As pessoas com mais de 50 costumam reunir, pela experiência de vida, características necessárias para comandar bem um negócio. Pesquisa feita pelo Sebrae no final do ano passado, em todo o Brasil, mostra que a maioria dos que pretendem empreender após a aposentadoria já têm em mente o ramo de atuação e investem em planejamento.
Consultora do Sebrae SP, Patrícia Ovalle explica que o empreendedor mais velho tem amplo conhecimento de vários assuntos e quando enxerga uma oportunidade sai em busca de mais informações para aprofundamento. Esse é o grande diferencial da Terceira Idade quando se fala em iniciar um negócio.
“Essa pessoa gasta o tempo necessário no planejamento, antes da abertura da empresa. Não vai enxergar um problema só depois de aberta. Os idosos têm grande parte das características que a gente enxerga nos empreendedores de sucesso: busca de informação, rede de contatos, persuasão e qualidade no produto ou serviço que vai ofertar”, detalha Patrícia.
Potencial maior
O idoso não chega ao Sebrae com muitas ideias, ele já vem com um filtro prévio e quer escutar conselhos. Temo perfil de comprometimento e faz tudo o que é pedido para colocar seu negócio em prática, diferentemente dos mais jovens, que costumam falhar na lição de casa. Ainda assim, o número de pessoas mais velhas que empreendem é muito baixo.
“Muitos enxergam uma oportunidade, mas têm medo de expressar sua ideia. Falta a iniciativa, dar o primeiro passo. Às vezes, a família reprime um pouco e questiona: para que ele vai arrumar mais uma cosia, se já fez tanto? Isso retrai esse público”, afirma a consultora do Sebrae-SP.
Patrícia pontua que é possível obter linhas de financiamento para determinados projetos. “Geralmente, o idoso coloca o seu recurso guardado, ou aquilo que recebeu de aposentadoria, de um processo de demissão. Coloca todo seu dinheiro para realizar um sonho. Então, é preciso analisar e ver se é o momento certo para fazer isso”.
O Sebrae lançou a trilha para o empreendedor maduro. Ela inclui passos necessários, como formalização, modelagem de negócio, gestão financeira, planejamento e marketing digital. O interessado tem mais informações no site, onde também é possível ver os endereços das unidades mais próximas.
Hoje, o Sebrae-SP já tem parceria com três universidades de Santos para levar o empreendedorismo aos jovens. A ideia, agora, é trabalhar nos cursos destinados à Terceira Idade.
Maturidade agrega no trabalho
A experiência de vida é o maior diferencial positivo em idosos em busca de recolocação no mercado de trabalho. Porém, isso não basta: eles precisam estar atualizados com as novas tecnologias, abertos a aprender com os mais jovens e, muitas vezes, dar um passo atrás, inclusive no salário.
“Mas devem se valorizar também, sabendo das suas competências. A experiência de vida dá uma bagagem importante e as empresas precisam disso. Muitas passaram por um processo de juniorização muito grande por causa da crise, do corte de custos e hoje está faltando essa experiência, esse equilíbrio”, ressalta Morris Litvak, fundador da MaturiJobs, uma plataforma on-line que faz a conexão entre quem tem mais de 50 anos e busca trabalho com as empresas.
Litvak explica que o comprometimento das pessoas mais velhas com o trabalho é muito mais acentuado do que entre os jovens. “As empresas têm buscado profissionais maduros para áreas de atendimento a clientes e vendas. As pessoas mais velhas têm mais calma para lidar com o público, são mais atenciosas, pacientes. Além disso, transmitem credibilidade”.
Segundo ele, o comércio é um dos setores que mais empregam atualmente essa faixa etária. E um nicho importante é o de empresas que possuem produtos ou serviços voltados à Terceira Idade. Obviamente há preferência por trabalhadores mais velhos, até porque cria um empatia natural com seus públicos.
Tecnologia e preconceito
Capacitação tecnológica é o maior gargalo hoje para idosos que procuram trabalho. O problema está principalmente na cabeça: embora seja completamente possível a aprendizagem, muitos acham que não conseguirão se adaptar. “Hoje é tudo mais fácil, intuitivo. As pessoas precisam perder o medo, abraçar a tecnologia e entender que ela é uma aliada, não uma barreira”.
O responsável pela MaturiJobs afirma que há, sim, preconceito com os mais velhos no mercado. Para ele, é necessário quebrar mitos, vencer medos e esclarecer dúvidas.
“São coisas do tipo: será que o mais velho está aberto para aprender? Para ser gerido pelo mais jovem? Vai ser agilizado? As empresas generalizam e não contratam. Ainda é comum, tem que mudar essa cultura do jovem”.