Um problema sério chamado varizes

Parece simples, mas a doença pode causar complicações graves. Diagnóstico precoce facilita o tratamento e previne dificuldades

Por: Sheila Almeida & Da Redação &  -  29/06/20  -  00:11
Varizes podem ter complicações graves
Varizes podem ter complicações graves   Foto: Reprodução

Os períodos sem se movimentar e o ganho de peso - comuns nesse período de pandemia e home office – aumentam as chances de um problema de saúde que parece inofensivo, mas traz muitos riscos: as varizes. E quem teve a covid-19, mesmo após a alta, deve ficar atento a possíveis complicações, como a trombose. 


O presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), Bruno Naves. explica que varizes são veias dilatadas que não funcionam mais. Nem sempre causam sintomas, mas se isso ocorre, é algo fácil de identificar (veja infográfico). 


Segundo ele, há uma tendência familiar para que elas surjam. Mulheres são mais afetadas. Há um homem para cada cinco mulheres com o problema. Hormônios e anticoncepcionais contribuem e o ganho de peso também preocupa, diz o médico. “A gordura na barriga causa um a diferença na pressão entre tórax e abdômen, reduzindo a velocidade da circulação sanguínea”. 


A melhor prevenção é manter o peso, não fumar e praticar uma atividade física regular que fortaleça a musculatura da panturrilha. Para evitar horas de imobilização durante o trabalho, o ideal é se exercitar por dez minutos a cada hora. 


O que acontece 


Varizes não tratadas podem evoluir para vários outros problemas. Um deles é a varicorragia, hemorragia espontânea das varizes que pode levar à morte, pois não para de sangrar enquanto o paciente não se deitar, elevar as pernas e tampar o ferimento com um pano limpo.


O mais conhecido mal, a trombose – que internou a cantora Anitta na última quinta-feira - também pode ocorrer por varizes não tratadas. Trata-se da formação de um coágulo na veia, que pode ficar parado ou ir para outros órgãos como o pulmão, causando embolia pulmonar.


Trombose e Coronavírus 


O diretor nacional da SBACV, Marcelo Calil Burihan, conta que estudos internacionais mostraram que, na China, 70% dos pacientes internados por covid-19 tiveram um coágulo. Na Holanda, 20%.


“Sabe quantas pessoas morrem de trombose e embolia, por ano, nos Estados Unidos? Em torno de 200 mil. Na União Europeia, 450 mil. No Brasil, o dado subestimado aponta 120 mil pessoas ao ano. Sem a covid-19, a trombose já acomete por ano em torno de dez milhões de pessoas no Ocidente. A gente precisa atentar”. 


O médico aponta que pacientes que tiveram covid-19 e notaram algum sintoma de problema vascular devem procurar especialista. “Quando a pessoa tem alta, há necessidade de estender a prevenção medicamentosa com anticoagulantes entre sete e 14 dias subsequentes”. 


Quando ir ao médico


Matheus Mozini Cavichioli, médico vascular e endovascular do Hospital Albert Sabin, de São Paulo, alerta que não é preciso esperar pelos sintomas para procurar um especialista, caso haja casos na família. Na idade adulta, todos devem se cuidar. 


“Varizes não são só problema de idoso. Brasileiro tem mania de procurar ajuda quando está num caso avançado. O diagnóstico precoce auxilia no tratamento e não deixa evoluir para casos mais graves. A idade é subjetiva. A partir dos 18 anos eu já orientaria a procurar um médico”.


Grávidas têm risco maior; ações simples diminuem as dores


Por conta do aumento dos níveis hormonais, grávidas são mais suscetíveis a sofrer com o aparecimento ou a piora das varizes. O risco é ainda maior caso não seja o primeiro bebê.


Segundo o cirurgião vascular, professor da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), Matheus Bertanha, apesar de o aumento dos níveis hormonais ser excelente à gravidez, para o sistema venoso acarreta na dilatação das veias.


“Elas ficam mais complacentes e volumosas. Aumentam com decorrer da gestação e causam inchaço, cansaço, dor tipo peso, vasinhos e veias aparentes (varicosas ou não) e sensação de queimação nas pernas”. 


O especialista pontua, ainda, que a partir do sexto mês, com o crescimento do bebê e a extensão abdominal, o retorno do sangue pelas veias ao coração fica prejudicado na gestante.


Dessa forma, o útero pode comprimir a veia cava e intensificar inchaço e dor. Mulheres com o histórico de trombos e abortos repetidos devem ser avaliadas de perto, para o bem da saúde da mãe e do bebê.


“É importante que a gestante entenda que os tratamentos definitivos para os vasinhos e varizes devem esperar a gestação terminar”. 


Bertanha explica ainda que, em muitos casos, é feita a prevenção com medicamentos específicos, comprovadamente seguros para o feto.


A angiologista e cirurgiã vascular Bruna Naves Vaz de Oliveira dá dicas para as mamães que estão com o problema reduzirem sintomas como inchaço e dor. 


Entre elas, o lembrete para beber de dois a três litros de água por dia, caminhar por 30 minutos diariamente, deitar com as pernas elevadas por 20 minutos e três vezes ao dia, receber massagem dos pés em direção aos joelhos e usar meias compressivas, caso indicado por um médico.


Mais risco


Com a quarentena, mais gente tem ficado sem atividades físicas - o que facilita o aparecimento do problema. Estudos internacionais já indicaram que pacientes que testaram positivo para covid-19 tiveram risco aumentado para a formação de coágulos, por uma série de alterações na circulação sanguínea - o que pode levar a casos de trombose.


O que são varizes?


Veias dilatadas, tortuosas e de calibre aumentado que podem aparecer em diversas regiões do corpo. O mais comum é nas pernas. Indicam que algo não vai bem na circulação do sangue venoso pelo organismo.


Os sintomas são: veias azuladas e muito visíveis abaixo da pele; grupo de finos vasos avermelhados; queimação nas pernas e planta dos pés; inchaço especialmente nos tornozelos ao final do dia; coceira, sensação de cansaço ou peso nas pernas e pernas inquietas ou câimbras.


Elas aparecem porque o sangue desce facilmente do coração às pernas e aos pés, pelas artérias. No caminho de volta, precisa do trabalho de válvulas venosas que abrem e fecham para auxiliar o bombeamento. Com a idade e fatores hereditários, as veias podem perder a sua elasticidade e as válvulas não trabalharem bem. A partir dai o sangue retorna, dilatando as veias e deformando-as.
 


Logo A Tribuna
Newsletter