Um dos 12 alvos a serem capturados na Operação Sharks (tubarões, em português), deflagrada pelo Ministério Público (MP) paulista contra o Primeiro Comando da Capital (PCC), Cláudio José Pinheiro de Freitas, de 36 anos, morreu em tiroteio com policiais das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota). O confronto aconteceu nesta segunda-feira (14), em Praia Grande. O acusado possuía em seu apartamento pistola alemã, oito explosivos, colete à prova de balas, reais, dólares e guaranis (moeda paraguaia). Na linha de sucessão do crime, Cláudio era tido como um homem de confiança de Marcola.
Com diversas passagens e endereço oficial em Diadema, na região do ABC, conforme a sua ficha criminal, Cláudio estava morando em um edifício de classe média alta na Avenida Dona Ophelia Caccerari Reis, 404, no Aviação, em Praia Grande. Os policiais da Rota bateram à porta do apartamento do acusado às 6h, mas ele não a abriu.
Autorizados pela Justiça a prender Cláudio, revistar o imóvel e apreender tudo o que encontrassem de ilícito ou fosse do interesse das investigações do MP, os policiais da Rota arrombaram a porta do apartamento. O grupo de elite da Polícia Militar foi recebido a tiros pelo acusado, que portava uma pistola alemã Luger calibre 9 milímetros.
A reação foi imediata e à altura. Portando fuzil e pistola calibre .40, um tenente e um cabo, respectivamente, revidaram com quatro e dois disparos. Os policiais saíram ilesos ao confronto e atingiram Cláudio, que morreu antes da chegada de uma equipe de resgate. Debaixo do sofá da sala foram apreendidos um colete balístico e oito explosivos.
Para o manuseio, o transporte e a posterior detonação dos explosivos com segurança, o Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), outra unidade de elite da PM, foi acionado. Durante buscas pelo apartamento, os policiais da Rota recolheram quatro iPhones, pen drive e papéis, porque eles podem conter informações sobre a facção e os seus membros. O material foi lacrado e será encaminhado para a análise dos promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
Linha sucessória
Desde fevereiro de 2019, quando a Justiça transferiu a cúpula do PCC para penitenciárias federais, a pedido do MP, a facção tenta se reorganizar com a indicação de integrantes para postos de comando. Por meio da Sharks, o Gaeco identificou os novos líderes e as suas respectivas posições no organograma do partido do crime.
A partir deste levantamento, foram requeridos 12 mandados de prisão e 40 de busca e apreensão à 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital. Com o apoio de equipes da Rota, as ordens judiciais foram cumpridas simultaneamente na Capital, na Região Metropolitana de São Paulo, em Praia Grande e no Interior. Apenas quatro alvos foram capturados. Há suspeitas de que alguns procurados estariam na Bolívia, no Paraguai e até no continente africano.
Na nova hierarquia, o homem morto em Praia Grande assumiu o Setor do Raio-X – órgão de consulta da Sintonia Final, responsável pela comunicação entre a cúpula solta e todas as demais funções da facção. Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, é o chefe máximo do PCC, ocupa a Sintonia Final e está preso na Penitenciária Federal de Brasília.
De acordo com o MP, as provas colhidas revelaram que a cúpula da facção movimenta mais de R$ 100 milhões anualmente. A maior parte do dinheiro é oriunda do tráfico de drogas e da arrecadação de valores de seus integrantes. Tudo é submetido a rigoroso controle em planilhas. Para ocultar centenas de milhares de reais semanalmente, os investigados compravam veículos e usavam imóveis com fundos falsos, onde guardavam dinheiro vivo antes de realizar transferências, muitas vezes, por intermédio de doleiros.