Se há um setor da economia que esfrega as mãos esperando a chegada de 2021 é a indústria. Isso porque os indicadores mostram que o segmento pode, sim, ficar bastante otimista com relação aos próximos 365 dias. As previsões apontam para um considerável crescimento e os últimos meses de 2020 oferecem uma base sólida para essas projeções.
Tudo começa pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que estima uma elevação de 4% no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2021. O PIB é a soma de todas as riquezas produzidas pelo país. A previsão da CNI para o PIB da indústria no próximo ano é de um crescimento de 4,4%. Mas não acaba aí. As projeções da entidade mostram ainda que a economia brasileira chegará ao dia 31 de dezembro com uma retração de 4,3% e o PIB da indústria apresentará uma redução e 3,5%.
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Esse otimismo, de acordo com a CNI, tem razão de existir, principalmente quando entra em ação o chamado carregamento estatístico, ou seja, uma parte considerável do crescimento do PIB previsto para o ano que chega está fincada na base de comparação. A CNI afirma que a recuperação do setor em 2020 aconteceu de forma bem mais rápida que o inicialmente previsto, tanto que o ano chegará ao fim com um volume de produção acima da média. A entidade acredita que, ainda que uma catástrofe aconteça e a economia do Brasil simplesmente pare de crescer, ainda assim o PIB de 2021 será 3% maior que o de 2020.
Crescimento em "V"
Idealize o que é necessário para contornar uma letra V. Com o lápis, caneta ou qualquer objeto próprio para escrita você vai para a parte de baixo da folha e, na sequência, retoma a ascensão e ao patamar onde estava. É mais ou menos isso que vem acontecendo com a indústria, como revela o assessor para Assuntos Estratégicos do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), André Rebelo.
"A indústria vive um crescimento em 'V', quer dizer: estava em um patamar, enfrentou um momento de baixa e hoje atravessa uma fase de franca recuperação e essa retomada será ainda maior quando houver a plena vacinação contra a Covid-19, pois os serviços também terão uma grande recuperação. Tanto a indústria quanto o varejo vivem essa ascensão".
Quem pegou carona nesse crescimento e também entrou em uma fase de recuperação avançada foi a oferta de empregos. De acordo com Rebelo, o volume de empregados hoje, no Brasil, é superior ao registrado em dezembro de 2019. O fato curioso dentro dessa questão é que, no período citado como termo de comparação, a pandemia ainda não havia se alastrado pelo mundo e o fechamento de vagas tão propagado em 2020 ainda não era uma realidade no Brasil.
"No mercado com carteira assinada, entre março e junho deste ano, foram fechados 1,6 milhão de postos. Entre julho e outubro houve a recriação de 1,1 milhão de vagas. Só a indústria, com a retomada das atividades, criou 80 mil postos de trabalho".
Confiança
Para André Rebelo, tudo isso foi possível a partir do resultado da mistura de diversos fatores. Um deles partiu dos bancos, com a abertura de um crédito especial para empresas que somou R$ 140 bilhões. O segundo ponto foi a criação do auxílio emergencial pelo Governo Federal, que injetou R$ 170 bilhões diretamente na economia do país. "Um terceiro ponto foi a manutenção de quase 10 milhões de postos de trabalho a partir das adaptações adotadas pelas empresas, como o home-office, por exemplo. Os colaboradores continuavam a trabalhar sem correr riscos de contaminação e a produtividade continuava. Tudo isso junto aumentou o poder de compra da população. E é por tudo isso que estamos esperando por esse crescimento de mais de 4% no PIB do Brasil".
Rebelo acredita que o momento é de também aguardar as ações do Governo com relação às contas públicas, porque as medidas podem influenciar no setor de um modo decisivo. No entanto, ele crê ser possível o Brasil voltar aos patamares registrados antes do início da pandemia.
"O Brasil vinha na retomada econômica com uma certa acomodação, mas dezembro, janeiro e fevereiro prometiam uma retomada forte. Podemos atingir esses níveis novamente".