Paciente recebe 'mata-leão' de PM e é preso por desacato na UPA Central de Santos; vídeo

Rapaz, de 22 anos, aguardava há 3 horas por atendimento em UPA de Santos, após sentir dor de ouvido e febre. Ele acusa policial de agir de forma desproporcional e truculenta

Por: Bruno Gutierrez  -  17/01/20  -  09:39

Um tripulante de navio, de 22 anos, foi preso pela Polícia Militar, dentro da Unidade de Pronto-Antendimento (UPA) Central de Santos, na última-quarta-feira (15). Os policiais alegaram que o rapaz cometeu desacato contra um dos agentes. O jovem nega e acusa o PM de agir de forma desproporcional e truculenta. Durante a abordagem, ele recebeu um golpe conhecido como "mata-leão" e ficou desacordado por alguns segundos.


Segundo Gabriel Luiz Santos Solano, ele foi à UPA - acompanhado da mãe - para procurar atendimento após sentir dor de ouvido e febre. Ele chegou ao local às 11h35. De acordo com o rapaz, por volta das 14h15, ele reparou que todas as pessoas que estavam na sala de espera já haviam sido atendidas, menos ele.


"Eu questionei uma enfermeira porque achava que tinham me classificado de maneira errônea. Tanto que passei novamente pela triagem e foi me falado que haviam colocado os sintomas errados. Ela [enfermeira] falou que poderia me reclassificar, mas eu teria que ir para o fim da fila", explicou o tripulante.


Neste momento, Solano ficou exaltado e pediu para conversar com a assistente social. Enquanto argumentava com a profissional, um grupo de policiais militares chegou na unidade levando um agente, que estava machucado. Um dos PMs, então, passou a observar o diálogo entre o paciente e a assistente social.


"Depois de falar com a assistente, esse policial veio até mim e me acalmou. Falou que já havia passado por isso também. Ele me tranquilizou", comentou o rapaz.


Pouco depois, o tripulante abordou o policial para questionar como poderia proceder, já que acreditava que tinha sido negligenciado dentro da UPA Central.


"Primeiro, perguntei se precisaria ter alguém da UPA comigo para realizar um boletim de ocorrência na delegacia. Ele me respondeu que não era necessário. Depois, questionei o que poderia fazer quanto a transparência da unidade, uma vez que eles haviam falado para a minha mãe que seria o próximo a ser atendido e isso não ocorreu. A partir daí, ele começou a se exaltar", disse Gabriel.


Mata-leão e prisão


O rapaz disse que o policial militar falou para ele abaixar o tom de voz ou o prenderia por desacato. O tripulante questionou o agente de segurança sobre o que ele teria feito para motivar a prisão por desacato. Nesta hora, o PM foi para cima de Gabriel e o imobilizou com um golpe conhecido como "mata-leão".


"Ele explodiu. Eu acredito que o modus operandi não foi o correto. Se cometi desacato, ele teria que algemar meus braços. Mas ele me aplicou um mata-leão. Eu cai desacordado por um tempo. Quando acordei, a população toda estava em cima do policial", relatou Gabriel.


Segundo o tripulante, após ser preso, ele foi colocado na parte de trás da viatura, por onde permaneceu por 40 minutos detido em frente a UPA.


"Eu estava com febre, com falta de ar. Eu pedia ajuda para os policiais, mas eles ignoravam. Além disso, eles ainda algemaram outras duas testemunhas. Depois, fizeram um trajeto imenso até o 2º Distrito Policial", contou o rapaz.


De acordo com Gabriel, no DP, a delegada pediu acesso às imagens do circuito interno de vigilância da UPA Central para averiguar o caso. Ele deixou o distrito, acompanhado dos pais, por volta das 19h.


"Quando saí, os policiais foram para a viatura e ainda passaram duas vezes por nós, encarando, uma tentativa de intimidação. Me senti muito constrangido. Agora, fico com receio porque o órgão que está ali para zelar pela sua segurança é o que te oprime".


Gabriel é levado por policiais após receber 'mata-leão' dentro da UPA Central
Gabriel é levado por policiais após receber 'mata-leão' dentro da UPA Central   Foto: Reprodução

Temor pelo trabalho


Gabriel foi autuado por desacato e resistência à prisão. Agora, ele espera que o desenrolar do caso prove sua inocência. Ele acha que o caso possa prejudicá-lo em futuros trabalhos.


"Eu trabalho como tripulante de navios, preciso ter o meu registro limpo. Se as empresas encontram algum registro policial, dificilmente contratam. Elas não vão procurar ler as oitivas para saber o que ocorreu. Vão apenas olhar que possui um histórico policial", comentou o rapaz.


UPA lamenta episódio e diz que tempo de espera estava 'dentro dos padrões'


Questionada sobre o ocorrido, a Fundação do ABC, responsável pela UPA Central de Santos, informou que o paciente agiu de maneira desrespeitosa e agressiva com a assistente social da unidade e foi abordado por um policial que estava na UPA acompanhando outra situação juntamente com um bombeiro. Usuários que acompanharam a situação teriam relatado ainda que o paciente teria empurrado e desacatado o policial. Por essa razão foi dada voz de prisão e o paciente foi levado para a delegacia.


A UPA Central de Santos lamentou o episódio e informou que a funcionária ofendida já esteve na delegacia para prestar depoimento como testemunha, em busca de resguardar o patrimônio público, os funcionários que trabalham na UPA e todos os cidadãos assistidos na unidade de saúde.


Por fim, a UPA ressaltou que operou durante todo o dia de ontem (quarta) com equipes 100% completas e que, no momento em que houve o incidente, o tempo de espera registrado para todas as cores da classificação de risco estava dentro dos padrões preconizados pelo Ministério da Saúde.


Em nota, a Polícia Militar informou que um homem foi conduzido ao 2º DP de Santos após equipes serem acionadas a um assistente social da UPA Central, em que alegou que o paciente em questão, que aguardava por atendimento médico, mostrava-se bastante exaltado pela demora no atendimento.


Segundo a nota, os policiais que atenderam a ocorrência foram desrespeitados onde, além do aumento do tom de voz, com tom de ameaça, e proferiu palavras de baixo calão à equipe.


Diante dos fatos, o indivíduo e testemunhas que presenciaram o fato foram conduzidas ao DP e apresentadas ao delegado de plantão, que ratificou o Termo Circunstanciado de Lesão Corporal Dolosa, Resistência e Desobediência.


Reclamações envolvem a limpeza do prédio e infiltrações nas paredes
Reclamações envolvem a limpeza do prédio e infiltrações nas paredes   Foto: Alberto Marques

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