Única vereadora negra da Baixada Santista fala sobre representação na política

Valéria Bento (MDB) integra a Câmara de Bertioga e ressalta os impactos na representatividade dos interesses de grande parte da população

Por: Marcela Ferreira & De A Tribuna On-line &  -  31/07/19  -  11:30
Única vereadora negra da Baixada Santista fala sobre representação na política
Única vereadora negra da Baixada Santista fala sobre representação na política   Foto: Reprodução/Facebook

Há oito anos e no segundo mandato em Bertioga, Valéria Bento (MDB) é a única vereadora negra eleita em toda a Baixada Santista. Para ela, o fato impacta na representatividade dos interesses de grande parte da população. Nesta semana, comemora-se o Dia da Mulher Negra e o Dia da Mulher Latina, datas símbolo de luta contra o racismo, pauta levantada por Valéria.


Antes de entrar para a política, a parlamentar foi pioneira ao se tornar investigadora da Polícia Civil, a primeira mulher de Bertioga a entrar para a corporação. “Sempre ocupei espaço em lugares dominados por homens”, revela.


Ela conta que, por ocupar altos cargos, faz questão de levantar a bandeira contra o racismo nos espaços em que atua. Como vereadora, ela usa sua vivência para criar políticas específicas de assistência à população negra e para mulheres. “Busco a questão da saúde pública para a população negra, porque a gente tem muito problema de anemia falciforme e hipertensão. Consegui fazer uma lei para que as mulheres com câncer de mama tenham atendimento prioritário”, diz.


Ao todo, são nove mulheres vereadoras em toda a Baixada Santista*. Valéria avalia o cenário com preocupação. “Eu me sinto triste. Primeiro, porque eu acho que deveria ter mais mulheres na política, independentemente da raça. Segundo, porque sabemos que querem acabar com a cota de mulheres dentro dos partidos, querem diminuir de 30% para 10%”.


A vereadora ainda desabafa sobre a importância de datas comemorativas relacionadas à raça.  “Só quem passa na pele sabe o que é ser uma mulher negra onde o racismo é velado. O mundo é de todo mundo, não tem cor, e enquanto as pessoas não aceitarem isso, vai continuar assim. Vai ter que ter o Dia da Mulher Negra, vai ter que ter o 20 de novembro [Dia da Consciência Negra] e Dia do Índio”.


Ter representação na Câmara dos Vereadores, para a população negra, é questão de valorização, diz a legisladora. “Você se sente valorizado em ter alguém lutando por você. É como alguém me ver lá e pensar que também pode chegar onde estou. Representatividade é mostrar que não estamos sozinhos, e não é sonhar, é ir atrás, fazer a diferença, dar exemplo”.


Questionada sobre o porquê de a data contemplar apenas a raça negra, Valéria Bento explica que a comemoração diz respeito às conquistas que se deram, apesar das adversidades. “Se meus ancestrais não estivessem em senzalas servindo à raça branca, e hoje, na África, não estivessem passando fome, se isso tivesse sido resolvido lá atrás, não teríamos que estar comemorando nada disso. Mas, como isso não aconteceu, nós temos que lembrar e jogar na cara, para dizer que vamos parar com isso e evoluir!”, conclui.


*Considerando as cidades de Santos, São Vicente, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém, Peruíbe, Guarujá, Bertioga e Cubatão.


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