Keron Ravach, 13 anos, é mais uma vítima da intolerância sexual no país. A jovem transexual foi brutalmente assassinada a golpes de soco, pedradas, pauladas, facadas, teve os olhos perfurados e a roupa introduzida no ânus. O autor do delito hediondo tem apenas 17 anos. A motivação seria a cobrança de uma dívida de R$ 50 por um encontro sexual que teve com o suspeito, informa a polícia.
O bárbaro crime aconteceu na madrugada da última segunda-feira (4), no município de Camocim, no interior do Ceará. O corpo da vítima foi encontrada morta em um terreno baldio no Bairro Apossados.
A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) chama atenção ao fato de que os transfeminicídios ocorrem com vítima cada vez mais novas: em 2017, a vítima mais jovem tinha 17 anos; em 2018, 16 anos; em 2019 e 2020, 15 anos; e em 2021, 13 anos.
Segundo a Antra, o Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo, com uma morte a cada 48 horas. Em 2020, foram 151, sendo 19 registradas no Ceará.
“Via nela uma florzinha, um botãozinho, que estava desabrochando, conhecendo a vida”, lembra Ray Fontenele, 27, que era amigo de Keron. Comum aos adolescentes, a jovem não se sentia bem com o corpo, tinha vergonha dos seios e ainda estava em fase de transição de gênero.
Ganhou dos amigos a aceitação, que não teve na família. Dois 10 irmãos, apenas dois foram ao seu velório. Keron morava com uma tia. "Ela se aproximou por achar que éramos iguais a ela", conta Fontenele.
O cabelo comprido e a maquiagem, que pegava das tias e irmãs, escondia a timidez da jovem que fazia perfomances ao som de Anitta e Pabllo Vittar e que queria ser influenciadora digital.
Segundo a polícia, o autor do crime tem 17 anos, foi apreendido 12 horas depois do assassinato. Em nota, a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará afirma ter descartado “que o ato infracional tenha ocorrido em razão da orientação sexual da vítima".
O coletivo "Mães pela Diversidade" debate que o preconceito é alimentado pela ignorância e pelo desconhecimento das pessoas, e lança luz que o “silêncio diante dessa situação alimenta a lógica” da não existência de crianças trans.
“Crianças trans existem, espalhem por aí. A criança LGBT+ existe, não esqueçam. Crianças que não correspondem ao que se espera delas e, por isso, sofrem demais. O pacto de silêncio em torno desse tema precisa ser rompido", diz a nota publicada nas redes sociais.
* Com informações do G1