Na Serra, um pedaço da Mata Atlântica

Serra do Mar, que recorta todos os municípios da Baixada Santista, é a maior faixa contínua de uma das maiores florestas do mundo

Por: Da Redação  -  06/07/20  -  00:48
As organizações dizem que o pleito do governo federal
As organizações dizem que o pleito do governo federal "pode causar danos irreversíveis para o bioma"   Foto: MARCOS PIFFER/ESPECIAL PARA A TRIBUNA

Criado em 1977 e ampliado em 2010, o Parque Estadual da Serra do Mar é a maior Unidade de Conservação de toda a Mata Atlântica.


Seus 332 mil hectares protegem 25 municípios paulistas, conectando as florestas da Serra do Mar desde o Rio de Janeiro e Vale do Ribeira, até o litoral sul de São Paulo. O parque estadual é, também, o maior corredor biológico contínuo de Mata Atlântica. 


“Todos falam muito da Floresta Amazônica, que é importante sem dúvida alguma, mas a Mata Atlântica também vem perdendo muito de sua cobertura verde e é preciso que as atenções também se voltem para esse pedaço de floresta do Brasil, uma das maiores do mundo”, diz o diretor de políticas públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, Mario Mantovani.


A fundação divulgou, há duas semanas, o mais recente relatório de desflorestamento da Mata Atlântica, abrangendo 17 estado brasileiros, do Rio Grande do Sul ao Tocantins. Após dois períodos consecutivos de queda, aumentou o desmatamento. Foram desflorestados entre 2018 e 2019 um total de 14.502 hectares – um crescimento de 27,2% se comparado com o período anterior (2017-2018), que foi de 11.399 hectares. Hoje, restam apenas 12,4% da mata nativa.


As informações são do Atlas da Mata Atlântica, uma iniciativa da Fundação e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) realizada desde 1989. Mais uma vez o estado campeão de desmatamento foi Minas Gerais, que teve uma perda de quase 5.000 hectares de floresta nativa. 


A Bahia ficou em segundo lugar, com 3.532 hectares, seguido pelo Paraná, com 2.767 hectares. Os três líderes do ranking tiveram aumento de desflorestamento de 47%, 78% e 35% respectivamente, ao comparar com o período anterior. Já o quarto e quinto lugares da lista, Piauí e Santa Catarina, tiveram redução do desflorestamento em relação ao período 2017-1018 de 26% e 22%. Piauí somou 1.558 hectares desmatados e Santa Catarina 710 hectares.


O Mapa realizado pela fundação anualmente serve para identificar os pontos de maior vulnerabilidade e maior desmatamento. Porém, a Fundação SOS Mata Atlântica tem observado que, em alguns estados, os locais que já haviam sido identificados em mapas anteriores como pontos de atenção continuam sendo desflorestados.


São Paulo


Os estados com desmatamento zero são Alagoas, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e São Paulo.


Mas Mario Mantovani explica que, embora a tecnologia utilizada pelo Inpe seja uma das mais modernas do mundo, em alguns desses casos de desflorestamento zero podem estar ocorrendo ações pequenas, que só uma atuação no local é capaz de identificar.


Serra do mar


O diretor da SOS Mata Atlântica pondera que a supressão da mata tem diferentes razões em cada um dos estados brasileiros.


Na Bahia, por exemplo, pode estar relacionada à atividade agropecuária. No Paraná, à extração do carvão vegetal.
Em Minas Gerais, a supressão pode ter relação com a derrubada de mata nativa para o plantio de eucaliptos e à produção do ferro-gusa, que precisa da queima do carvão vegetal em grandes fornos.


Também está incluída entre as ameaças à mata, especialmente em estados como São Paulo, a expansão urbana para a construção de moradias e empreendimentos, com destaque para as regiões metropolitanas. 


Além disso, a favelização e a ocupação irregular de áreas protegidas também são ameaças constantes à descaracterização da floresta, como aconteceu na Serra do Mar durante décadas.


“O programa desenvolvido pelo Estado na desocupação dos bairros-cota e recomposição do verde foram ações importantes. Mostraram que é possível resolver o problema, mesmo com a mata original bastante comprometida. Mas é preciso garantir que outras ocupações não voltem a acontecer”, diz.


Passa a boiada


Mario Mantovani, que atua na Fundação há quase três décadas, acredita que o aumento do desflorestamento verificado entre 2018 e 2019 também tenha relação com a política do “liberou geral” na área ambiental, promovida pelo atual ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.


Ele cita a reunião ministerial do dia 22 de abril, em que o ministro disse ao presidente Jair Bolsonaro que a pandemia do coronavírus era a oportunidade para “ir passando a boiada”, referindo-se a mudanças na legislação e autorizações que flexibilizem as regras ambientais no País. “Nós já estávamos em um ritmo de queda nos índices de desmatamento, mas esse clima instalado pelo atual governo coloca tudo a perder”, diz o diretor.


Campanha


Nos próximos meses, a Fundação SOS Mata Atlântica vai divulgar o comparativo 2018-2019 por município coberto pela floresta. 


Preocupada com os níveis de desflorestamento da mata, a fundação vem desenvolvendo várias ações junto a comunidades locais, entidades e o próprio Ministério Público.


Também retomou, recentemente, o mesmo foco da campanha dos anos 90 (Estão tirando o verde da nossa terra).


Entre os objetivos da campanha, o da manutenção da Lei da Mata Atlântica, instituída em 2006, e que garante a proteção da mata em todos os seus artigos. Um despacho do Ministério do Meio Ambiente, de abril passado, recomenda aos órgãos ambientais que desconsiderem a lei e apliquem as regras mais brandas do Código Florestal. O tema está no Supremo Tribunal Federal.


A Fundação criou em sua página na internet (www.sosma.org.br) um manifesto para que as pessoas assinem pela manutenção e aplicação da lei.


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