Financiamento imobiliário soma quase R$ 1 bilhão na Baixada Santista

Crédito da casa própria cresce 35% na região; mutuários ignoram crise e aproveitam preços atraentes para fechar negócio

Por: Júnior Batista & Da Redação &  -  27/07/20  -  00:00
Em Santos, carnês começarão a ser enviados pela Administração Municipal no próximo mês
Em Santos, carnês começarão a ser enviados pela Administração Municipal no próximo mês   Foto: Sílvio Luiz

O financiamento imobiliário ignorou a pandemia e acelerou no primeiro semestre, na comparação com igual período do ano passado. Segundo levantamento da Caixa para A Tribuna, a contratação na Baixada Santista e Vale do Ribeira atingiu R$ 993 milhões, uma alta de 35,4% sobre os R$ 733 milhões de janeiro a junho de 2019. 


Os dados se referem a duas fontes de recursos. No caso dos empréstimos financiados pelo Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que tem juros mais baixos, o desempenho praticamente dobrou. No semestre passado, foram contratados R$ 463 milhões, alta de 94,5% sobre R$ 238 milhões em igual período do ano passado.


Já os valores financiados com recursos da poupança (SBPE – Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo) atingiram R$ 530 milhões no semestre passado, com alta de 7% frente aos 495 milhões do igual intervalo no ano passado. 


Os resultados também impressionam em relação ao número de moradias financiadas na Baixada e Vale do Ribeira. No primeiro semestre, o total de unidades contratada foi de 6.350, um aumento de 21.2% sobre as 5.239 de janeiro a junho de 2019. 


A alta dos financiamentos na região em meio à pandemia segue a mesma tendência no Brasil e no Estado. No País, houve aumento de 19,3% das unidades financiadas. Em São Paulo a alta foi de 16,5%. 


Com relação aos valores financiados pela poupança houve aumento de 23,2% no Brasil e de 21,3% no Estado. 


A Caixa concentra 60% do financiamento habitacional no País. Procurados, Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Santander e Bradesco não divulgaram dados. 


Juros e preços em queda


Para a economista Karla Simionato, uma das explicações para esse avanço do crédito imobiliário é que os preços dos imóveis caíram, assim como as taxas de juros, e há melhores condições de contratação. “O momento é propício por conta dos valores dos imóveis”.


No ano passado a Caixa lançou nova linha corrigida pelo índice oficial de inflação do governo, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).


Recentemente, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, disse que intensificará as linhas do chamado home equity, onde se usa um imóvel como garantia para ter juros menores.


Karla explica que na Baixada, devido ao segmento da temporada, muitos imóveis não são a principal moradia do proprietário, exceto em Santos. “Nessas cidades, o imóvel é a segunda casa. Se a pessoa está em necessidades financeiras, ela vende. E vende com valores mais baixos por conta da crise”, diz.


O corretor imobiliário José Luiz Trevisan, de 50 anos, fez o financiamento de um apartamento de 90 m² em Santos no começo do ano, antes da disseminação do coronavírus.


O imóvel custava R$ 380 mil e ele financiou R$ 130 mil pela linha do SBPE. “As pessoas estão comprando mais, percebo isso com meus clientes. A melhora das linhas de financiamento ajudaram a dar esse empurrão”.


Trevisan diz que os imóveis da Baixada, exceto em Santos, estão com valores mais atrativos que no ano passado.


São Vicente


O servidor público Sérgio da Silva, de 50 anos, aproveitou o período para comprar sua parte de um imóvel em São Vicente após uma separação. 


O apartamento de 70 m² fica no Centro de São Vicente e foi avaliado em R$ 230 mil. Ele financiou R$ 115 mil pelo FGTS. “Ele estava à venda, mas não tinha procura. Antes da pandemia, no ano passado, duas pessoas foram visitar. Resolvi eu mesmo ficar lá”.



Para setor imobiliário, juros e bancos estimulam vendas
 


Conjunção de fatores positivos garante sobrevivência e até expansão durante pandemia



Para o diretor regional do Secovi (sindicato das empresas de compra e venda de imóveis) em Santos, Carlos Meschini, o preço dos imóveis não mudou muito por conta da pandemia. 


Ele credita esse movimento de aumento às negociações feitas entre as instituições bancárias e os tomadores de empréstimos, além de condições de financiamento que mudaram desde o ano passado. 


“Os juros baixaram, sim, mas houve mais vontade dos bancos em emprestar, até mesmo para competirem com a Caixa, que mantém a liderança na fatia de empréstimos para a pessoa física”,afirma ele.


Segundo o superintendente de Rede do Litoral Paulista e Vale da Caixa, Sidney Soares Filho, o crescimento do crédito imobiliário se deve à queda dos juros associada aos contratos com recursos da poupança corrigidos pelo IPCA. Essa linha reduziu ainda mais as taxas.


“A construção civil apresentou novos produtos mais adequados ao cenário (da pandemia)”, diz Soares.


Segundo Meschini, o País está longe de um longo crescimento, mas os números nacionais e estaduais refletem na região, ainda que de maneira tímida. 


A economista Karla Simionato acredita que este movimento deve diminuir. “É um crescimento que parece expressivo, mas ainda reflete uma atitude pontual. Acredito que no segundo semestre não veremos altas tão expressivas quanto agora”.
 


Logo A Tribuna
Newsletter