Golpe de R$ 1,4 milhão faz sonho de morar na Europa virar pesadelo

MP denuncia por estelionato casal morador em Santos e homem residente na Capital. As vítimas são um artista plástico e a sua mulher

Por: Eduardo Velozo Fuccia  -  02/07/20  -  11:25
Pedro Melo Junior, Fabíola Freire e Tiago Siqueira serão processados por estelionato
Pedro Melo Junior, Fabíola Freire e Tiago Siqueira serão processados por estelionato   Foto: Fotos: Divulgação

O Ministério Público (MP) denunciou na segunda-feira (29) um casal residente em Santos e mais um homem morador em São Paulo sob a acusação de lesarem um artista plástico e uma paisagista em R$ 1,4 milhão.


As vítimas entregaram a quantia em três ocasiões, entre julho e outubro de 2017, na Capital. Imaginavam que faziam segura e rentável operação de investimento e remessa de valores ao exterior. Os aportes foram de R$ 800 mil, R$ 400 mil e R$ 200 mil.


Para angariar a confiança das vítimas, o casal denunciado as levou por duas vezes para a Áustria. Ele alegou que inauguraria em Viena uma galeria de artes e nela o artista plástico poderia expor as suas obras. Porém, isso nunca aconteceu.


Segundo a promotora Daniela Moysés da Silveira Favaro, Tiago Carvalho Siqueira, Fabíola de Almeida Freire e Pedro Rodrigues de Melo Junior devem ser processados por estelionato e, ao final da ação, condenados.


A acusação formal do MP narra que os três denunciados são sócios da empresa TF2P e, “previamente ajustados e com unidade de desígnios (vontades)”, induziram as vítimas em erro, mediante fraude, para a obtenção de vantagem ilícita.


Vítima do golpe é o artista plástico Sami Hassan Akl
Vítima do golpe é o artista plástico Sami Hassan Akl   Foto: Arquivo pessoal

“Nossos planos foram destruídos. Perdemos oportunidades. Eles lesaram uma família em R$ 1,4 milhão há três anos”, desabafa a paisagista Viviane Werdine Bogari. Ela é mulher do artista plástico Sami Hassan Akl.


Morar na Europa


Viviane e Sami Akl conheceram os acusados por intermédio de um advogado, que soube da intenção das vítimas, naquela época, de morar na Europa. Além de apresentar o casal aos denunciados, este advogado participou de conversas sobre o investimento.


Segundo a paisagista, o advogado afirmou que Portugal, país onde as vítimas pretendiam se radicar, tem “economia muito volátil”. Em seguida, sugeriu aplicar recursos na Áustria, por também integrar a União Europeia e ser mais seguro para investir.


Outra justificativa do advogado foi a de que os donos da empresa de investimentos teriam um escritório em Viena e poderiam prestar toda a assistência necessária. A sucessão de diálogos fez Sami Akl e Viviane acreditarem na idoneidade da operação financeira.


Ele alegou que inauguraria em Viena uma galeria de artes e nela o artista plástico poderia expor as suas obras
Ele alegou que inauguraria em Viena uma galeria de artes e nela o artista plástico poderia expor as suas obras   Foto: Divulgação

Em certa ocasião, o casal Fabíola e Tiago, que mora em Santos, foi à residência das vítimas, em São Paulo. O objetivo era tratar dos investimentos, mas a denunciada demonstrou interesse pelos quadros expostos no imóvel, perguntando quem os pintou.


Viviane respondeu que o marido era o autor das obras. Fabíola contou que inauguraria uma galeria de artes em Viena e queria que Sami Akl expusesse os seus quadros lá. A conversa evoluiu e as vítimas, por duas vezes, viajaram para a capital austríaca.


Sempre vestida com roupas de grife e fazendo questão de afirmar ser sobrinha de um renomado cirurgião de Santos, Fabíola pediu para Sami Akl destinar várias obras para a exposição. Mas o resultado só foi frustração. “Não aconteceu nada”, resume Viviane.


Mais prejuízos


As vítimas perceberam que foram ludibriadas com o suposto investimento, devidamente documentado em contrato, quando estavam na Áustria pela segunda vez. Somando os períodos das duas viagens, elas permaneceram naquele país 34 dias.


A prometida inauguração da galeria de artes de Fabíola que não aconteceu só fez acender um sinal de alerta para a paisagista e o artista plástico. Eles pediram a devolução dos recursos investidos, mas até hoje não foram ressarcidos.


Obras de Sami Akl
Obras de Sami Akl   Foto: Divulgação

Sobre os 30 quadros levados a Viena, Viviane conta que 25 foram recuperados depois de grande logística e gastos para buscá-los. Cinco ainda continuam na Áustria como garantia, porque os acusados não pagaram o profissional contratado para emoldurá-los.


Inquérito policial


O golpe foi apurado em inquérito policial. Nesta fase, Pedro negou a prática do estelionato, mas admitiu que recebeu valores das vítimas, repassando-os para Tiago. Fabíola sequer compareceu à delegacia para ser ouvida.


Tiago confirmou o recebimento dos valores mencionados pelo artista plástico e pela paisagista, mas argumentou que os perdeu em um investimento. Ele também tentou isentar de responsabilidade os demais denunciados.


Além de Fabíola, Tiago e Pedro, mais três homens e uma mulher também foram investigados como envolvidos no golpe. A promotora requereu o arquivamento do inquérito em relação aos quatro últimos por falta de provas.


Entre os que não foram denunciados está o advogado que apresentou as vítimas a Pedro e ao casal de Santos. Para a representante do MP, não há provas de que ele teve intenção de obter ou tenha recebido vantagem indevida.


No entanto, em aparente contradição, a promotora mencionou na denúncia que o próprio advogado declarou ter recebido R$ 7 mil por ter indicado as vítimas aos denunciados, embora ele tenha negado participação no estelionato.


Rede internacional


A advogada Luiza Nagib Eluf representa as vítimas e disse que as investigações devem continuar com rigor para desbaratar a quadrilha, rotulada por ela de “rede de estelionatários internacional”.


De acordo com Luiza Eluf, o avanço das investigações deve trazer à tona mais crimes, como o de lavagem de dinheiro, e identificar outras vítimas. “O delito é de extrema gravidade, porque envolve organização criminosa internacional”.


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