Delegado Da Cunha, com mais de 4 milhões de seguidores, diz que já encontrou fã em operação

Os canais do YouTube e Facebook do santista fazem o maior sucesso com abordagens, situações inusitadas e um pouco de sua rotina nas ruas

Por: Nathála de Alcantara  -  15/02/21  -  10:13
Nas redes sociais, muitos seguidores mandam mensagens e acompanham seu trabalho
Nas redes sociais, muitos seguidores mandam mensagens e acompanham seu trabalho   Foto: Arquivo Pessoal

As postagens nas redes sociais já tinham a intenção de divulgar o trabalho da polícia e alcançar um público mais jovem, mas o sucesso do delegado Carlos Alberto da Cunha é tanto que até no meio de uma operação policial, com fuzil na mão, ele dá de cara com seus fãs. Hoje, são mais de 4 milhões de seguidores em suas contas Delegado da Cunha, como é conhecido, no YouTube e Facebook. Isso sem contar os que o acompanham em sua conta pessoal no Instagram. Tudo para acompanhar suas postagens, que mostram abordagens, situações inusitadas e um pouco de sua rotina nas ruas.


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Ele tem 43 anos de idade e 16 como delegado. Santista, agora atua há dois anos como delegado da Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências – Cerco e da 8ª Seccional da Polícia Civil de São Paulo.


Sobram histórias para contar em tantos anos de polícia, mas uma de suas favoritas aconteceu ao tocar a campainha de uma casa durante uma operação policial.


"O rapaz que abriu a porta não acreditava que era eu, ficou achando que era pegadinha. Ele chamou o pai dele para ver quem era e eu fui conversando para convencê-lo de que o trabalho era real. Na televisão da sala da casa, eles estavam assistindo um dos meus vídeos", conta ele, dando risada, e lembrando que o rapaz ainda o ajudou bastante empolgado a entrar na casa ao lado, que tinha envolvimento com o crime.


Sobram histórias para contar em tantos anos de polícia
Sobram histórias para contar em tantos anos de polícia

O delegado explica que atua no combate ao crime organizado na Zona Leste de São Paulo, sejam relacionados a facção ou roubo a banco. "É uma delegacia especializada e que não atende o público. Fazemos o trabalho de investigação e vamos atrás".


No currículo, Da Cunha tem muito mais do que milhões de seguidores. Começou na polícia em Miracatu, no Vale do Ribeira. Também atuou por oito anos no Grupo de Operações Especiais (GOE), no Palácio da Polícia, em Santos. A despedida oficial - e profissional - da região aconteceu em 2013. De segunda a sexta-feira, o delegado fica em São Paulo a trabalho. Mas, aos finais de semana, vem a Santos para ver a família e matar a saudade de sua terra natal.


O único detalhe é que uma única ida à praia é motivo, literalmente, de parar o trânsito. Isso porque, além de tudo, ele também faz sucesso no aplicativo Tiktok.


"Essa repercussão foi uma coisa natural. A ideia era divulgar o trabalho da polícia na internet, para um público a partir dos 10 anos que não vê mais televisão aberta. Como os mais jovens consomem o conteúdo de YouTube, quis ampliar a rede de publicação. Agora, não consigo mais andar na rua. Tem criança pequena com bolo de aniversário sobre isso. É a conta com mais seguidores na história da polícia de todos os tempos".


O sucesso é tanto que até durante as operações aparecem fãs do seu trabalho
O sucesso é tanto que até durante as operações aparecem fãs do seu trabalho

Na região, ele lembra de uma história que aconteceu anos atrás em Caruara, área continental de Santos. Ao prender um homem usando inclusive bomba de efeito moral, ele ouviu algo inusitado. "Ele achou a prisão tão bonita que me pediu cópia do vídeo depois. Eu não passei, claro, mas ele deve ter assistido".


Vida pessoal


Além do trabalho e das redes sociais, Da Cunha voltou a treinar judô, esporte pelo qual é apaixonado, é pai de três filhos (de 16, 12 e 8 anos) e ainda sobra tempo para ser professor universitário, palestrante e namorar uma santista. "A polícia não entra muito em casa. Temos uma vida normal. Não tenho problemas em falar sobre isso, mas temos coisas mais interessantes para conversar na relação pai e filhos", explica ele.


Sobre o sucesso no meio policial, ele argumenta que "ninguém é unanimidade". Mas acrescenta que "esse conteúdo melhora a imagem da polícia. Elas entendem nível de complexidade do trabalho, em como é difícil produzir a prova para o juiz produzir uma condenação", diz Da Cunha.


Bem humorado e de conversa leve, ele brinca que tentou fazer stand up, mas que não passou no teste e entrou para a polícia. "Está tudo desse jeito porque quem entra nessa carreira tem um estereótipo. Não precisa intransigência. Para que ser desse jeito? Hoje, a população desconfia da polícia e vice-versa. No fundo, sei que eles se amam, mas ainda não descobriram isso".


Da Cunha explica que as postagens são feitas de acordo com as ocorrências e que, por isso, nem sempre tem vídeo ou foto nos canais
Da Cunha explica que as postagens são feitas de acordo com as ocorrências e que, por isso, nem sempre tem vídeo ou foto nos canais

Carreira


Ao contrário do que muitos pensam sobre ele, Da Cunha era atleta profissional e nunca tinha pensado em entrar para a polícia até servir no Exército. Ele lutava judô, esporte que lhe abriu muitas portas e permitiu até que se formasse em Direito por conta da bolsa de estudos. "Fui parar no 2º Batalhão de Infantaria Leve, em São Vicente. Na época, o atual ministro da Defesa (general Fernando Azevedo e Silva) me convenceu a entrar para a polícia. Sou de uma família humilde e, para pagar as contas, tive de largar o esporte", lembra ele.


Hoje, Da Cunha inspira milhares de outros jovens, que interagem pelas redes sociais e contam sobre o sonho de trabalhar como ele um dia.


"Os vídeos mostram o nosso trabalho, a vida real. Nós não postamos todos os dias, porque não tem operação todo dia. Uma investigação dura dois meses para terminar em uma operação. Essa é a parte final da história. O canal não é uma série de televisão. Aquilo é o dia a dia, o que realmente acontece".


A vontade de entrar para a polícia começou quando entrou para o Exército
A vontade de entrar para a polícia começou quando entrou para o Exército

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