Baleia, golfinhos e pinguins: Biólogo explica aparecimento de animais nas praias da Baixada Santista

Região é considerada ‘hotspot’ de biodiversidade por especialista

Por: Marcela Ferreira  -  03/08/20  -  18:16
Tubarão-baleia, espécie ameaçada de extinção, foi avistado em Ilhabela
Tubarão-baleia, espécie ameaçada de extinção, foi avistado em Ilhabela   Foto: Divulgação

O recente aparecimento de diversas espécies de animais marinhos como pinguins, lobos-marinhos, baleia jubarte, tartarugas, raias-manta e até golfinhos na Baixada Santista tem gerado curiosidade. Apenas em Praia Grande, a Guarda Costeira já contabilizou 86 resgates de animais marinhos neste ano.


No último mês, houve uma grande concentração de animais em rota migratória na Baixada Santista, o que fez com que alguns deles aparecessem nas praias, vivos ou mortos. A agitação do mar, mais intensa durante o inverno, também pode explicar a aparição das espécies. O biólogo marinho Eric Comin explica que a região é de grande biodiversidade marinha, um ‘hotspot’, especialmente no Litoral Norte, em Ilhabela, e Litoral Sul, na área de Itanhaém e Peruíbe.


Grupo de golfinhos foi visto na região do Porto de Santos
Grupo de golfinhos foi visto na região do Porto de Santos   Foto: Reprodução

“Aquela região onde nós temos diversas ilhas, ali próximo de Itanhaém e Cananéia, é uma área que foi considerada um verdadeiro berçário marinho, um lugar onde a gente tem uma grande biodiversidade de espécies, principalmente tubarões”, conta. Dessa forma, o aparecimento de algumas espécies pode não ser novidade.


Já em Ilhabela, há grande incidência de tubarões-baleia e raias-manta, também avistados nas últimas semanas. “Essas áreas são de relevante interesse ecológico, então elas são reconhecidas pela biodiversidade, não apenas pelo número de espécies, mas pelas próprias espécies que já estão ali”.


Baleia jubarte


Animal tem mais de oito metros de extensão e apresentava marcas de redes de pescas
Animal tem mais de oito metros de extensão e apresentava marcas de redes de pescas   Foto: Divulgação/ Instituto Biopesca

Uma baleia jubarte encontrada morta em Praia Grande na última semana de julho deixou munícipes intrigados. O animal, que chama atenção pelo tamanho, provavelmente estava a caminho de Abrolhos, na Bahia, mas acabou não resistindo, de acordo com Eric Comin. “Nós estamos numa rota de migração. Estima-se que até 9 mil baleias cheguem ao litoral brasileiro para se reproduzir. Aqui a gente tem uma água mais quente, um mar mais calmo para elas parirem os filhotes e amamentarem, é mais tranquilo”.


Pinguins


Pinguim-de-Magalhães foi resgatado em Praia Grande durante rota migratória
Pinguim-de-Magalhães foi resgatado em Praia Grande durante rota migratória   Foto: Divulgação/Prefeitura de Praia Grande

Os pinguins, avistados em Praia Grande e Bertioga, também estão em rota migratória. A aparição deles já é mais comum, e chega a ocorrer quase todo ano na Baixada Santista. “Algumas aves estão em um estado de exaustão, cansados, com fome, abaixo do peso normal, então eles acabam sendo resgatados nas praias. Mas eles vêm para cá por causa das correntes marinhas, por isso acabam sendo encontrados”, explica o biólogo.


Lobo-marinho


Lobo-marinho visto em Praia Grande foi resgatado e encaminhado para tratamento
Lobo-marinho visto em Praia Grande foi resgatado e encaminhado para tratamento   Foto: Divulgação/Prefeitura de Praia Grande

Em Peruíbe e em Praia Grande, lobos-marinhos foram avistados no último mês. Em Praia Grande, o animal precisou ser resgatado e passar por reabilitação. Já em Peruíbe, o lobo-marinho estava apenas "descansando" em uma pedra. “Com as ressacas que tivemos, eles podem ter se perdido de um grupo. Não é algo raro de acontecer, mas também não é comum. A recomendação é não chegar perto e acionar as autoridades”.


Tartarugas


Tartaruga verde foi resgatada por canoístas em Bertioga
Tartaruga verde foi resgatada por canoístas em Bertioga   Foto: Divulgação/Prefeitura de Bertioga

Mais comuns no decorrer do ano, algumas tartarugas também foram avistadas em Santos e Bertioga. “A tartaruga verde que apareceu em Santos apresentava fribropapilomatose na região das nadadeiras, que é uma doença caracterizada por múltiplos tumores na pele, que pode afetar os órgãos internos do animal. Esses tumores são benignos, mas podem de alguma forma atrapalhar a visão, a natação e a alimentação. Estudos ligam esses tumores a um vírus que pode estar relacionado a ambientes poluídos”, explica Comin.


“No caso de algum tipo de avistamento da tartaruga nas praias, a recomendação é manter o animal na água, e que os banhistas acionem os órgãos ambientais responsáveis. Isso é importante para evitar estresse”, orienta.


Preservação


Como a cidade de Ilhabela é considerada um ‘hotspot’ de biodiversidade, Eric Comin alerta para a questão da preservação e do impacto de atividades como a pesca industrial, além da saúde dos animais marinhos.


“Eu acho importante falar dessa questão, as tartarugas, por exemplo, têm problemas de saúde por conta da poluição da água, e as aves marinhas costumam ter lixo no trato digestório. Tem que se criar uma estratégia de conservação, procurar proteger essa área, investir em conservação e educação ambiental de uma forma significativa, para que essas populações não sumam desses lugares”, finaliza.


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