'Comportamento pesa de 70% a 80% em um processo seletivo hoje', diz Fábio Sartori

Em entrevista para A Tribuna, consultor comenta sobre questões importantes para o mercado de trabalho

Por: Sandro Thadeu & Da Redação &  -  20/05/19  -  21:33
Fábio é diretor da Sartori Desenvolvimento Humano e Organizacional e consultor de Recursos Humanos
Fábio é diretor da Sartori Desenvolvimento Humano e Organizacional e consultor de Recursos Humanos   Foto: Irandy Ribas

Em um momento de crise econômica do país, o surgimento de oportunidades de trabalho tende a diminuir. Por esse motivo, quando aparece a chance de uma entrevista, o profissional precisa estar preparado. O diretor da empresa Sartori Desenvolvimento Humano e Organizacional e consultor de Recursos Humanos, Fábio Sartori, dá dicas importantes para quem busca um lugar no mercado e faz alertas importantes para quem busca desafios, como mudar de área. Confira os principais trechos da entrevista que concedeu para A Tribuna:


Nos dias atuais, o que é preciso para ser considerado um bom profissional?


Vivemos em um mundo “vulca”, um termo inglês que, em português, seria “vica” (volátil, incerto, complexo e ambíguo), ou seja, tudo que funcionava antes, não funciona mais hoje: os táxis eram soberanos, e o Uber quebrou essa hegemonia. O mesmo aconteceu com o serviço da telefonia com a chegada do WhatsApp. Com isso, nós, enquanto seres humanos, estamos em um mundo que muda a cada cinco anos. E nós precisamos desenvolver novas competências a cada cinco anos para continuarmos sendo competitivos. Caso contrário, seremos ultrapassados. Para um profissional seguir competitivo, não adianta mais a faculdade que fez. O que importa é o quanto ele está se desenvolvendo no momento.


Quais são os requisitos buscados pelos recrutadores na hora da contratação?


Algumas características são levadas em consideração, como proatividade, porque as empresas estão fazendo mais com menos; foco no resultado; e intraempreendedorismo (empreender dentro da empresa onde está). Essas competências reunidas dão muitas outras de que a pessoa precisa para entregar bons resultados, como iniciativa e atitude. Nos momentos de crise, as pessoas se retraem, mas é aí que elas precisam se desenvolver.


Na avaliação do recrutador, o que é mais importante: ter alguém com uma variedade muito grande de cursos ou planejar sua formação para um determinado segmento?


As pessoas normalmente fazem o que elas acham que deve ser feito e não procuram o apoio de um profissional especialista, de alguém que está de outro lado da mesa, para dar uma orientação profissional. Se a pessoa fizer faculdades e especializações que vai aproveitar dentro da área que atua, isso é positivo. Agora, se ela atua no Departamento de Recursos Humanos e faz Educação Física, por exemplo, isso vai soar como alguém que não tem foco.


O recrutador faz uma análise minuciosa das redes sociais?


Ele olha, mas as pessoas confundem como é feita a análise. Elas acreditam que o recrutador se importa com a pessoa com um copo de cerveja na mão, mas não é isso. Todos têm fim de semana e momentos de lazer com os amigos. O que importa é o interesse que a pessoa tem. Por exemplo: não fica bem ele observar que o candidato participa de comunidades, páginas e grupo ou posta mensagens do tipo “eu odeio o meu chefe”, “odeio acordar cedo” ou “não vejo a hora do final de semana”.


A entrevista é um momento importante e tenso ao mesmo tempo. Aos olhos do recrutador, a postura e o comportamento nessa hora pesam bastante?


Sim, com certeza. Quando a pessoa vai à entrevista, ele já sabe se a pessoa seguirá no processo seletivo por ter feito um bom bate-papo por telefone e já conhecer o perfil. Os dois segundos iniciais, que são o momento de abrir a porta da sala e cumprimentar o recrutador, são os mais importantes de uma entrevista. Ali, o recrutador já sabe como vai desenrolar o bate-papo presencial. Vai contar a postura, aperto de mão, fisiologia e, principalmente, como o candidato estruturou o bate-papo. A pior entrevista é aquela de pergunta-resposta, onde o candidato é muito sucinto ao falar.


