Família contesta versão da PM para morte de homem na Zona Noroeste em Santos

Policiais disseram que Jailton Costa da Anunciação atirou contra a equipe. Familiares falam em assassinato

Por: Da Redação  -  28/10/19  -  13:54
A ex-mulher, Vanessa, e as filhas do casal, de 14, 8 e 4 anos, tentam superar a tragédia
A ex-mulher, Vanessa, e as filhas do casal, de 14, 8 e 4 anos, tentam superar a tragédia   Foto: Sílvio Luiz/ AT

Jailton Costa da Anunciação, de 34 anos, morreu baleado por policiais militares na tarde da última quinta-feira (24), no Rádio Clube, na Zona Noroeste, em Santos. Segundo boletim de ocorrência registrado no 5° DP, os PMs disseram que ele disparou contra a equipe, que revidou. Porém, para a família de Jailton e moradores do bairro, ele perdeu a vida injustamente. 


A versão oficial é a de que policiais realizavam uma operação no local quando viram diversos indivíduos no Caminho São José, sendo que um deles atirou contra a polícia, que revidou com tiros de metralhadora e pistola. 


O baleado caiu no chão e rastejou para dentro de uma viela. Os outros dois ou três sujeitos correram sentido mangue. Pelo caminho de fuga, foi encontrada uma mochila com 353 pedras de crack, um saco com crack a granel e 143 porções de maconha. 


O baleado era Jailton. Mas a família só descobriu isso na sexta-feira (25), quando ele não apareceu no trabalho e nem respondia ligações e mensagens. 


Cena do crime 


Segundo sua filha mais velha, de 14 anos, ela chegou a ir até a casa do pai para buscar a mochila da irmã, que iria para a creche no outro dia. Mas foi impedida de entrar na residência, que fica num beco perto do Caminho São José. 


A jovem afirma que os policiais disseram que ela não poderia entrar no local por ser cena de crime e fizeram perguntas sobre Jailton, como o relacionamento dele com a família. “Mais tarde, voltamos para buscar a mochila e vimos a casa desarrumada. Estava tudo bagunçado”, conta ela. 


Sangue em casa 


A irmã de Jailton, que prefere não ter o nome revelado por medo, diz que, ao chegarem na casa dele para ver o que tinha acontecido, encontraram o boné dele numa poça de sangue. “Ele foi pego em casa. Tinha sangue lá dentro. Vimos também umas cápsulas com açúcar em uma mochila e duas armas de brinquedo”.  


Ela conta que o irmão tomou três tiros no peito e um na palma da mão. “Isso prova que ele tentou se defender e nem correu. Me dói saber que ele foi tratado como lixo. Nós só o encontramos na sexta e não teve tempo para velório. É desumano. Foi julgado pela aparência”. 


Outro lado 


Na Zona Noroeste, Jailton era conhecido como um vendedor de gás carismático, sorridente e trabalhador. Para os próximos dias, está sendo planejado um protesto cobrando uma apuração do caso. 


O vendedor estava separado da mãe de suas três filhas, a diarista Vanessa Santos do Nascimento, de 31 anos, há pouco mais de um mês. Ela mesma conta que ele foi usuário de álcool e drogas antes de conhecê-la, mas que frequentava reuniões para pessoas em abstinência. 


Apesar do rompimento, os dois mantinham contato frequente por conta das meninas. “Não tenho o que dizer dele. Ele ia com as nossas filhas na igreja e era muito carinhoso e preocupado. Elas dormiam com ele toda noite. Agora, quem é que vai sustentá-las?” 


Resposta 


A Polícia Militar informa, por meio de nota, que foi instaurado Inquérito Policial Militar para apurar as circunstâncias do fato. O caso é investigado pelo 5° DP de Santos. Durante operação no local, militares iniciaram uma tentativa de abordagem a um grupo e um dos integrantes, armado, disparou contra os policiais, que intervieram. Um homem foi atingido e socorrido para a UPA da Zona Noroeste, onde morreu. 


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