Novo golpe mira pessoas que entraram na Justiça e estão na lista de pagamentos de precatórios

Criminosos mandam mensagens e ligam a quem entrou com ação para comunicar vitória que não ocorreu e pedir depósito de taxas inexistentes

Por: Rosana Rife & Da Redação &  -  27/04/20  -  21:49
Cuidado ao baixar aplicativos no celular ou computador
Cuidado ao baixar aplicativos no celular ou computador   Foto: AdobeStock

Um novo golpe na praça mira em pessoas que entraram com ação na Justiça e estão na lista de pagamentos de precatórios. Esses atrasados judiciais poderiam chegar a quase R$ 90 mil, de acordo com os bandidos. Mas, para liberar o recurso, as vítimas teriam de pagar até R$ 4,2 mil em taxas de cartório e custas processuais.


Os golpistas aproveitam a quarentena para atacar, sabendo da dificuldade dos alvos para contatar advogados. Ciente da gravidade da situação, a Subseção de Santos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-Santos) pede que o Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP) e a Polícia Civil investiguem o caso.


Os estelionatários se passam por representantes de escritórios de advocacia e enviam mensagens pelo WhatsApp ou ligam para as vítimas. Com todos os dados delas em mãos, dizem que os valores serão liberados assim que a taxa ou as custas processuais forem quitadas e até enviam dados para o depósito ser feito em conta-corrente.


Vítima


Uma fonoaudióloga que mora em Santos e prefere não se identificar recebeu duas mensagens diferentes, no mesmo dia, sobre a “liberação de precatórios”. Ela aguarda o pagamento de valores em um processo iniciado há mais de 15 anos, mas desconfiou da oferta. 


Os estelionatários possuíam, além do telefone dela, nome completo, CPF e dados do processo. Cada um trazia um valor a ser creditado. Os nomes dos advogados também eram diferentes, assim como as taxas cobradas no suposto acerto com o cartório: R$ 4.222,90 num contato e R$ 3.912,10 no outro. 


Contudo, nas duas situações, o dinheiro deveria ser depositado em contas bancárias em nome de terceiros no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal.


“Na quinta-feira, recebi duas mensagens com o mesmo tipo de abordagem. Aguardo um precatório, só que achei o valor alto, porque é preciso pagar os honorários. Eles falaram em R$ 88 mil líquidos. Eu não caí, mas tem de alertar as pessoas, porque nesta época de pandemia está todo mundo precisando de dinheiro”.


Clientes


Duas clientes da advogada Karla Duarte Pazetti receberam ligações oferecendo a liberação de precatórios mediante o pagamento de custas processuais. Por sorte, nenhuma caiu no golpe.


“Elas são bem informadas. Vão ao site do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) para saber quem está para receber precatório. A primeira vez foi logo no início do isolamento social”.


Segundo ela, a cliente recebeu uma ligação, a pessoa se identificou como de um escritório de advocacia e citou o nome de outro profissional. “Ela estranhou. Disse que a advogada dela era outra e a pessoa ainda falou que nem adiantaria me ligar, porque eu estaria no fórum resolvendo o problema dela”, relata Karla.


A outra cliente foi contatada dois dias depois e também conseguiu se livrar do estelionatário. “A primeira precaução é essa. Tem que ligar para o seu advogado. Nessa época de pandemia, às vezes é difícil. Se não conseguir, acesse o site do tribunal para verificar a situação do processo. Se não souber, peça ajuda a um familiar”.


Vítima não deve dar atenção a bandidos


A dica dos advogados ouvidos por A Tribuna é apagar qualquer texto recebido com esse tipo de mensagem ou não dar prosseguimento a ligações telefônicas, caso a pessoa seja contatada por golpistas. 


O presidente da Subseção de Santos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-Santos), Rodrigo Julião, informa que a entidade abrirá procedimento para apurar o caso. Ele avisa para as pessoas ficarem alertas em relação a situações semelhantes. 


“Eles consultam os sites dos tribunais. O processo é público, a não ser nos casos que tramitam em segredo de justiça. É assim que conseguem as informações. Então, as pessoas devem ficar atentas”.


Investigações


Além da apuração a ser feita pela entidade, o presidente da OAB-Santos pediu a João Carlos Brasil Diegues, diretor do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP), e a Manoel Gatto Neto, diretor do Departamento de Polícia Judiciária do Interior-6 (Deinter-6), da Polícia Civil, que apurem os casos.


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