Após boato na internet, eletricistas são confundidos com ladrões de condomínio

José Nilton da Mota Lima e Robson Oliveira dos Santos são funcionários de uma empresa terceirizada da CPFL Piratininga e estão trabalhando com um boletim de ocorrência na carteira para provar inocência

Por: Eduardo Velozo Fuccia  -  17/05/19  -  23:20
Eletricistas estão andando com boletim de ocorrência para provar inocência
Eletricistas estão andando com boletim de ocorrência para provar inocência   Foto: Irandy Ribas/AT

A exposição de suas imagens nas redes sociais, rotulando-os como ladrões de condomínios, viralizou. Assustados e indignados com a repercussão, os eletricistas José Nilton da Mota Lima, de 33 anos, e Robson Oliveira dos Santos, de 40, constituíram o advogado Leandro Weissmann. O objetivo é adotar as medidas judiciais cabíveis nas esferas penal e cível.


“O nosso ponto de partida foi registrar boletim de ocorrência por difamação e calúnia no 3º DP de Santos para responsabilizar criminalmente quem postou e compartilhou as imagens dos trabalhadores nas redes sociais. Mas nós também estamos providenciando o ajuizamento de ação cível contra o condomínio para buscar a indenização pelo dano moral causado”, explicou Weissmann.


O caso foi registrado no distrito policial da Ponta da Praia porque na área dessa repartição fica o edifício da Rua Álvaro Alvim, 26, no Embaré, cuja câmera de segurança filmou os eletricistas em frente ao prédio, no início da tarde do último dia 7, terça-feira da semana passada. Sem saber que era filmada, a dupla foi surpreendida três dias depois com o vídeo circulando pelo WhatsApp, mas a postagem já viralizava pelo menos desde a véspera.


Funcionários de uma empresa terceirizada da CPFL Piratininga, os eletricistas foram alertados por colegas sobre a postagem caluniosa. “Um colega recebeu o vídeo pelo WhatsApp e mandou para mim na sexta-feira da semana passada. Entrei em pânico, porque me chamavam de “bandido uniformizado com roupas da CPFL”, disse José Nilton, que é casado e tem uma filha de 9 anos.


“Quando fomos fazer o BO na delegacia, um policial já havia recebido o vídeo e orientou a gente a tomar cuidado nas ruas”, acrescentou Robson, também casado. Grávida do primeiro filho do casal, a mulher dele ficou bastante abalada com o episódio, conforme o eletricista fez questão de frisar.


Mensagens sobre os eletricistas circularam pela internet
Mensagens sobre os eletricistas circularam pela internet   Foto: Reprodução

Acesso negado


Devidamente uniformizados, portando crachás e estando em veículo da empresa identificado com logotipo, os eletricistas chegaram ao edifício para checar se um apartamento, cuja energia havia sido cortada por inadimplência, ainda continuava sem força.


“Estávamos com ordem de serviço para verificar se a luz havia sido religada indevidamente pelo morador, mas não entraríamos na unidade. Essa checagem acontece no centro de medição, que fica no térreo, nos prédios mais modernos, ou no andar do apartamento, nos condomínios antigos”, explicou José Nilton.


Ele e o colega se identificaram e informaram o motivo da visita na guarita da portaria, dotada de vidro espelhado. Por isso, os trabalhadores não viram quem estava dentro dela, mas afirmaram que uma “voz feminina” pediu para aguardarem, pois interfonaria ao morador. Depois, a funcionária disse que o condômino logo desceria, mas ninguém apareceu.


Após um período de 10 a 12 minutos de espera sem serem atendidos e com ordens de serviço a serem executadas em outros locais, os eletricistas foram embora, seguindo orientação da concessionária de serviço público. Antes, porém, ainda em cumprimento à determinação da empresa, elaboraram relatório comunicando que a portaria não liberou o acesso.



Salvo-conduto


Por orientação do advogado, os trabalhadores estão portando na carteira cópia do boletim de ocorrência. “Na eventualidade de alguma abordagem policial para averiguação ou até mesmo algum tipo de hostilidade por parte de outras pessoas, o BO pode servir como salvo-conduto”, justificou Leandro Weissmann.


“Fora o dano moral e o crime contra a honra, o que foi feito pode produzir consequências terríveis e irreparáveis. Não podemos nos esquecer da dona de casa morta por linchamento em Guarujá após uma fake news circular pelas redes sociais e ela ser confundida com uma mulher acusada de praticar magia negra com crianças”, declarou o advogado. Weissmann se referiu a Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, brutalmente assassinada na comunidade de Morrinhos, em 5 de maio de 2014.


Advogado Leandro Weismann
Advogado Leandro Weismann   Foto: Divulgação

Logo A Tribuna
Newsletter