Juiz recebe denúncia contra advogada e mais 6 pessoas; mulher de líder do PCC fica de fora

O grupo teria se associado para controlar um ponto de tráfico de drogas em São Vicente

Por: Eduardo Velozo Fuccia  -  31/12/20  -  17:00
Fernando Gonçalves dos Santos, o 'Azul' ou 'Colorido', é um dos principais líderes da facção
Fernando Gonçalves dos Santos, o 'Azul' ou 'Colorido', é um dos principais líderes da facção   Foto: Reprodução

A Justiça recebeu denúncia do Ministério Público (MP) contra sete pessoas acusadas de ligação com o Primeiro Comando da Capital (PCC). Entre os réus está uma advogada. Na mesma decisão foi rejeitada a acusação oferecida contra uma oitava investigada. Ela é mulher de um dos denunciados, considerado do alto escalão da facção criminosa. O grupo teria se associado para controlar um ponto de tráfico de drogas em São Vicente. 


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Entre os sete acusados que agora se tornaram réus está Fernando Gonçalves dos Santos, o 'Azul' ou 'Colorido'. Nos arquivos policiais consta que o seu endereço é no Morro da Penha, em Santos. Condenado a 28 anos de reclusão por tráfico, roubo e receptação, ele galgou posição de destaque no organograma do PCC e estava na Penitenciária II de Presidente Venceslau (SP) até 13 de fevereiro de 2019. 


Nesta data, a cúpula da facção foi transferida ao sistema penitenciário federal como forma de desarticular a comunicação que ela mantinha entre si e com comparsas soltos, apesar de estar presa em uma unidade considerada de segurança máxima. Ao todo, 22 criminosos foram removidos, a começar por Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, líder máximo do PCC. 


Colorido teve como destino a Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia, e precisou se rearticular para continuar exercendo o seu poder atrás das grades. Para isso, conforme procedimento de investigação criminal do núcleo santista do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MP, ele contou com a colaboração da advogada Janaína Maria Rodrigues Rosa. 


Citada pelo Gaeco como “advogada vinculada ao PCC, funcionando especialmente como mensageira entre a cúpula da organização criminosa, cujos membros se encontram presos, e os faccionados que permanecem em liberdade”, Janaína foi visitar Colorido em Porto Velho. Ela recebeu ordens desta liderança para promover Willian Nascimento Boaventura, o Bolacha, seu ex-companheiro, a “apoio da sintonia final” da facção. 


Monitoramento telefônico autorizado pela Justiça possibilitou ao Gaeco apurar que Willian, por meio de Janaína, manteve contato com Genildo Urias dos Santos, o Cão do Mangue, recolhido na Penitenciária de Avaré (SP). Mais ligações foram rastreadas, identificando-se a suposta participação no esquema de Adriana Conceição da Costa, Cléber Carlos dos Santos Costa e Tânia Cristina Bartko Costa. 


O grupo especial do MP também detectou que Talita da Silva Correa faria parte da organização chefiada por Colorido, o seu marido. Aquisição de mais de R$ 200 mil em cocaína na região de Corumbá (MS), próximo à fronteira com a Bolívia, é apontada pelos promotores do Gaeco como apenas uma das transações feitas por alguns dos investigados em 2019. O objetivo seria abastecer o ponto de tráfico em São Vicente. 


Os réus e os crimes 


Com exceção de Talita, o juiz Rodrigo Barbosa Sales, da 3ª Vara Criminal de São Vicente, recebeu a denúncia contra todos os acusados. Para o magistrado, a única circunstância provada pelo MP em relação a ela é a de ser mulher de Azul.  “Não há qualquer indicação de fato concreto que demonstre estabilidade e permanência de vínculo com o objetivo da prática dos crimes descritos na Lei 11.343/2006 (Lei de Drogas)”. 


Segundo o juiz, “a ação penal não se reveste de instrumento hábil para o aprofundamento da investigação estatal”. Deste modo, diante de indícios frágeis contra alguém, não se pode receber a denúncia sob a expectativa de surgirem provas que até então não foram produzidas. “Neste caso, houve abuso do direito de acusar. O crime de Talita é o de ser mulher de suposta liderança do PCC”, declarou o advogado João Manoel Armôa Júnior. 


 João Manoel Armôa Júnior pediu a absolvição ou, pelo menos, o reconhecimento do “tráfico privilegiado”
 João Manoel Armôa Júnior pediu a absolvição ou, pelo menos, o reconhecimento do “tráfico privilegiado”   Foto: Divulgação

Colorido e Bolacha viraram réus dos delitos de associação para o tráfico de drogas e de organização criminosa com as agravantes de ser armada e transnacional. A denúncia contra Janaína, Cão do Mangue, Adriana, Cléber e Tânia lhes atribui apenas o crime de associação para o tráfico.  Adriana e Tânia são mulheres, respectivamente, de Cão do Mangue e Cléber, conhecido por Binho. 


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