Em mais de três horas de interrogatório, entre a tarde e a noite desta terça-feira (3), na Vara do Júri de Santos, o empresário Vitor Alves Karam, de 33 anos, alegou inocência na morte de Lucas Martins de Paula, de 21, quartanista de Engenharia Elétrica. “Não discuti, não agredi e não mandei que ninguém batesse. Estava apenas trabalhando”.
O universitário morreu em decorrência de agressão cometida por seguranças da casa noturna Baccará, no Embaré, cujo dono era Vitor Karam. Discordância na cobrança de uma cerveja de R$ 15 motivou a violência. Porém, o empresário destacou ter feito tudo o que estava ao seu alcance para evitar o crime, classificado por ele de “fatalidade”.
Inicialmente, respondendo a perguntas formuladas pelo promotor Geraldo Márcio Gonçalves Mendes, Vitor atribuiu a Anderson Luiz Pereira Brito, de 47 anos, chefe da segurança, a responsabilidade pela contratação dos seguranças da casa noturna.
Único dos quatro réus do processo que permanece foragido, Anderson ofereceu os seus serviços à casa noturna e, após conversar com o pai de Vitor, ficou estabelecido que ele se encarregaria de contratar os seguranças, orientá-los e remunerá-los, após receber em espécie o pagamento da casa noturna ao fim de cada dia de trabalho.
Essa informação foi prestada por Vitor, que acrescentou ter passado a Anderson a recomendação para não contratar seguranças que tivessem antecedentes criminais.
O empresário também afirmou que orientou Anderson a “convidar” os clientes a se retirarem, caso ocorresse alguma confusão, embora o chefe da segurança também tivesse “autonomia” para retirá-los do estabelecimento se houvesse “arruaça”.
'Vaso quebrando'
Sobre a confusão que resultou na agressão de Lucas, Vitor disse que a vítima e amigos dela estavam “exaltados”, a ponto de um dos acompanhantes do universitário ter sido retirado duas vezes do bar Baccará naquela ocasião, madrugada de 7 de julho de 2018.
Ainda conforme o empresário, em determinada ocasião, Lucas chegou a derrubar o segurança Thiago Ozarias Souza, de 30 anos, com o golpe conhecido por “guilhotina”, no corredor perto da saída da casa noturna.
Logo em seguida, já na parte externa, Thiago agrediu Lucas com socos, mas o estudante não perdeu os sentidos e tentou esmurrar outro segurança, Thiago Ozarias Souza, de 30 anos, ainda conforme Vitor.
Simultaneamente, o empresário narrou que um amigo do universitário passou por ele correndo para tumultuar ainda mais a situação, e ele apenas o segurou para “contê-lo”.
“Todos estavam exaltados. Tentei acalmar, mas a situação saiu do controle. Ninguém me ouvia. Ainda dei um toque para o Anderson mandar os seguranças pararem e ele me atendeu, mas tudo aconteceu muito rápido, em uns oito segundos”, detalhou Vitor.
Apesar da ordem que o chefe da segurança teria dado, ainda conforme o empresário, Sammy desferiu um soco em Lucas, fazendo-o cair e bater a cabeça no chão.
“Só ouvi um barulho forte, ‘pof’, como se fosse um vaso quebrando”, comparou o dono da casa noturna. Vítima de traumatismo craniano, Lucas morreu 12 dias depois na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Santa Casa de Santos.
Antes do início da audiência, Isaías de Paula e Cláudia Cristina Martins de Paula, pais de Lucas, estavam nas escadarias do Fórum. O casal vestia camiseta com a foto do filho e segurava faixa com a inscrição “Justiça já e punição severa aos culpados”.
O juiz Alexandre Betini presidiu a audiência. Participaram dela os advogados Eugênio Malavasi, Eduardo Durante, Mário Badures e Pedro Furlan, respectivamente, defensores dos réus Vitor, Anderson, Sammy e Thiago. Assistente da acusação, o advogado Armando de Mattos Júnior também participou do interrogatório.