Mulheres acusam líder da Maçonaria em São Paulo de assédio sexual

Entidade e grão-mestre não se manifestarão porque ainda não foram citados, conforme informou um assessor da instituição

Por: Eduardo Velozo Fuccia  -  09/10/20  -  11:01
Entidade e grão-mestre não se manifestarão porque ainda não foram citados
Entidade e grão-mestre não se manifestarão porque ainda não foram citados   Foto: Reprodução

O grão-mestre (autoridade máxima) da Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo (Glesp), João José Xavier, está sendo acusado dos delitos de assédio sexual e importunação sexual por duas ex-funcionárias da instituição. Elas constituíram advogados para adotar as medidas cabíveis nas esferas criminal, cível e trabalhista.


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Com sede na Rua São Joaquim, 138, na Liberdade, região central da Capital, a Glesp congrega 23 mil filiados (denominados irmãos) e 800 lojas espalhadas pelos 645 municípios do Estado. As acusações contra o líder, que respingam no nome da instituição, já começam a repercutir internamente.


Um integrante de elevado posto na Glesp revelou que Xavier já manteve contato com irmãos que nomeou para cargos de confiança e lhes pediu uma espécie de “blindagem” se forem questionados sobre as acusações. A mesma pessoa também informou que representantes de lojas avaliam iniciar movimento para o líder abandonar o mandato.


O cargo de grão-mestre é eletivo. O mandato dura três anos e Xavier foi escolhido no ano passado para dirigir a Glesp. A Tribuna entrou em contato nesta quinta (8) com a instituição e um assessor do líder maçônico declarou que ele ou a organização não prestarão qualquer pronunciamento oficial, porque ainda não foram citados.


Retaliação


Maria (nome fictício) trabalhou como auxiliar de secretaria na Glesp, entre 8 de janeiro de 2001 e 1º de junho deste ano. Ela disse que foi demitida em retaliação por não ceder aos “caprichos sexuais” do grão-mestre, que começaram em 2016, antes de ele ser empossado como líder máximo. Na época, Xavier atuaria na Tesouraria da entidade.


Joana (nome fictício), a outra suposta vítima, trabalhava na área da limpeza e foi demitida da Glesp na mesma data da dispensa de Maria. Mais duas mulheres e um homem, que também foram funcionários da entidade, prestaram depoimentos, ratificando as denúncias das colaboradoras que teriam sido assediadas.


Os cinco depuseram diante de advogados, cinegrafistas e um escrevente do 1º Tabelião de Notas de Guarulhos. As narrativas foram gravadas em vídeos e transcritas em atas notariais, juntadas nas ações cíveis e trabalhistas ajuizadas. Elas também serão anexadas a pedido de providência criminal apresentado ao Ministério Público (MP).


Sobre o motivo da filmagem, o advogado Cícero Barbosa dos Santos justificou que “palavras escritas não transcrevem emoções. Os vídeos são muito fortes. Servem para reforçar os depoimentos contundentes das vítimas. Elas choram, se emocionam, demonstram repugnância com a situação e revolta pela humilhação que passaram”.


Ações ajuizadas


Cícero Santos e o advogado Anderson Durynek representam as vítimas nas esferas cível e criminal. Na segunda-feira (5), o juiz Miguel Ferrari Júnior, da 43ª Vara Cível de São Paulo, determinou que João José Xavier seja citado da ação de indenização por dano moral e, caso queira, ofereça contestação em até 15 dias úteis. Ainda não houve a citação.


Também foram ajuizadas ações perante as 69ª e 36ª varas do Trabalho de São Paulo. Representadas pelo advogado Edson Luiz Vitorello Mariano da Silva, Maria e Joana pedem, respectivamente, verbas que totalizam R$ 239 mil e R$ 88 mil, a título de diferenças salariais e indenização por dano moral decorrente de assédio sexual.


O homem que gravou o seu testemunho em vídeo é da área de Tecnologia da Informação. Ela afirmou que, “faz bom tempo”, o grão-mestre começou a assediar Maria de “forma progressiva”, demonstrando pelo olhar ser “fissurado” pela então auxiliar de secretária da entidade.


Investidas


“Depois que ele se tornou grão-mestre, as coisas pioraram, ele começou a me chamar com frequência no gabinete, ele começou a mostrar vídeos para mim no WhatsApp dele, de mulheres com a bunda de fora e falava assim: ‘nossa loirinha, olha só essa moça, que bunda bonita, deve ser igual à sua, só que infelizmente eu não vi a sua’ ”, detalhou Maria.


Uma secretária direta do acusado, referindo-se a “indiretas” do chefe a uma terceira funcionária, disse a Maria pelo WhatsApp: “Ele é nojento demais”. A tela do aplicativo com esse diálogo foi printada e juntada à ação cível de indenização por dano moral. Nas indiretas, conforme a secretária, Xavier comparou os glúteos de colaboradoras da Glesp.


Maria relatou que foi tocada nos seios e nas nádegas pelo superior em situações presenciadas por outras pessoas, aumentando o seu constrangimento. O ápice do assédio ocorreu com a pandemia, quando o acusado anunciou que haveria revezamento na Glesp e ele ficaria sozinho com ela “no gabinete”. A funcionária faltou 15 dias e foi demitida.


“Ele não podia me ver que ficava dando cantada, me abraçava, tocava em mim, na minha bunda e eu tinha que aceitar, porque eu tinha medo de perder o meu serviço por conta dos meus filhos, meu marido [...] Eu não me sentia bem, ficava vergonhosa”, acusou Joana, a auxiliar de limpeza.


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