Frederico Bussinger: A Santos-Guarujá também como laboratório

Nesta edição da coluna, o consultor, engenheiro e economista fala sobre as ideias de travessia entre as regiões

Por: Frederico Bussinger  -  01/03/19  -  19:37

Difícil listar-se todas as ideias para a travessia seca do Estuário. A mais antiga é da antevéspera da “Grande Depressão” (1929). Na época, cerca de 3Mt/ano passavam pelo Porto (hoje 133Mt), a população santista era de 150 mil (hoje 1,8M na RM) e 270 mil pessoas/ano cruzavam o Estuário. A euforia modernista e do centenário talvez gestara o sonho de túnel RJ-Niterói. Por que não Santos-Guarujá?


Razões havia “a justificar plenamente a necessidade de tais obras”, explica AT (23/JAN/1927), apresentando projeto de Enéas Marini: 900m a partir do Paquetá, com 20m entre “a linha d'água e extradorso da abóbada do túnel”. Hoje cada margem contribui com metade da carga, mas como 100% eram santistas, ele foi projetado para “bondes, ônibus, carros, carroças e transeuntes”.


Do Pós-II Guerra destaca-se: I) “Ponte Elevadiça” (Prestes Maia-1947), Outeirinhos-Vicente de Carvalho; e II) “Ponte Caracol” (Eng. Luiz Muzi-1950): Ponta da Praia; 500m de vão; acessos espiralados.


Um sem-número de ideias de pontes e túneis brotaram desde então... Muitas anabolizadas por climas eleitorais. Algumas chegaram a projeto, mas nenhum foi implantado. Por quê? Necessidade artificial? Solução faraônica? Egocentrismo? Marquetagem? Regulação falha? Abordagem fragmentada? Processo mal conduzido? Esse rico acervo bem que poderia ser “case” para explicá-lo e, assim, subsidiar futuras iniciativas!


A Ecovias (concessionária da Anchieta-Imigrantes) vem de expor ao CAP estudo autorizado (com pompas e circunstâncias - JUN/2018) pelo GESP: ponte de 7,5km; “interligação SP-150 e SP-055”; diretriz da Ilha Barnabé; vão com altura de 85m, 325m de largura e mastros de 170m; rampa de 6%; investimentos estimados em R$ 2,9bi; e 3 anos para implantação.


O PPT distribuído destaca, ainda, virtudes do empreendimento para a logística (porto) e mobilidade regional. Sentiu-se falta, todavia, da modelagem imaginada e, mormente, de cotejamento benefício/custo do projeto com dezenas de outros (vide slide-6): sem tal comparação, qualitativa e quantitativa, difícil avaliar-se a efetividade relativa das alternativas para solução dos problemas identificados: I) Interferências balsa-navio; II) Intermodalidade (hidrovia, aviação e rodoviário entre margens); III) Mobilidade (pessoas) urbana/regional.


P.ex: Se a diretriz da ligação seca for mais próxima à entrada do Estuário, menor deve ser a demanda de cargas captada, mas maior a de pessoas e carros (implicando em menor fluxo de balsas; crucial para um porto que se coloca como “hub”); o inverso se mais para o “fundão”. Ponte ou túnel têm impactos distintos sobre tráfego marítimo e aéreo, extensão de acessos e inserção urbana.


Ainda: I) Dada a diversidade de interesses envolvidos e competências das/nas três esferas de poder, mais que recomendável que os principais atores participem de tal avaliação: por que não uma comissão específica (eventualmente a partir dos colegiados existentes: CAP e Condesb)?; II) Que se incorpore no PDUI, PDZ e planos diretores Municipais a alternativa escolhida.


Esses encaminhamentos certamente contribuiriam para maior probabilidade de sucesso da nova empreitada. Talvez, também, um laboratório para viabilização e condução de planos/projetos complexos, hoje encruados ou sem sair do papel.


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