Bolsonaro indica militar que critica Coronavac para cargo na Anvisa

A indicação de Kormann ocorre no momento em que a Anvisa está sob questionamento quanto à sua autonomia para analisar o registro de vacinas

Por: Do Estadão Conteúdo  -  13/11/20  -  13:15
Organização diz que trabalha para distribuição justa de vacinas
Organização diz que trabalha para distribuição justa de vacinas   Foto: Cadu Rolim/Foto Arena/Estadão Conteúdo

Indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para a direção da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o tenente-coronel Jorge Luiz Kormann faz coro a teses reprovadas pelo próprio órgão que poderá comandar. No Twitter, o militar endossa mensagens contrárias à Organização Mundial da Saúde (OMS) e também críticas à Coronavac, vacina contra a covid-19 que está sendo desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantã. O órgão é vinculado ao governo de São Paulo, comandado por João Doria (PSDB), adversário político de Bolsonaro.


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A indicação de Kormann ocorre no momento em que a Anvisa está sob questionamento quanto à sua autonomia para analisar o registro de vacinas. As críticas se avolumaram após Bolsonaro comemorar e apontar como vitória pessoal sobre Doria a decisão da agência de suspender justamente os testes da Coronavac.


Na segunda-feira (9), minutos após a Anvisa anunciar a suspensão dos estudos, Kormann curtiu no Twitter publicação do empresário Leandro Ruschel, que afirmava: "Todo mundo sabe que o Doria é o 'China Boy'. Mas nessa história da vacina, tá ficando até constrangedor". No entanto, após avaliar dados de um comitê internacional, a Anvisa autorizou o retorno do ensaio na quarta-feira (11).


Atual secretário executivo adjunto do Ministério da Saúde, o militar mostra ainda apoio a publicações do escritor Olavo de Carvalho, tido como guru do bolsonarismo. Segundo fontes que acompanham os trabalhos da Saúde, Kormann é fiel seguidor de ideias do presidente Bolsonaro, como o uso do "kit-covid", tratamento que usa medicamentos sem eficácia comprovada contra a pandemia, como a hidroxicloroquina. A própria Anvisa não indica esse uso na bula do medicamento.


Kormann fez poucas publicações em suas redes sociais. No Twitter, há duas interações com o vereador no Rio Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho do presidente, sobre um conflito entre Irã e Israel, em maio de 2018. Em abril do mesmo ano ele considerou "ridícula, infame", em publicação do Estadão no Twitter, uma denúncia apresentada pela ex-procuradora-geral da República Raquel Dodge contra Bolsonaro por racismo.


O indicado à Anvisa também curtiu publicação de 27 de setembro do escritor Guilherme Fiuza que fala em "parceria" da OMS com a "ditadura chinesa". "Se você ainda não acredita na parceria saudável da OMS com a ditadura chinesa, fique em casa. Com mais seis meses de tranca você vai estar chamando urubu de meu louro e lockdown de ciência", afirmava a publicação.


Kormann interagiu com mais de uma publicação de Bolsonaro em defesa da hidroxicloroquina. Em setembro, ele curtiu vídeo do presidente no Twitter que acompanhava a mensagem: "Milhares de vidas poderiam ter sido salvas caso a HQC não tivesse sido politizada".


Se for aprovado para comandar a Anvisa, Kormann terá de lidar com assuntos variados, além de aprovar o registro de medicamentos. A pauta inclui fiscalização sanitária de portos, aeroportos e fronteiras. Também define regras sobre agrotóxicos, cigarro, alimentos, cosméticos e produtos para saúde, como próteses. Em uma canetada, a agência tem pode interditar grandes fábricas ou aplicar multas. Diretores do órgão costumam dizer que têm mais de 25% do PIB nacional nas mãos. Ela tem ainda papel de liderança em discussões internacionais sobre vigilância sanitária, como as que ocorrem na OMS.


Procurado, o militar disse que não tinha "nada a declarar" e negou se posicionar sobre as redes sociais, sobre vacinação ou OMS.


Para assumir uma das cinco diretorias da agência, o militar precisa ter o nome aprovado por comissão e plenário do Senado. E, de quebra, sobreviver à guerra política pelo cargo. Este ano, Bolsonaro já recuou de duas outras indicações.


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