Porteiro de edifício tem dia de herói e salva moradora de ser morta pelo filho em Santos

Após horas de negociação, suspeito, de 21 anos, se rendeu e foi preso pela polícia. Episódio ocorreu na noite de quarta-feira (10) em um prédio, no Embaré

Por: Eduardo Velozo Fuccia  -  12/06/20  -  12:22
O porteiro Vitor Eduardo salvou a moradora de ser morta pela próprio filho em edifício no Embaré
O porteiro Vitor Eduardo salvou a moradora de ser morta pela próprio filho em edifício no Embaré   Foto: Eduardo Velozo Fuccia/AT

O momento exigia decisão e atitude imediatas. Os gritos de socorro do apartamento do 5º andar do Edifício Santa Terezinha, em frente à Praia do Embaré, em Santos, eram cada vez mais fortes e audíveis no térreo. Sem hesitar, o porteiro correu até a unidade, arrombou a porta e salvou a moradora de ser morta a facadas pelo próprio filho. Após cerca de uma hora de negociação, o autor dos golpes se rendeu e foi preso.


Naquela ocasião, Vitor Eduardo Santos de Lima, de 21 anos, acumulou funções. Além de porteiro, foi herói e anjo da guarda da moradora Angélica Regina de Sá Ferreira, de 40 anos. A mulher estava sozinha com o filho no momento do crime. Luciano Ferreira Sena, de 23 anos, justificou apenas que esfaqueou a mãe “por motivo fútil”. Autuado em flagrante, o rapaz foi recolhido à cadeia. A sua mãe permanece hospitalizada.


Vitor relembrou os principais momentos de sua ação, que teve início por volta das 14h30 de quarta-feira (10). “Na portaria, ouvi os gritos de socorro. Fui até o apartamento e a moradora continuava a gritar. O imóvel estava trancado e precisei arrombar a porta. A condômina estava toda ensanguentada no chão da sala. O filho se encontrava próximo. Segurava uma faca e disse ‘não tenho problema com você, o meu negócio é só com ela’ ”.


Com a aparente garantia de que não seria atacado, o porteiro entrou rapidamente na sala para resgatar a vítima. “Quando a puxei pelo braço, a minha mão chegou a deslizar por causa do sangue. Mas consegui retirá-la do apartamento”, detalhou Vitor. O funcionário do prédio estava com um colega de trabalho, que acompanhou a moradora do elevador até o térreo. O porteiro continuou na porta do apartamento, pelo lado de fora.


De acordo com Vitor, apesar de estar bastante ensanguentada, principalmente no rosto, a vítima se encontrava consciente e conseguiu andar até a portaria, onde aguardou a chegada do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). A equipe de resgate e a Polícia Militar chegaram ao Santa Terezinha em cerca de cinco minutos. Neste período, Carlos Sena de Freitas, de 46 anos, marido de Angélica e pai de Luciano, também chegou.


Negociação


Carlos nem chegou a se dirigir ao apartamento. Ele acompanhou a mulher na ambulância do Samu que a levou à Santa Casa de Santos. O porteiro narrou que permaneceu na porta do imóvel, que estava entreaberta, para evitar eventual fuga do jovem. “Ele (Luciano) se mostrava calmo e até disse para chamar a polícia, mas ficou segurando a porta por dentro quando os PMs chegaram”, acrescentou a testemunha.


Não demorou muito, o acusado liberou a porta, no entanto, continuou empunhando a faca tipo peixeira usada para golpear a mãe. Após aproximadamente uma hora de diálogo, o jovem largou o objeto e se entregou, sem oferecer resistência. Conduzido à Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Santos, Luciano foi autuado por tentativa de feminicídio pela delegada Karla Cristina Martins Pereira e recolhido à cadeia.


A Tribuna tentou conversar nesta quinta-feira (11) com Carlos, mas ele não quis comentar o episódio envolvendo a mulher e o filho. Uma moradora do edifício comentou que Luciano faz uso regular de remédio de uso controlado, mas ele não teria conseguido agendar consulta por causa da pandemia, ficou sem receita para a retirada do medicamento e “surtou”.


Segundo o porteiro, que classificou o acusado de “tranquilo”, ele desconhece qualquer outro problema causado pelo rapaz no prédio. “Ele não tinha o hábito de sair do edifício. No máximo, ia até o hall”. Ainda conforme o funcionário, no momento da negociação para se entregar, Luciano apenas dizia não estar “louco” e que esfaqueou a mãe por “motivo fútil”, sem fornecer mais detalhes.


Em março de 2017, Luciano pulou à noite o muro da casa de uma jovem no Macuco e foi detido por policiais militares no quintal. Naquela época, ele residia neste bairro. Alegou conhecer a vítima das redes sociais e ser “apaixonado” por ela. Como nada mais grave aconteceu, o rapaz foi liberado após ser registrado boletim de ocorrência de “violação de domicílio” na Central de Polícia Judiciária (CPJ).


Logo A Tribuna
Newsletter