Viver bem: Tire o peso do mundo das costas

Ajudar o próximo é importante, mas adotar problemas dos outros não faz bem ao corpo e à mente

Por: Tatiane Calixto  -  10/04/21  -  21:52
Não deixe de olhar para si, evitando o erro de carregar os problemas do mundo nas costas
Não deixe de olhar para si, evitando o erro de carregar os problemas do mundo nas costas   Foto: Montagem/Adobestock

“Em caso de despressurização, máscaras de oxigênio cairão automaticamente. Coloque a sua primeiro para em seguida ajudar quem precisa de auxílio”. A orientação dada antes dos aviões decolarem é também uma dica para a vida. Apesar da capacidade de se colocar no lugar do outro e a disponibilidade em ajudar serem fundamentais nas relações saudáveis, não deixe de olhar para si, evitando o erro de carregar os problemas do mundo nas costas.


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Conforme Leonardo Morelli, psicólogo e especialista em psicoterapia breve e hipnoterapia ericksoniana, nesses momentos difíceis que vivemos é quase impossível não se comover com a dor do outro, como a perda de parentes, de emprego ou mesmo o fato de pessoas estarem passando fome. “Isso tudo faz com que a gente se entristeça e tenha empatia pelo próximo. Se não tivermos esse sentimento, é bem provável que estejamos alheios a tudo que tem acontecido”.


A partir do momento que nos colocamos no lugar do outro, nós entendemos a realidade do próximo. Mas, segundo o psicólogo, apesar do entendimento e da empatia, não há sofrimento. Esse só existe, de fato, para quem vivência a situação.


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“Se passamos a sofrer, isso deixa de ser benéfico tanto para nós quanto para a outra pessoa, pois o sentimento passa a ser de dó. E a dó não faz com que a gente não ajude ninguém, pelo contrário. A gente coloca a pessoa no mesmo lugar onde ela se encontra: no sofrimento”.


Além disso, corre-se o risco de sentir dó de si mesmo por não conseguir fazer nada contra a situação. Para Morelli, existe um limite nessa história: se eu posso ajudar alguém e quero ajudar, eu vou, mas se eu não posso ajudar determinada pessoa, é preciso entender isso, ainda que haja empatia.


No caso da pandemia, por exemplo, o melhor é se concentrar no que é possível ser feito. A maioria não consegue salvar vidas que estão nos hospitais. Mas pode-se doar alimentos para famílias que estão precisando ou, se isso não for possível, utilizar constantemente a máscara de proteção facial e manter o distanciamento, colaborando com a diminuição da circulação do vírus.


Felicidade


Rosemeire Ferraz é psicóloga, coordenadora de projetos do Centro Paula Souza (CPS) e colaborou com a formatação do curso livre da instituição sobre felicidade. Segundo ela, comover-se com a dor alheia é sinal de humanidade, pois conseguimos “supor” a dor do outro. Todavia, além de passar dos limites na tentativa de ajudar, há um outro risco que merece atenção.
“Pode se tornar um fardo por pensar, constantemente, que em breve o problema poderá acontecer com você, criando em si um grande medo que pode se tornar ansiedade. Isso é algo que tem acontecido com muitos de nós nessa pandemia”, avalia.
Por isso, aconselha a psicóloga, é preciso ter em mente que, por mais que possamos supor a dor do outro e ajudá-lo, não se pode esquecer de si. “Ajude seus amigos e familiares sempre que possível, mas priorize sua saúde e de sua família. Nunca deixe de olhar para dentro de sua casa para ajudar os outros. Embora ajudar seja muito importante, você precisa se manter saudável física e emocionalmente”.


É importante, conforme Morelli, distinguir o que é meu e o que é do outro. Depois disso, entender se eu quero ou não fazer aquilo, se eu posso ou não, “porque se não consigo dizer não, tenho que pensar o que está acontecendo para que eu deixe de fazer o que quero para não magoar o outro”.


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