Marido descobre traição da mulher e ela o esfaqueia em Praia Grande

Vítima, de 42 anos, levou golpes nas costas e no abdômen e foi atendida no Hospital Irmã Dulce

Por: Eduardo Velozo Fuccia  -  26/01/20  -  17:35
Faca utilizada na tentativa de homicídio foi apreendida pela polícia
Faca utilizada na tentativa de homicídio foi apreendida pela polícia   Foto: Divulgação/Polícia Civil

A história lembra as crônicas de Nelson Rodrigues, mas com uma versão atual. Já desconfiado de traição, o marido atende à ligação no celular da mulher. O número que ligou está salvo no aparelho, mas sem nome. Uma voz masculina pergunta pela dona do telefone e, após relutar em se identificar, diz ser o seu “namorado”.


A partir daí, houve o prenúncio de uma tragédia que não se consumou. Irritado, o traído se apresenta como o marido da destinatária da ligação, xinga o interlocutor e desliga o telefone. Em outra parte da moradia do casal, a pivô do caso, com requintes rodrigueano, corre ao quarto onde está o marido e tenta reaver o celular.


Durante breve discussão, que se estende à cozinha e à área de serviço, o homem atira o celular no tanque, danificando-o. A mulher pega uma faca na cozinha e golpeia o marido, com quem vive há sete anos e tem dois filhos, de 5 e 2 anos de idade. Atingido nas costas e no abdômen, ele vai sozinho ao hospital, recebe alta e volta para casa.


Vítima foi encaminhada ao Hospital Irmã Dulce, em Praia Grande, mas morreu horas depois
Vítima foi encaminhada ao Hospital Irmã Dulce, em Praia Grande, mas morreu horas depois   Foto: Arquivo/AT

Investigação


O episódio aconteceu na noite da última quarta-feira (22), no Boqueirão, em Praia Grande. O ambulante João (nome fictício), de 42 anos, se dirigiu ao Hospital Irmã Dulce. Acionados até lá, policiais militares comunicaram o caso na Delegacia Sede de Praia Grande, sendo registrado boletim de ocorrência de “tentativa de homicídio”.


Incumbida de esclarecer o crime, a equipe do delegado Flávio Magário e do investigador Gleydon Segundo ouviu com detalhes a versão de João. Depois, foi a vez de tomar o depoimento da também ambulante Maria (nome fictício), de 31 anos. Ela confessou ter desferido a facada no companheiro, porque ficou “nervosa” ao ter o celular quebrado.


Maria justificou que não é o primeiro telefone seu que João danifica. Porém, admitiu que o traía há pouco menos de um ano com o autor da ligação atendida pelo pai de seus filhos. Por fim, entregou a faca usada no crime e tentou abrandar a sua conduta, alegando que não teve intenção de matar a vítima.


Dom do perdão


Como não houve flagrante, Maria foi ouvida e liberada. A sua suposta intenção, de não matar, foi confirmada por João. O homem disse que a acusada é “boa mãe” e apenas tentou agredi-lo, porque poderia ter desferido outros golpes, mas não prosseguiu no ataque a facadas.


Magário ainda decidirá sobre qual é o enquadramento jurídico mais adequado ao delito. Porém, se dúvida ainda existe entre tentativa de homicídio ou mera lesão corporal dolosa, sob a ótica do investigador Gleydson Segundo, resta uma certeza: “João é um marido piedoso. Ele voltou para a casa e, além da traição, perdoou também o crime”.


Há quem diga que o ambulante apenas segue o preceito bíblico de perdoar quantas vezes forem necessárias. Sobre o tema, ao ser perguntado pelo discípulo Pedro se deveria perdoar até sete vezes o irmão que pecar contra ele, Jesus Cristo respondeu com a seguinte metáfora: “Não te digo sete vezes, mas até setenta vezes sete”.


Policiais do 1º DP de Praia Grande prenderam em flagrante uma mulher
Policiais do 1º DP de Praia Grande prenderam em flagrante uma mulher   Foto: Renan Fiuza/TV Tribuna

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