Trio é flagrado comendo gambá caçado em área ambiental de Bertioga

Matar animal da fauna silvestre sem autorização da autoridade competente é crime

Por: Eduardo Velozo Fuccia  -  29/05/20  -  00:39
Atualizado em 29/05/20 - 00:43

O almoço de três homens foi interrompido por guardas florestais do Parque Estadual Restinga de Bertioga (Perb), às 14 horas de quarta-feira (27). Sob uma cabana na floresta situada em área de proteção ambiental, eles consumiam carne ensopada de saruê (espécie de gambá), que haviam caçado local. Matar animal da fauna silvestre sem autorização da autoridade competente é crime. O trio foi detido, sendo depois liberado.


Moradores em Bertioga, os homens têm 36, 40 e 41 anos. Eles também comiam palmitos, que admitiram ter coletado no parque estadual, onde estavam desde a tarde de terça-feira. O acesso ao Perb só é permitido mediante agendamento, sendo autorizadas apenas as visitas às trilhas da área de proteção, desde que monitoradas por guias. Deste modo, o trio ingressou e permanecia no local de modo irregular.


O delegado Fábio Pierry, da Delegacia de Bertioga, elaborou termo circunstanciado (TC) que será apreciado pelo Juizado Especial Criminal (Jecrim). O Artigo 29 da Lei 9.605/1998 (Crimes Ambientais) prevê pena de seis meses a um ano de detenção para quem mata animal silvestre. Porém, conforme o inciso V, do parágrafo 4º deste artigo, a sanção deve ser aumentada de metade se a infração ocorrer em unidade de conservação.


O saruê pode transmitir zoonoses, como a leptospirose, por meio da urina
O saruê pode transmitir zoonoses, como a leptospirose, por meio da urina   Foto: Divulgação/Polícia Civil

Riscos à saúde


Além de cometerem crime ambiental, os homens expuseram a própria saúde a riscos. O saruê pode transmitir zoonoses, como a leptospirose, por meio da urina. As suas fezes transmitem verminoses para humanos, bem como para outros animais. A mordida desta espécie de gambá, que habita o Brasil, a Argentina e o Paraguai, também pode transmitir a raiva.


A Tribuna conversou por telefone com um dos homens detidos no parque estadual. Ele disse ignorar os riscos à saúde que o consumo de saruê pode causar e negou ser “caçador”. De acordo com o entrevistado, a captura e o abate do animal aconteceram de modo casual, após o gambá “mexer” em panelas com alimentos que ele e os amigos haviam levado à restinga de Bertioga.


“Aconteceu. Ele apareceu, começou a mexer na nossa panela e decidimos comê-lo, mas não somos caçadores”, detalhou o acusado. Segundo ele, o saruê ainda tentou escapar, mas foi capturado ao subir em um pé de ameixa. A versão do detido, no entanto, foi refutada pelo guarda florestal presente à ocorrência: “O saruê foi capturado por meio de armadilha. Os homens usaram uma espécie de ratoeira”.


Além de portar este apetrecho para a captura de animais, “o trio montou um rancho clandestino no meio da mata, em local distante das trilhas, para lhes dar apoio em caçadas e extração ilegal de palmito”, afirmou o guarda florestal. Por estar em área de preservação permanente, a cabana será destruída. Nela havia dois facões, panela com restos de carne de saruê ensopada e uma vasilha com palmito já pronto para o consumo.


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