Histórico de líderes do movimento negro somem do site da Fundação Palmares

Páginas com a biografia de Zumbi dos Palmares, Luís Gama, André Rebouças e Carolina de Jesus foram removidas; funcionários do órgão acusam censura

Por: Por ATribuna.com.br  -  16/06/20  -  20:09
Funcionários da fundação afirmam que histórico de ícones foram retirados do site
Funcionários da fundação afirmam que histórico de ícones foram retirados do site   Foto: Reprodução

Biografias de personalidades históricas de ícones de movimentos negros, em especial os associados à militância de esquerda, desapareceram do site da Fundação Palmares – entidade pública brasileira vinculada ao Ministério da Cultura. Funcionários da autarquia acusam o presidente do órgão, Sérgio Camargo, de  censurar as páginas. 


Os servidores afirmam que os links para biografias de figuras históricas como Zumbi dos Palmares (que dá nome ao órgão e já foi alvo de vários ataques de seu presidente), o jornalista e abolicionista Luís Gama, o engenheiro André Rebouças e a escritora Carolina de Jesus desapareceran do site da fundação. 


Segundo reportagem do jornal “Folha de S.Paulo’, servidores relataram, em condição de anonimato, que a orientação para censurar os textos partiu da presidência.  


O site da Fundação chegou a ser alvo da Justiça no dia 29 de maio, quando a juíza federal Maria Cândida Almeida, da 9ª Vara de Justiça do DF, determinou a retirada de artigos que desqualificam a figura de Zumbi dos Palmares. Os artigos em questão, “A narrativa mística de Zumbi dos Palmares”, de Mayalu Felix, e “Zumbi e a Consciência Negra – Existem de verdade?”, de Luiz Gustavo dos Santos Chrispino. Ambos foram publicados no dia 13 de maio, data da abolição da escravatura no Brasil. 


Camargo é alvo de um pedido no Superior Tribunal de Justiça (STJ) para suspender sua nomeação, feito no dia 6 de junho, pela Defensoria Pública da União (DPU).   


No documento, o órgão solicita que os efeitos da decisão liminar da Justiça Federal do Ceará, que impediram a nomeação de Camargo em dezembro de 2019, sejam restabelecidos. A ação foi motivada pelo vazamento de um áudio gravado em uma reunião em abril no qual o jornalista classifica o movimento negro como "escória maldita". 


Camargo também se envolveu em uma briga pública com a cantora Alcione, a quem chamou de "barraqueira" pelo Twitter, após desabafo da cantora na live de Teresa Cristina, na noite em que os áudios da reunião foram revelados.


Alcione chamou Camargo de "Zé Ninguém da Fundação Palmares" e disse que "quando a gente vê uma pessoa da nossa cor falando uma besteira daquelas, tenho vontade de arrancar da televisão e encher de porrada pra virar gente".  


Camargo escreveu que despreza as declarações de Alcione, "assim como sua insuportável "música". Um vídeo em favor à cantora foi publicado dias depois, com a participação de grandes nomes da música brasileira, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Marisa Monte, Paulinho da Viola, Emicida e Maria Bethânia. 


O presidente da Fundação Palmares é acusado por historiadores de tentar reescrever a trajetória de lutas dos negros e de alguns de seus heróis. O jornalista chegou a propôr no Twitter uma enquete para escolher um novo nome para o órgão, substituindo o de Zumbi. A entidade não se posicionou sobre a acusão de censura.


* Com informações de O Globo e Folha de S.Paulo


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