Quem é tímido não sai prejudicado?


Não, porque o recrutador tem essa sensibilidade e precisa reconhecer que a pessoa está nervosa. O recrutador vai dar a oportunidade para ele falar em dois momentos. O primeiro deles é ao falar das experiências profissionais, o que exige um discurso alinhado. Entrevista é treino e deve ser baseada em suas verdades. Nessa hora, serão analisados experiência, linha de pensamento, raciocínio, a organização das ideias e a clareza da comunicação. O segundo momento é quando ele pergunta quem é você. Nesse momento, é a hora de conversar. A entrevista deve ser encarada como um bate-papo.


Até que ponto o lado comportamental pesa na hora da contratação?


O comportamento pesa de 70% a 80% em um processo seletivo hoje. Por exemplo: não sei o que determinada pessoa faz em uma empresa, mas se eu ficar lá por 30 dias, eu vou aprender. Mas, nesse mesmo período, a gente não muda um comportamento indesejável. As empresas preferem contratar profissionais que estão alinhados aos valores, missão e cultura delas e treinar o técnico. Por esse motivo, as pessoas começaram a entender o quanto é importante investir no autoconhecimento e no desenvolvimento de competências para ela continuar sendo competitiva.


O primeiro emprego é um dilema para muitos jovens. As empresas estão mais abertas para esse público?


Há muito espaço para quem está começando agora. Vejo muitos jovens errando ao ficarem preocupados em evidenciar uma referência que não têm. A empresa já sabe que ele não terá experiência. O jovem deve ter um discurso focado nas competências que tem para ocupar o cargo.


A ansiedade dos jovens e o desejo de crescer rapidamente nas empresas atrapalham?


Sim. Na nossa geração, tínhamos uma informação limitada e que era de qualidade. Hoje, eles têm informações variadas, boas e ruins, e há uma dificuldade para filtrar o que será bom. Isso causa uma certa impaciência e precipitação. Com isso, eles acabam tomando atitudes que não são tão bacanas. Por falta de maturidade profissional, perdem uma oportunidade de crescer. Por conta das frustrações, muitos jovens buscam mais a estabilidade do que o desafio, a aventura. Já perceberam que não vão sair da faculdade, criar uma startup e ficar milionários ou entrar em uma empresa e virar diretores em três anos.


Um dilema que muita gente enfrenta é quando sair da empresa. Quais elementos precisam ser avaliados para definir que chegou o momento de buscar outro caminho?


Se a pessoa perceber que está há três, quatro, cinco anos na mesma função e na mesma empresa, é hora de mudar o desafio, devido à dificuldade de ela evoluir na carreira ali. Se ficar sete anos na mesma empresa, é vista como acomodada. As pessoas trocam de empresa, principalmente, em busca de uma liderança imediata e não por questão salarial.


Quais dicas que o senhor dá para as pessoas de meia-idade que estavam há anos na mesma empresa e ficaram desempregadas?


Precisam se reinventar e fazer uma reflexão sobre até que ponto evoluem na carreira. Se acharem que estão bem atualizados, é só fazer o currículo e ir ao mercado. Se estão com dúvida e não sabem nem como participar de uma entrevista, procurem o auxílio de um profissional ou um programa de orientação de carreira para se preparar. Ele não vai dizer o que a pessoa falará em uma entrevista, mas ensinar o que é importante dizer em uma entrevista dentro da verdade dela.


A possibilidade de mudar de área é mais fácil atualmente?


Está mais fácil, mas exige um bom planejamento. As pessoas tendem a achar que sabem o caminho das pedras. Pela falta de planejamento estruturado, se frustram no caminho e já acham que não vai dar certo. Muitas vezes, não previram algumas etapas e não quiseram seguir.


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