Guarda Municipal matou a ex-mulher por não querer pagar pensão em Guarujá

A vítima levou pelo menos um tiro. O seu corpo foi enterrado no quintal da residência do acusado

Por: Eduardo Velozo Fuccia  -  25/08/20  -  22:40
Rosana Fernandes Silva desapareceu na sexta-feira (14)
Rosana Fernandes Silva desapareceu na sexta-feira (14)   Foto: Reprodução/Facebook

A mulher morta e enterrada pelo ex-companheiro na residência do acusado, em Guarujá, ajuizou ação para reivindicar pensão para os dois filhos do casal, de 7 e 3 anos de idade. Desaparecida desde o último dia 14, a auxiliar de limpeza geral Rosana Fernandes da Silva, de 32 anos, teve o corpo achado em uma cova rasa na noite de segunda-feira (24). Guarda municipal, Anderson Vitor Alves, de 46 anos, confessou o crime e está preso.


“Ajuizamos a ação de pensão alimentícia há cerca de um mês e meio. Dois dias antes de Rosana sumir, a 1ª Vara de Família e Sucessões de Guarujá expediu ofício à Prefeitura do município para que ela descontasse 30% dos vencimentos líquidos do acusado”, informou o advogado Christian Aparecido do Nascimento. Ainda não houve audiência do processo, mas o magistrado ordenou o desconto a título de tutela de urgência.


A existência da ação cível tem relevância ao processo criminal que o guarda municipal irá responder. O pedido judicial de pensão diz respeito à suposta motivação do homicídio, que qualifica o crime, tornando-o hediondo. Outra qualificadora a ser atribuída ao assassinato é a do feminicídio, sem prejuízo de outras que poderão surgir até o fim das investigações. Anderson também responderá por ocultação de cadáver.


Ponto de ônibus e câmeras


Rosana sumiu após passar em seu local de trabalho para assinar a documentação referente às suas férias. Naquela data, ela telefonou para a mãe às 19h39 e avisou que visitaria uma amiga antes de retornar para casa. Desde então, a vítima não foi mais vista nem deu notícias sobre o seu paradeiro. Porém, a equipe da 3ª Delegacia de Investigações sobre o Homicídios conseguiu rastrear os seus últimos passos.


“Por meio de imagens de uma câmera de segurança, apuramos que a vítima estava em um ponto aguardando ônibus e embarcou em um Renault Sandero vermelho”, revelou o delegado Renato Mazagão Júnior. Ele comanda a Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic), à qual estão vinculadas a 3ª Delegacia de Homicídios, a 1ª Delegacia de Investigações Criminais e a 2ª Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes.


O guarda municipal possui um carro do mesmos modelo e cor, mas não se tinha certeza de que Rosana entrou no automóvel dele. A prova de que o Sandero vermelho era de Anderson surgiu na sequência das investigações. Os policiais da 3ª Delegacia de Homicídios obtiveram acesso à imagem de outra câmera, ainda nas imediações do ponto de ônibus, que captou a placa do veículo.


Mentira desmascarada


Com a certeza de que Rosana esteve com Anderson na data do seu desaparecimento (14), Mazagão intimou o guarda municipal para prestar declarações. “Perguntamos quando foi a última vez que ele esteve com a ex-mulher e a resposta foi o Dia dos Pais (9). Sabíamos que não era verdade, mas não falamos nada, porque a mentira serviu para fundamentar o nosso pedido de prisão temporária de 30 dias”.


O delegado também requereu autorização para revistar a casa do suspeito. O juiz André Rossi, da 2ª Vara Criminal de Guarujá, acolheu os pedidos de Mazagão e determinou a expedição da ordem de captura de Anderson e do mandado de busca e apreensão para a residência do guarda municipal. O imóvel fica na Rua Cataguá, no Jardim Virgínia, e não havia ninguém nele, além de dois cachorros da raça pastor alemão.


Inicialmente, os investigadores prenderam Anderson no local onde ele trabalhava, na segunda-feira (24). Os policiais o levaram à 3ª Delegacia de Homicídios e lhe exibiram a imagem da vítima entrando em seu carro na data em que ela desapareceu. Desmascarado na mentira segundo a qual ele viu a ex-mulher pela última vez no Dia dos Pais, o guarda municipal contou que a matou e jogou o corpo no Rio Itapanhaú, em Bertioga.


Veículo do acusado: câmeras flagaram a vítima entrando no carro
Veículo do acusado: câmeras flagaram a vítima entrando no carro   Foto: Divulgação Polícia Civil

Versão do acusado


Os policiais foram ao local indicado pelo acusado e constataram que ele continuava a mentir. “O acesso ao trecho do rio mostrado pelo guarda não é possível, porque há um portão trancado com cadeado. Quando soube que tínhamos autorização para revistar a sua casa, ele contou que enterrou o cadáver no quintal”, disse o delegado Mazagão. Já era noite quando a equipe do investigador Fernando Coelho achou o corpo.


Com o uso de enxadas, os policiais escavaram a cova, que tem cerca de 30 centímetros de profundidade. O quintal ocupa a frente e a maior parte do terreno. A casa fica nos fundos. Desde a data do crime, Anderson residia em outro imóvel, em São Vicente. Agora, durante a prisão temporária, ele se encontra na cadeia do 5º DP de Santos. Mazagão pretende concluir nos próximos dias o inquérito e pedir a preventiva do guarda.


Anderson relatou que começou a brigar com a ex-mulher porque ela estaria exigindo R$ 2 mil, mas ele só teria R$ 350,00 para lhe dar. Durante o desentendimento, ainda conforme a versão do acusado, ele caiu de costas e um revólver calibre 38 de sua propriedade disparou acidentalmente, acertando o rosto de Rosana. O guarda afirmou que a arma estaria na casa de Guarujá, mas ela não foi localizada.


Casa onde foi localizado o corpo de Rosana Fernandes da Silva
Casa onde foi localizado o corpo de Rosana Fernandes da Silva   Foto: Divulgação/Polícia Civil

Premeditação


A quantidade de tiros e as partes do corpo da vítima atingidas pelos disparos só serão definidas por meio de exame necroscópico. A versão de Anderson não convenceu os investigadores, que acreditam em crime premeditado. Segundo uma amiga de Rosana, Anderson dava apenas R$ 400,00 por mês à ex-mulher. Esta amiga acompanhou a auxiliar de limpeza ao escritório do advogado que ajuizou a ação de pensão alimentícia.


De acordo com Mazagão, por enquanto, não há indícios da participação de outras pessoas, tanto no planejamento quanto na execução dos crimes de homicídio e ocultação de cadáver. Anderson vive atualmente com uma mulher com quem tem um filho. Ele chegou a separar dela para manter relacionamento com Rosana. Depois, se separou da vítima e reatou com a primeira companheira.


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