Outra universitária diz que foi enganada pelo casal do Tinder acusado de estupro em Santos

Segundo a estudante, ela não foi estuprada pelos acusados, mas ficou em 'estado de choque' e decidiu contar a sua experiência para alertar mais garotas

Por: Eduardo Velozo Fuccia  -  29/08/20  -  18:30
Atualizado em 29/08/20 - 19:23
Homem diz para jovens que gosta de assistir garotas praticando sexo após encontro via Tinder
Homem diz para jovens que gosta de assistir garotas praticando sexo após encontro via Tinder   Foto: Divulgação

O casal acusado de suposto estupro contra uma estudante de Direito de 21 anos, após atraí-la a um apartamento de Santos por meio do Tinder para um encontro apenas entre as garotas, sem a presença masculina, utilizou o mesmo expediente para enganar outra jovem. O caso segue em investigação pela Delegacia de Defesa da Mulher (DDM).


A Tribuna identificou a outra garota, que tem 25 anos e cursa faculdade de Serviço Social. “Graças a Deus não aconteceu nada comigo, além da surpresa desagradável. Se não fosse esta notícia de hoje (ontem, 28), não faria nada. Mas resolvi denunciar o caso, semelhante ao que aconteceu comigo e com as mesmas pessoas”, disse ela.


Depois de ser entrevistada pela Reportagem na manhã de sexta-feira (28), a estudante de Serviço Social compareceu à tarde na DDM. Ela teve o seu depoimento tomado pela delegada Karla Cristina Martins Pereira. Embora a jovem não tenha sido vítima de crime, o seu relato confirma boa parte da versão da estudante de Direito.


Perfil da mulher do casal alicia garotas para encontro via aplicativo em Santos
Perfil da mulher do casal alicia garotas para encontro via aplicativo em Santos   Foto: Reprodução

Engodo virtual


A acadêmica de Direito foi ao apartamento da pretensa amiga que conheceu no Tinder na noite da última quarta-feira (26). Em seu perfil no aplicativo de relacionamentos, a acusada se apresenta como uma jovem de 20 anos em busca de “apenas meninas e de preferência que saibam dialogar”.


O encontro foi marcado após a acusada dizer que estava sozinha no imóvel, pois os pais viajavam. Ela serviu cerveja à universitária e revelou que o “namorado” estava no quarto. Em seguida, surgiu na sala um homem branco, de cabelos compridos e com tatuagem colorida no braço direito. Ele disse gostar de ver meninas fazendo sexo.


Ao protestar que aquilo não havia sido combinado e recusar participar da aventura proposta, a estudante de Direito foi agarrada pela nuca e despida pelo homem, que a estuprou. A violência sexual foi comunicada no dia seguinte à Polícia Civil. A vítima se dirigiu à DDM de Santos acompanhada da mãe.


Delegacia de Defesa da Mulher na cidade registra 3 mil BOs por ano, dos quais metade vira processos
Delegacia de Defesa da Mulher na cidade registra 3 mil BOs por ano, dos quais metade vira processos   Foto: Vanessa Rodrigues/ AT

“Bonitinho”


A estudante de Serviço Social se encontrou com a jovem que conheceu no Tinder no dia 27 de maio e admitiu ter caído em um “golpe”. “Foi a mesma história da garota estuprada. Ela (acusada) me chamou para beber no apartamento dela porque os pais viajavam. Ainda perguntei se era mesmo solteira e ela disse que sim”, desabafou.


A universitária se encontrava na casa de uma amiga, no Gonzaga. Ela disse à paquera virtual que estava de moto, mas não queria pilotá-la, pois iria beber. A acusada, então, falou que a buscaria em um carro de aplicativo. No horário combinado, ela chegou em um veículo branco e a estudante a viu descer pela porta de trás.


“Acreditei que fosse mesmo um Uber, porque ela sentava atrás como passageira. Quando chegamos ao apartamento (que fica em outro bairro), ela comentou que o motorista era “bonitinho”, mas eu disse que nem havia reparado. Depois, ela preparou uma batida de maracujá com vodca e a gente ficou”, recordou a universitária.


Fetiche


Em dado momento, o suposto motorista entrou no apartamento e perguntou para a estudante se era bom “ficar” com a namorada dele. “Fiquei em estado de choque e com medo. A garota justificou que havia feito uma brincadeirinha, pois o fetiche do casal é sair com garotas. Mas o homem falou que eu não era obrigada a fazer nada”.


Diante da recusa da universitária, o suposto namorado perguntou se ela queria continuar a sós com a outra jovem. “Falei que queria sair e eles me deixaram de carro onde haviam me buscado. Eu não ia contar nada, mas depois que li a notícia sobre o estupro, decidi revelar a minha experiência para que ninguém mais seja enganado e aconteça algo pior”.


A moça e o namorado se apresentaram para as duas estudantes com idênticos prenomes e, aparentemente, revelaram as verdadeiras identidades. Embora a acusada tenha se intitulado como a moradora do apartamento onde ocorreram os encontros, não está descartada a hipótese de o imóvel ser do homem.


A delegada Karla Cristina informou que a investigação “está em curso” na DDM de Santos, da qual é titular, para a apuração da autoria do suposto estupro e de todas as suas circunstâncias. Porém, por se tratar de crime contra a dignidade sexual, o caso tramita em segredo de justiça, conforme o Artigo 234-B do Código Penal.


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