  01:18

Não! Não se trata de Comissão Parlamentar de Inquérito. Esta CPI apenas sintetiza: corrupção, privilégio e ineficiência, corrosiva trilogia que integra o DNA do imbróglio a que chegamos, e no qual o país patina há algum tempo.


Erros? Efeitos colaterais negativos? Também! Mas poucos negam os recentes avanços no combate à corrupção e na implementação de medidas profiláticas. Será ela varrida do mapa? Certamente não! Porém o sarrafo subiu para os contumazes praticantes.


No quesito privilégios, poucos avanços reais. Mas o tema já está sob holofotes: a reforma da Previdência resultante dará boa medida do quanto queremos efetivamente nos tornar um país menos desigual em termos de remunerações, benefícios e aposentadorias. Mas o cardápio é mais amplo: quem desconhece, por exemplo, casos de privilégios em tramitações de processos administrativos, licitatórios e judiciais? Em tributação e incentivos fiscais? Em reservas de mercados? Nas universidades? Em espaços nos meios de comunicação?


No front da ineficiência, todavia, o terreno está quase inexplorado, ainda que amplamente disseminada: elefantes brancos, de Norte ao Sul do país, são sintomas de ineficiência na locação de recursos. Milhares de obras paralisadas, públicas e privadas, indicam ineficiência no planejar e gerir empreendimentos. Retrabalhos também. Há ineficiência na manutenção dos ativos de infraestrutura e de serviços, na operação, no atendimento ao cliente. Uma peculiaridade: ineficiente é, quase sempre, do outro!


Quando o tema entra na roda, mão de obra é geralmente apontada como a causa principal. E o é! Educação pública deficiente e qualificação seletiva o explicam em boa parte. Mas para tais ineficiências, estruturais e sistêmicas, a contribuição de planejadores, legisladores, licenciadores e executivos, públicos, privados e do 3º setor é bem maior. O que falta para que essa elite o assuma e decida mudar o jeito habitual de fazer as coisas?


Ah! A CPI não escapa do Fla-Flu vigente: há os que creem que corrupção é a raiz de todos os males e, se eliminada, nossas mazelas desapareceriam para sempre. Há aqueles que pensam o mesmo dos privilégios. Poucos da ineficiência; talvez por sua complexidade. Só que, submetidos a raio-X, observa-se que os 3 componentes são interdependentes e, até, se retroalimentam: corrupção normalmente gera privilégios; estes produzem ineficiência; esta pode ser caminho para corrupção; e assim por diante. Pode-se discutir o peso relativo; mas todos os três têm contribuído com enormes perdas para a nação e o povo brasileiro.


Sim; corrupção, privilégios e ineficiência estão disseminados, em distintos graus, de uma forma ou de outra, em inúmeros segmentos dos processos produtivos, distributivos e de relacionamentos na sociedade, em geral. Mas a infraestrutura é caso particular por não escapar de nenhum dos três: você não lembraria, de bate-pronto, de algum exemplo? Até de casos com os três em conjunto?


Portos, energia, ferrovias, saneamento, rodovias, transporte urbano têm suas peculiaridades. Mas, como pano de fundo, paira o tripé CPI: enfrentá-lo no mínimo aumenta a eficiência no solucionar os enormes passivos que temos nesses e em outros segmentos infraestruturais. Mas pode até ser condicionante sine-qua-non.


Essa cruzada bem valeria um pacto nacional, ou não?


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