Frederico Bussinger: Cluster de celulose; quiçá laboratório de gestão portuária

Nesta edição da coluna, o consultor, engenheiro e economista fala sobra o resultado da consulta pública da Antaq

Por: Frederico Bussinger  -  01/11/19  -  20:42
Tribunal de Contas analisou cobrança da tarifa sobre movimentação de cargas em terminais portuários
Tribunal de Contas analisou cobrança da tarifa sobre movimentação de cargas em terminais portuários   Foto: Carlos Nogueira/AT

25/OUT/2019. Cerca de 150 pessoas. Na mesa os três diretores da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), o secretário de Portos e seu adjunto, cinco executivos de órgãos federais e o Superintendente de Inteligência de Mercado da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp). Na pauta da audiência pública, dois arrendamentos para celulose na área outrora ocupada pela Libra: editais anunciados para o 1º trimestre de 2020.


No “teatro de operações” (expressão da cultura militar) algo bem mais complexo. Na verdade, uma empreitada no mínimo penta-dimensional: Cluster: concentrar cargas similares, por área, é justamente o espírito do “zoneamento” nos Planos de Desenvolvimento e Zoneamento (PDZs). Mas é, também, diretriz da atual gestão. Para tanto, além das novas licitações, como essas, planeja-se migrações de outros terminais. Celulose seria, apenas, o primeiro desses processos.


Compartilhamento de berço: impõe esforços de coordenação. Mas faz todo sentido visando “otimizar infraestrutura”, diretriz do art. 3º - I, da Lei dos Portos.


Está no cerne do modelo de “condomínio portuário”; e é praticado, p.ex, no Tegram do Porto do Itaqui-MA: quatro operadores compartilham-nos, mas cada qual dispõe de armazenagem própria.


Produtividade: além dos berços, a modelagem estabelece metas/compromissos para melhoria de indicadores de produtividade. P.ex; aumento do giro nos terminais; e redução à metade no tempo de operação dos trens.


Rearranjo dos acessos terrestres: como deseja-se que 80% das cargas acessem os novos terminais por ferrovia, um amplo rearranjo na região Macuco-Ponta da Praia será necessário (com implicações também sobre o rodo-viário); rearranjo sendo discutido, em paralelo, pela Codesp, Rumo/Portofer e terminais.


Só que, como “a velocidade do comboio é a do navio mais lento”, a elevação dos padrões de eficiência operacional precisa alcançar, também, a ferrovia Serra-entrada do Porto, e daí até o Macuco. Ou seja; três trechos/malhas com suas peculiaridades; e mais o futuro do contrato da Portofer ainda indefinido. Esse caleidoscópio certamente explica o porquê 2/3 das 17 manifestações na Audiência abordaram ferrovia (com preocupação)!


Concorrência: a implementação dessas ações é essencial, tanto para aumento de capacidade do Porto de Santos visando atender à crescente exportação de celulose, como um dos instrumentos para que suas operações possam ser saudavelmente competitivas com as da Embraport: esta vem de iniciar operações com celulose em instalações com capacidade prevista da ordem de grandeza daqueles dos dois terminais em licitação, somadas. Além de ter maior autonomia de gestão, inclusive de mão de obra.


Trata-se de um empreendimento complexo, multifacetado; o que exige planejamento e coordenação de ações e cronogramas. Mais ainda porque as intervenções serão feitas com o Porto operando; sempre um risco para os atuais usuários. 


Um enorme desafio que faz lembrar o malabarista de circo que mantem vários pratos simultaneamente girando. Ademais, envolve múltiplos atores: tanto privados (terminais, concessionários, TPAs, caminhoneiros, população contígua, etc.), como públicos (concedentes, gestores, reguladores, controladores, prefeitura).


Ou seja, o Cluster de Celulose quiçá seja um verdadeiro laboratório de gestão portuária! Muito importante, pois, saber que há “abertura para se ajustar a modelagem”, e que a audiência pública não é apenas para “cumprir tabela”, como enfatizaram vários componentes da mesa.


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