Após demissão de diretor-geral da PF, Sergio Moro deixa Ministério da Justiça

O agora ex-ministro deixa o cargo após exoneração de Maurício Leite Valeixo. Moro não concordou com a troca de comando feita por Jair Bolsonaro

Por: Por ATribuna.com.br  -  24/04/20  -  16:30
Moro é mais um membro do primeiro escalão a deixar o governo
Moro é mais um membro do primeiro escalão a deixar o governo   Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

O ex-juiz Sergio Moro não é mais o ministro da Justiça e Segurança Pública do Brasil. Um dos símbolos da Operação Lava Jato, ele pediu demissão do cargo, nesta sexta-feira (24), após o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), exonerar o ditetor-geral da Polícia Federal (PF), Maurício Leite Valeixo.


O ex-ministro convocou uma entrevista coletiva para anunciar a decisão. "Meu entendimento foi que eu não tinha como aceitar essa substituição. Em respeito a lei, o estado de Direito, a impessoabilidade. Tenho que preservar o compromisso que assumi, inclusive com o presidente, que seríamos firmes no combate à corrupção. E um pressuposto é que teríamos que garantir a lei e a autonomia da Polícia Federal. Ele indica o diretor-geral da Polícia Federal, mas ele assumiu um compromisso comigo que eu indicaria essa pessoa e que seria uma escolha técnica. Percebendo que essa interferência política pode levar a relações suspeitas entre o diretor-geral e o presidente da República, eu não posso concordar", disse Moro, que lametou a necessidade de uma entrevista coletiva em meio a pandemia, quando o Brasil registrou mais de 400 mortes por Covid-19 na última quinta-feira (23)


Moro lembrou sua carreira no Judiciário em 22 anos como juiz federal, principalmente, a atuação na Operação Lava Jato. E também ressaltou a importância da autonomia das instituições de controle e investigação.


"Desde 2014, na Lava Jato, senti uma preocupação constante da interferência do Executivo nos trabalhos de investigação. Isso poderia ser feito de diversas formas, como troca de superintendentes. Foi garantida a autonomia da Polícia Federal durante os trabalhos de investigação. Certo que o governo da época tinha inúmeros defeitos, gigantescos crimes de corrupção. Mas foi fundamental a autonomia da PF para a realização dos trabalhos", falou o ex-ministro.


O ex-juiz também destacou que, quando foi convidado por Bolsonaro para aceitar o cargo, teria carta branca para indicar nomes para os cargos de confiança, como o caso do diretor-geral da Polícia Federal. "A ideia era de aprofundar o combate à corrupção e levar maior efetividade no combate a criminalidade".


O ex-ministro disse que, a partir do segundo semestre do ano passado "passou a ter uma insistência na troca do comando da Polícia Federal". "Eu disse a ele (Bolsonaro): Presidente, não tenho nenhum problema em trocar o diretor-geral da Polícia Federal, mas eu preciso de uma causa. Eu vi, durante esse período, que é um trabalho bem feito", comentou.


"Não é uma questão do nome. Tem outros bons nomes para assumir o cargo. O grande problema dessa troca é que haveria uma violação de uma promessa que me foi feita, não haveria uma causa para troca e estaria claro que haveria uma ingerência política. O que gera perda de credibilidade", emendou.


"O grande problema não é quem colocar, mas porque trocar. E permitir que seja feita essa interferência em âmbito federal. Presidente disse, por mais de uma vez, que queria uma pessoa de confiança dele, que ele pudesse ligar, colher informações de inteligência. E não é papel da Polícia Federal passar esse tipo de informação", disse o ex-ministro.


"Sinto que eu tenho o dever de tentar proteger a instituição da Polícia Federal. Busquei alternativas no período de crise com a pandemia. Mas entendi que não poderia deixar de lado esse meu compromisso. Eu não assinei esse decreto, em nenhum momento isso foi me trazido. Em nenhum momento o diretor geral me pediu a exoneração", esclareceu Moro.


Moro também revelou que, ao aceitar o cargo, colocou como condição que, como estava abandonando 22 anos de magistratura, que a família não ficasse desamparada caso algo acontecesse com ele.


A troca de comando na PF já havia sido especulada na quinta-feira (23). Ao saber do desejo do presidente, Moro teria, então, dito que se Valeixo saísse, ele também deixaria o Ministério da Justiça.


O cargo de diretor-geral da PF é de livre nomeação do presidente. Sendo assim, não é necessário o aval do ministro da Justiça para a mudança. 


Para o cargo, Jair Bolsonaro quer o diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem. Outros nomes especulados são Anderson Gustavo Torres, secretário de segurança pública do Distrito Federal e Fabio Bordignon, diretor-geral do Departamento Penitenciário Nacional (Depen).


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