Presidente Jair Bolsonaro se isola na pandemia, avaliam cientistas políticos

Presidente diz que medidas como fechamento do comércio e confinamento em massa prejudicam economia

Por: Eduardo Brandão & Da Redação &  -  26/03/20  -  10:44
Bolsonaro fez pronunciamento nesta quinta-feira (12)
Bolsonaro fez pronunciamento nesta quinta-feira (12)   Foto: Reprodução

A defesa da retomada das atividades econômicas em meio à pandemia de Covid-19, na noite de terça (24) e na manhã de quarta-feira (25), tende a isolar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de outras esferas de poder. A opinião de cientistas políticos ouvidos pela Reportagem é reforçada pela perda de aliados de primeira hora – como o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM) – e por críticas vindas de Congresso, cientistas e médicos. 


Em rede nacional de rádio e televisão, na noite de terça, Bolsonaro minimizou os efeitos do coronavírus – afirmando que, se o contraísse, equivaleria a um “resfriadinho” –, pediu o fim do confinamento em massa e reabertura de comércio e escolas. “O que estão fazendo no Brasil, alguns poucos governadores e alguns poucos prefeitos, é um crime. Eles estão arrebentando com o Brasil, estão destruindo empregos”, disse o presidente, na manhã de ontem, na entrada do Palácio do Alvorada. 


Entidades de saúde coletiva consideram intolerável e irresponsável o “discurso da morte” feito pelo presidente. “Nessa manifestação, incoerente e criminosa, (Bolsonaro) nega o conjunto de evidências científicas que vem pautando o combate à pandemia da Covid-19 em todo o mundo”, manifestam-se, em nota, dez entidades de classe. 


O documento cita, ainda, que o tom do presidente fere o Código Penal Brasileiro (Artigo 268), ao desrespeitar “determinação do Poder Público destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa”. 


Para o cientista político Sérgio Trombelli, as “falas intempestivas e descabidas de lógica” do presidente minam alianças, por transformar apoiadores em adversários. 


O especialista vê risco de o presidente perder o prestígio até entre ministros. Bolsonaro, diz, tem adotado tom diferente das ações feitas pelo Ministério da Saúde. “O presidente afirmou ter escolhido os melhores para compor seus ministros, mas deveria permitir que eles trabalhassem naquilo para o qual foram escolhidos.” 


A professora universitária e cientista política Clara Versiani relata a percepção de que Bolsonaro já não representa parte de seu eleitorado. E que o embate com prefeitos e governadores sinaliza uma antecipação da sucessão presidencial. “O presidente joga com os 30% (de aprovação de seu governo), pensando que poderá contar com esses apoiadores para 2022.” 


Clara argumenta que o choque de Bolsonaro com o Congresso e Poder Judiciário eleva a tensão política, num instante que deveria ser de harmonia entre os poderes. “Esse desgaste tende a se aprofundar com as projeções de uma crise econômica que se desenha”, observa.


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