Viva o momento, registre a vida e mantenha o equilíbrio

Em vez de contemplar o pôr-do-sol você saca o celular e clica? Cuidado: é preciso equilíbrio

Por: Matheus Müller & Da Redação &  -  06/07/19  -  17:09
Cabe perguntar: você aproveita para contemplar o momento ou prefere clicar uma cena?
Cabe perguntar: você aproveita para contemplar o momento ou prefere clicar uma cena?   Foto: Lakruwan Wanniarachchi / AFP

A praticidade de usar o celular para eternizar momentos e as diversas redes sociais que permitem o compartilhamento de imagens e vídeos são um prato cheio para uma população cada vez mais integrada com a tecnologia. Assim, cabe perguntar: você aproveita para contemplar o momento ou prefere clicar uma cena? 


O brasileiro passa, em média, 4h21 por dia conectado em um dispositivo móvel, atrás apenas do tailandês, que fica 4h46. Os dados são do relatório de 2018 da plataforma de gerenciamento de redes sociais Hootsuite. 


A constante interação está muito atrelada às redes sociais e, segundo Renata Maransaldi, psicóloga que trabalha com transtornos do impulso, apesar de muitas pessoas tirarem fotos para guardar como lembrança, outras tantas “precisam fotografar tudo e mostrar para o mundo, como se fosse uma autoafirmação”. 


Ela ressalta que é preciso ficar atento para que não “se torne um vício”. “Existe a questão da dependência tecnológica, onde acabamos perdendo os momentos, as conversas e o contemplar”. 


Renata destaca algumas cenas comuns, como fotografar um drink ou prato de comida no restaurante e até mesmo paisagens. “É importante prestar atenção e estar presente a esses momentos e reduzir aos poucos o uso do celular”.


Visão e conhecimento


Apesar dos alertas feitos pela psicóloga, em muitos casos, como o dos fotógrafos, é muito difícil se distanciar da câmera, seja ela uma máquina profissional ou um aparelho celular.


O fotojornalista, Luiz Fernando Menezes afirma não perder um registro. “Sou fotógrafo e fotografo tudo do meu interesse, seja o lugar que for. Eu não deixo passar. Essa história de fotografar com o olhar não é comigo”. 


De acordo com Menezes, é fato que as pessoas têm feito mais imagens. A questão é se elas conhecem a história daquele objeto fotografado ou se aquela cena, que está na mira do celular, é algo realmente diferente. 


“Com o advento da fotografia mobile (por dispositivos móveis) você tem um estresse na imagem, com várias (versões) do mesmo local, como as fotos dos coqueiros do Gonzaga, da praia e do muro da Ponta da Praia. As pessoas querem demarcar território e mostrar onde estão. É uma autodivulgação”. 


Menezes conta ter criado um projeto com Monica Sobral, o Mobtwo, em que levam seis pessoas para uma vivência fotográfica em algum lugar com história, em Santos. 
“Temos a preocupação de que as pessoas fotografem e saibam o que estão fotografando, cria-se até uma alfabetização fotográfica”. 


Um tempo para fotografar


A fotojornalista de A Tribuna, Vanessa Rodrigues, conta que, mesmo quando está em viagem de férias, reserva alguns dias para registrar imagens com sua câmera profissional. Entretanto, mesmo quando não leva o equipamento, costuma estar com o celular. 


“Não fotografo demais. Registro um momento que considero único. Tem coisas com que não perco meu tempo, os lugares onde todos fotografam, como o quadro da Mona Lisa (de Leonardo da Vinci, no Museu do Louvre, em Paris), não me atraio por coisas muito fotografadas e conhecidas”. 


Na sala de aula, alunos gravam e fotografam


A professora universitária Carol Biscaia afirma que o celular está muito presente em sua dia a dia. Além de gostar de fazer fotos para mostrar a rotina, também permite que os alunos gravem suas explicações e anotações como base de estudo. 


“(Os estudantes) não escrevem mais, tiram fotos da lousa, dos slides, e alguns pedem para filmar a minha explicação. É algo inovador dentro da sala de aula, pois você é o tempo inteiro fotografada”.


Ao mesmo tempo que gosta e entende a necessidade de se registrar através dos mobiles, Carol conta ter passado esta semana por uma situação que a fez repensar o tempo de utilização do celular.


“Fui a um show e foi muito engraçado: não consegui enxergar o palco. Estavam todos filmando. É surreal. As pessoas deixam de aproveitar e curtir aquele momento, de ouvir o cantor. Para ver o vídeo depois, é muito melhor um DVD ou YouTube”.


Ela ressaltou ainda que as fotografias antigas, reveladas dos filmes, ela guarda até hoje, o mesmo não acontece com as dos celulares. “Por conta de HD externo corrompido ou por não saber o local onde as imagens foram salvas, você perde as fotos. Temos mais quantidade de fotos e menos contato com elas”.


A também professora Alessandra Troncia conta que sempre foi apaixonada por fotos, mesmo antes das redes sociais. Ela garante que reserva o mesmo tempo dos cliques para contemplar a paisagem. “Guardo memórias não só na mente. As fotos são uma forma de ter memórias pra vida”. 


Acesso à internet 


Das cerca de 7,6 bilhões de pessoas no mundo, 4 bilhões (53%) têm acesso à internet e 3,1 bilhões (42%) são usuários ativos de redes sociais, sendo que 2,9 bilhões (39%) usam as redes sociais pelos mobiles. 
Tempo conectado


O Brasil ocupa o terceiro lugar no mundo no uso de internet diário por habitante: são 9 horas e 14 minutos. Perde apenas para a Tailândia (9h38) e Filipinas (9h29). Se considerado apenas o acesso por dispositivos móveis, o País fica na segunda colocação, com 4h21, atrás da Tailândia com 4h46.


Redes sociais mais usadas


Facebook, Youtube, WhatsApp, Facebook Messenger, WeChat e Instagram estão entre as redes sociais mais usadas do mundo.


Instagram


Em junho de 2018, o Instagram chegou à marca de 1 bilhão de usuários e mais de 90 milhões de fotos publicadas no mês. O Brasil representa algo em torno de 5% desse público. A rede, inclusive, em pesquisa realizada pelo Social Media Trends, foi citada como a preferida do público em geral, com 47,1% dos votos. O Facebook ficou em segundo lugar, com 29,6%.


Facebook


A rede social fechou o ano passado com 2,3 bilhões de usuários, o que representa um crescimento de 130% em comparação a 2012, quando tinha 1 bilhão. No Brasil, são 127 milhões de cadastros no Facebook, um dos cinco maiores mercados para a companhia. Essa é também a plataforma mais usada pelas empresas brasileiras (98%), seguida pelo Instagram (27%).


Fontes: relatório da Hootsuite do We Are Social de 2018, site Statista e Social Media Trends.
 


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