Frederico Bussinger: A virtude está na propriedade ou na autonomia portuária?

Nesta edição da coluna, o consultor, engenheiro e economista fala sobre semelhanças e contrastes entre dois modelos de portos

Por: Frederico Bussinger  -  31/05/19  -  18:16

"No método científico, tão ou mais importante que a demonstração é a formulação de hipóteses" - Poincaré.

"Não importa se o gato é branco ou preto, o que importa é que ele cace ratos" - Deng Xiaopin.


Muitos não entenderam nem o porquê nem a explicação: se coincidência ou não, o certo é que a apresentação sequenciada dos planos para os portos de Santos e Açu-RJ (Prumo; LLX até 2013) na FIESP permitiu, por semelhança e por contraste, método caro aos pedagogos, ter-se nítida visão dos dois modelos que hoje convivem sob o Art. 21, XII, f da CF. 


Aliás, as duas claras, abrangentes e bem estruturadas exposições também contribuíram para explicar novas tendências pós Lei de 2013: I) crescimento da movimentação de “cargas de 3º” (eufemismo para usuários quaisquer) mais acelerado nos TUPs que nos terminais dos portos públicos; II) grande maioria dos arrendamentos concluídos é para cargas dedicadas – verticalização na logística. Essa aparente inversão de papeis é explicável (objeto de futuro artigo).


Quem não se ofuscou com os “market share”, “IPO”, “capital dredging”, “spin off”, etc observou que ambos falam de coisas futuras muito parecidas. A Codesp, inclusive, em ) “pensar todo o Estuário” (reparando os sucessivos contorcionismos na fixação da poligonal); e em II) promoção do Porto, como cabe a uma AP que se preze: parabéns!


Entretanto, enquanto o Açu, escoimado das heranças da Lava Jato, voa em cruzeiro, Santos depende de “n” fatores para concretização das boas intenções. Enquanto a Codesp depende de “instâncias superiores” para definir planos estratégicos, tarifas, arrendamentos (licitação, formalização e gestão), p.ex; a Prumo já tem seis parcerias estratégicas firmadas (por negócios sinérgicos, e com SPEs individualizadas, da qual é acionista). Ou seja, a Prumo é um TUP apenas no papel: na prática é uma autoridade portuária (e das “puro sangue”!): define planos/projetos, estrutura “funding” para obras infraestruturais, executa-as, contrai empréstimos, controla o tráfego, se associa para alavancar investimentos em atividades associadas (5 mil hectares reservados!), promove o porto; etc.


Chamou atenção que, se a Codesp pretende abrir seu capital, a Prumo vem de fechá-lo. Se a Codesp modela concessão não apenas da dragagem, mas da integral gestão da infraestrutura aquaviária, a Prumo enaltece a gestão autônoma (do empreendimento) e integrada (do porto) – certamente variável central a explicar os resultados apresentados; algo de que os portos públicos foram sendo privados e que, além do impacto sobre a carga, pode também estar desvalorizando seus ativos; tanto os sob administração das APs como os privados reversíveis.


Seria mais uma jabuticaba no pomar “landlordista”. Mas, se o poder público não quer desempenhar tal função, se autonomia seguirá sendo privativa de TUPs, se os órgãos de controle e a justiça entendem não haver incompatibilidades com os ditames constitucionais, “vamu-pras-cabeça!”: TUP para todos! Alias, talvez até as APs pudessem ser pensadas como cabeça de um tipo de “federação de TUPs”.


Para tanto, melhor até que aprovar a PEC-84, seria revogar-se a atribuição da União de “explorar” portos (Art. 21, XII, f da CF); voltando-se à situação pré-88: apenas “legislar sobre” (Art. 22; X).


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